sexta-feira, 4 de julho de 2025

DA AURORA EM LUZILÂNDIA AO CREPÚSCULO NITEROIENSE: UM RIO DE AFETOS - PROSA DE ALBERTO ARAÚJO

Minha história se desenrola como um rio, nascendo em terras distantes, um lugar que a memória pinta com as cores vibrantes da infância: Luzilândia, a cidade Luz. Ali, sob o olhar protetor de Santa Luzia, Padroeira da cidade, os dias eram um emaranhado de brincadeiras. A casa, um refúgio de carinho, ecoava as vozes da minha mãe, Maria, e dos meus irmãos. O cheiro do pão recém-assado se misturava ao riso fácil dos amigos e ao aroma inesquecível da terra farta de peixes e verduras. Cada esquina guardava um segredo, cada árvore era um convite à aventura, mas era nas águas do Rio Parnaíba que eu me sentia verdadeiramente livre, nadando sem preocupações. O tempo, um sopro leve, passava sem pressa, preenchendo os meus dias com a simplicidade e a plenitude de ser apenas criança. Eu era um pequeno explorador de um universo que parecia infinito, fincando minhas raízes e a certeza de que ali habitavam meus ancestrais.

A travessia começou sutilmente, como a maré que avança devagar, carregando consigo os grãos de areia de um tempo que não volta. Lembro-me da bagagem, não apenas das roupas e dos brinquedos, mas das expectativas e dos medos de um novo começo, impulsionado pelo desejo de constituir família ao lado da minha esposa, Shirley. A chegada a Niterói não foi um evento, mas um desabrochar. A Baía de Guanabara me recebeu com seu abraço azul, as montanhas pontuando o horizonte como sentinelas silenciosas. No início, tudo era estranho e fascinante: o ritmo da cidade, a brisa salgada que me trazia cheiros desconhecidos, a imponência da Ponte Rio-Niterói, uma linha que unia mundos e me aproximava da nova vida que eu estava construindo. 

E aqui, neste solo de Niterói, finquei minhas novas raízes. As ruas que antes eram desconhecidas tornaram-se caminhos familiares, os rostos estranhos transformaram-se em sorrisos amigos. Cresci com o barulho das ondas da Praia de Icaraí como trilha sonora, com o calor do sol que beija a orla ao entardecer. As conversas na calçada, o cheiro de café coado nas padarias, o movimento constante da vida niteroiense se infiltraram em cada fibra do meu ser. A criança de Luzilândia que nadava no Parnaíba deu lugar ao adulto que aprendeu a amar este pedaço de chão, este pedaço de mar, construindo um novo lar e uma nova história com Shirley. Niterói não é apenas o lugar onde moro; é o palco das minhas transformações, o cenário onde desvendei a complexidade do mundo e a profundidade de mim mesmo. Da aurora da infância às margens do Parnaíba até a maturidade à beira da Baía de Guanabara, Niterói me acolheu, me moldou e se tornou, para sempre, o meu lar. 

© Alberto Araújo

 

 

 

 

 


 

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