Muitas
vezes, a poesia me parece algo distante, um segredo guardado em livros antigos
ou em mentes brilhantes. Tentamos defini-la, encaixá-la em palavras, mas ela
escapa, escorrendo por entre nossos dedos como areia fina. A verdade, no
entanto, é que a poesia não é um mistério inalcançável, mas o pulsar silencioso
que anima a nossa alma. Ela se manifesta nos detalhes mais simples, na beleza
escondida do cotidiano, na ressonância de uma emoção. Para mim, a poesia é a
tecelã invisível que, com fios de memória e de sonhos, constrói a colcha onde a
nossa própria existência se aninha.
A
poesia não mora em livros empoeirados,
nem
em versos que se curvam a regras antigas.
Não
é sombra na parede, nem eco calado,
mas
a trama que a vida, em si, instiga.
Ela
é a pele do dia, o orvalho na grama,
o
grito surdo da alma que se desanuvia.
É
a canção que o vento nos galhos derrama,
o
silêncio da noite que em estrelas se fia.
Poesia
é o andar do tempo sobre as calçadas,
o
riso que explode, sem razão, no meio da praça.
É
a lágrima contida, as promessas caladas,
o
instante em que a dor se transmuta em graça.
Não
é um manual, nem um roteiro traçado,
mas
a bússola cega que o coração desvenda.
É
o cheiro da chuva no asfalto molhado,
o
nó que se desfaz e a ferida que emenda.
Ela
nasce no barro, no suor que escorre,
no
corpo cansado que a esperança abraça.
No
olhar que se perde, na paixão que corre,
no
tempo que avança e o que em nós desfaça.
É
o abraço que conforta, o adeus que se arrasta,
a
beleza escondida no que é vulgar e liso.
É
a fé que se ergue quando tudo se gasta,
o
instante de luz que se faz paraíso.
A
poesia é a tecelã invisível dos dias,
que
com fios de memória e de sonhos constrói
o
manto em que a vida se aninha e se fia,
o
eco profundo que a alma nos devolve e nos dói.
É
o sangue que pulsa, o ar que respiramos,
a
ponte que liga o que foi e o que será.
A
força que move os passos que damos,
a
voz do infinito que em nós se fará.
Ela
não prega, não dita, não impõe caminhos,
mas
sussurra segredos em cada alvorada.
É
o farol na tormenta, em oceanos sozinhos,
a
estrela que guia, silenciosa e amada.
Então,
respira a poesia que te cerca,
em
cada gesto, em cada som, em cada cor.
Ela
não tem pressa, não te aperta, nem te cerca,
é
o eterno murmúrio do mais puro amor.
E assim, ao olhar para a vida com essa nova perspectiva, eu entendo que a poesia não está apenas nas palavras que escrevo. Ela é a essência do que somos, a voz que nos guia quando o mundo parece emudecer. Ela não é um fardo, mas um presente; um lembrete de que, mesmo nas jornadas mais difíceis, há beleza, há sentido, e há uma força silenciosa que nos conecta a tudo. Em última análise, a poesia em nossas almas é a chama que nos mantém vivos, a luz que nos permite ver, e o eco que nos lembra de que somos, afinal, parte de uma canção muito maior.
©
Alberto Araújo
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