sábado, 5 de julho de 2025

QUANDO O MESTRE ESCREVE COM O CORAÇÃO CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO


Ao Mestre Professor Francisco DaCunha

Foi num desses instantes quase sagrados em que o tempo desacelera e o dia ganha um brilho sereno, que abri o Facebook e ali encontrei uma mensagem que me atravessou como um raio de luz. Vinha dele — do mestre, do crítico, do amigo, do Professor Francisco DaCunha.

Suas palavras me alcançaram como uma bênção antiga, dessas que não se esquecem. Vinham cheias de afeto, respeito e uma ternura rara que só os verdadeiros sábios são capazes de partilhar. Senti-me, confesso, pequeno diante da grandeza da sua generosidade, mas ao mesmo tempo gigante por ser visto, reconhecido, acolhido por um olhar tão lúcido e fraterno. 

Francisco DaCunha não é apenas um crítico literário admirável, é um artesão da leitura, um alquimista das entrelinhas, um daqueles homens que sabem onde mora o silêncio das palavras e onde pulsa o coração da literatura. Ter sua atenção é honra. Ter sua amizade é presente. E receber de sua pena palavras tão doces e memoráveis é uma dádiva que guardarei entre os tesouros da alma. 

Neste nosso intercâmbio afetivo, não há vaidade: há partilha. Ele é o mestre que acolhe o discípulo com humildade e ternura, e eu, o discípulo que se declara fã incondicional de sua escrita, de sua lucidez crítica, de sua sensibilidade à flor da pele.

Há uma beleza imensa quando o conhecimento se alia à bondade, quando a erudição se curva diante do amor ao outro, e Francisco DaCunha me ensinou isso com sua mensagem. É essa a herança que importa: o afeto que semeamos na vida dos outros com palavras que iluminam. 

Que bom viver este tempo em que ainda há mestres que escrevem com o coração. E que privilégio o meu: poder dizer que sou leitor, aprendiz e amigo de um deles. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

 

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MENSAGEM DO PROFESSOR FRANCISCO DACUNHA 

Alberto, meu estimado amigo, meu poeta, meu irmão de alma e de terra. És, sem dúvida, um dos melhores conterrâneos que tive e tenho ao longo da minha vida — pessoal e literária. Foste o escritor que mais me acolheu com carinho e respeito por aquilo que venho escrevendo ao longo da minha longa travessia humana.

Por isso, louvarei sempre tua distinta figura: és um escritor de sensibilidade à flor da pele, um autor que transborda lirismo — seja na prosa lírica, na poesia de veludo ou na crônica impregnada de humanidade, que, aliás, por vezes me lembra o grande Rubem Braga.

Tens alma de caçador de talentos, sejam conhecidos ou ocultos, e uma paixão intensa pelos que produzem literatura neste país. És, enfim, um desbravador da selva literária brasileira — sem conchavos, sem compadrios — movido apenas pela inteligência e pelo respeito aos nossos valores, tanto aqueles esquecidos quanto os que brilham com evidência no cenário fecundo da nossa vida cultural. 

Receba um abraço agradecido, por seres uma pessoa que merece todo o meu apreço e a mais sincera admiração.

 

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MENSAGEM DO ALBERTO ARAÚJO

Meu querido amigo, irmão de palavra e de chão,

Receber tua mensagem foi como abrir uma janela para o coração do tempo e nele encontrar tua voz, feita de ternura, memória e poesia. 

Confesso: emocionei-me com cada palavra que me ofertaste, como se fossem sementes lançadas no solo fértil da amizade e da admiração mútua. E é uma honra sem medida caminhar contigo pelas trilhas desse sertão de letras. Sou eu quem me sinto privilegiado por ser teu parceiro na travessia do verbo, por poder comungar do mesmo pão da literatura,  esse pão quente de humanidade, que tu sempre repartes com generosidade rara. 

Tu és da linhagem dos que escrevem com o coração exposto, como quem sangra beleza, como quem transforma o que é dor em delicadeza, e o que é vida em eternidade. 

Se minha prosa ou poesia te tocou, é porque vi em ti um espelho de mim mesmo: sensível, íntegro, amante da palavra que cura, do texto que acolhe. E é nesse espelho que reconheço um mestre, um irmão, um farol. 

Seguiremos juntos, meu estimado conterrâneo, no mesmo barco das palavras que cruzam rios, mares e lembranças, porque a verdadeira literatura é feita a dois: quem escreve e quem sente. 

Recebe meu abraço cheio de gratidão, de respeito e de afeto. Que tua luz siga brilhando sobre o papel do mundo.

Com amizade,

Alberto Araújo

 

UM POUCO SOBRE O MESTRE FRANCISCO DA CUNHA

 

Francisco da Cunha e Silva Filho — O Tempo Pensante da Palavra 

Há homens que constroem catedrais com pedras de silêncio e páginas de pensamento. Francisco da Cunha e Silva Filho é um desses raros artesãos da linguagem, não apenas um intelectual, mas um espírito que habita as dobras do tempo literário com humildade e rigor. 

Nascido para as letras, foi pela UFRJ que traçou sua senda luminosa: Bacharel e Licenciado em Português-Inglês (1973-76), Mestre em Literatura Brasileira, Doutor em Letras Vernáculas e, por fim, Pós-Doutor em Literatura Comparada. Sua formação, no entanto, é apenas a superfície de um mergulho profundo: o que o move é o desejo incansável de compreender a alma da literatura e as vozes que nela ecoam, sejam elas da Grécia antiga ou do sertão piauiense. 

Professor titular de Língua Inglesa do Colégio Militar, hoje aposentado, não se aposentou da missão de educar. Continuou a ensinar Literatura Brasileira, Língua Inglesa e Inglês Instrumental nos cursos de Letras e Comunicação Social da Universidade Castelo Branco, no Rio de Janeiro. Mas é fora das salas de aula que sua pena ainda arde: como crítico literário, ensaísta, tradutor, cronista e observador do mundo, atua com a mesma precisão de um cirurgião da linguagem e a ternura de um jardineiro da memória. 

Francisco escreve com alma, como quem acende lamparinas nas bibliotecas esquecidas do Brasil. Seus estudos sobre a literatura de expressão piauiense são bússolas para quem busca entender a cultura do semiárido e do coração nordestino. Obras como Da Costa e Silva: uma leitura da saudade (1996) ou As ideias no tempo (2010) são marcos de um pensamento que une afeto e análise, história e poesia. 

Membro efetivo da Academia Brasileira de Filologia e da União Brasileira de Escritores (seção Piauí), mantém o blog "As ideias no tempo", um espaço de reflexão madura e lírica, onde a palavra caminha com pés de sabedoria. É também colunista do site Entretextos, onde assina com elegância a coluna Letra Viva. E vive, de fato, com as letras vivas no peito. 

Seus ensaios habitam a fronteira sutil entre o erudito e o humano. Fala das relações entre literatura, pobreza, violência e universalidade como quem fala de feridas abertas no corpo do país, e o faz com uma lucidez que não fere, mas cura. 

Francisco é o mestre que não se impõe, mas que se faz farol. O amigo que oferece o ombro e o olhar crítico, o leitor do mundo e do outro. Um espírito discreto, mas profundo. Um homem de vestes simples, mas de biblioteca interior grandiosa. 

A ele, devemos o gesto raro de cuidar da literatura como quem cuida de uma herança sagrada. E a nós, discípulos, cabe o ofício grato de ouvir, aprender e agradecer. Francisco da Cunha e Silva Filho, o tempo em pessoa, o pensamento em flor.


Editorial

© Alberto Araújo – Focus Portal Cultural



 

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