quinta-feira, 31 de julho de 2025

A TECELÃ INVISÍVEL - POEMA DE ALBERTO ARAÚJO

Muitas vezes, a poesia me parece algo distante, um segredo guardado em livros antigos ou em mentes brilhantes. Tentamos defini-la, encaixá-la em palavras, mas ela escapa, escorrendo por entre nossos dedos como areia fina. A verdade, no entanto, é que a poesia não é um mistério inalcançável, mas o pulsar silencioso que anima a nossa alma. Ela se manifesta nos detalhes mais simples, na beleza escondida do cotidiano, na ressonância de uma emoção. Para mim, a poesia é a tecelã invisível que, com fios de memória e de sonhos, constrói a colcha onde a nossa própria existência se aninha.

 

A poesia não mora em livros empoeirados,

nem em versos que se curvam a regras antigas.

Não é sombra na parede, nem eco calado,

mas a trama que a vida, em si, instiga.

 

Ela é a pele do dia, o orvalho na grama,

o grito surdo da alma que se desanuvia.

É a canção que o vento nos galhos derrama,

o silêncio da noite que em estrelas se fia.

 

Poesia é o andar do tempo sobre as calçadas,

o riso que explode, sem razão, no meio da praça.

É a lágrima contida, as promessas caladas,

o instante em que a dor se transmuta em graça.

 

Não é um manual, nem um roteiro traçado,

mas a bússola cega que o coração desvenda.

É o cheiro da chuva no asfalto molhado,

o nó que se desfaz e a ferida que emenda.

 

Ela nasce no barro, no suor que escorre,

no corpo cansado que a esperança abraça.

No olhar que se perde, na paixão que corre,

no tempo que avança e o que em nós desfaça.

 

É o abraço que conforta, o adeus que se arrasta,

a beleza escondida no que é vulgar e liso.

É a fé que se ergue quando tudo se gasta,

o instante de luz que se faz paraíso.

 

A poesia é a tecelã invisível dos dias,

que com fios de memória e de sonhos constrói

o manto em que a vida se aninha e se fia,

o eco profundo que a alma nos devolve e nos dói.

 

É o sangue que pulsa, o ar que respiramos,

a ponte que liga o que foi e o que será.

A força que move os passos que damos,

a voz do infinito que em nós se fará.

 

Ela não prega, não dita, não impõe caminhos,

mas sussurra segredos em cada alvorada.

É o farol na tormenta, em oceanos sozinhos,

a estrela que guia, silenciosa e amada.

 

Então, respira a poesia que te cerca,

em cada gesto, em cada som, em cada cor.

Ela não tem pressa, não te aperta, nem te cerca,

é o eterno murmúrio do mais puro amor.

 

E assim, ao olhar para a vida com essa nova perspectiva, eu entendo que a poesia não está apenas nas palavras que escrevo. Ela é a essência do que somos, a voz que nos guia quando o mundo parece emudecer. Ela não é um fardo, mas um presente; um lembrete de que, mesmo nas jornadas mais difíceis, há beleza, há sentido, e há uma força silenciosa que nos conecta a tudo. Em última análise, a poesia em nossas almas é a chama que nos mantém vivos, a luz que nos permite ver, e o eco que nos lembra de que somos, afinal, parte de uma canção muito maior. 

© Alberto Araújo 












 

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