Este texto é pura memória afetiva e delicadeza de um instante vivido. É mais do que um relato: é uma prosa poética memorialista, que transforma um simples encontro em celebração da amizade, da cultura e da beleza dos gestos cotidianos.
Entre livros, conversas e afetos, revivo aqui um momento único ao lado de amigos queridos, na companhia luminosa da professora Dalma Nascimento, escritora admirável, mestra de gerações, autora de inúmeras obras volumosas e profundas, que bordam, com palavras, as nossas memórias culturais.
Cada detalhe, cada sorriso, cada livro ofertado transforma-se em palavra escrita, guardada não apenas nas páginas, mas, sobretudo, no coração. Este texto partilha a emoção e também a gratidão por tudo o que a literatura e a amizade nos oferecem.
Na tarde do dia 19 de julho, vivi algo que ultrapassou o simples ato de estar com amigos: foi um mergulho em memórias, literatura e afeto.
Eu e minha querida
Shirley, junto com Euderson Kang Tourinho e Ana Maria Tourinho, fomos acolhidos
com aquele calor que só uma anfitriã especial pode oferecer: a professora e
escritora Dalma Nascimento, presença luminosa e verdadeira guardiã da nossa cultura.
Dalma é autora de mais de quarenta livros densos e ricos, joias da literatura brasileira, entre eles: Carmina Burana: Magia e questionamento cultural; Memórias, resenhas e alguns ensaios; Conversas com Nélida; Re-Vivescências de Autran Dourado; Ramos de Artes da Amiga Myriam; Viagem de Helena Parente Cunha à Absoluz; Croniescrevendo lembranças d’Alma; A grande árvore de Izaura; Meus Escritos em O Correio e muitos outros.
Ela nos presenteou com seu mais recente trabalho, o aguardado Macunaíma – Mundo Mágico-Mítico em Tranças de Memórias Culturais, cheio de ternura. Uma obra que não nasceu de pressa, mas de anos de afeto, pesquisa e paixão, e que traz o selo da Parthenon Centro de Arte e Cultura, edição de Mauro Carreiro Nolasco, com as belíssimas ilustrações do talentoso Luiz Zatar Carneiro Tabajara. A obra, tecida com carinho por anos, traz à luz as lembranças de sua infância em Barra do Piraí, os relatos do lendário Bar Lili e a aura mágica do herói Macunaíma, que a fascinou desde menina.
Durante o encontro, Ana Maria Tourinho leu com emoção trechos do texto da própria Dalma que falam do Bar Lili, aquele café onde intelectuais se reuniam para discutir e, muitas vezes, criticar a obra modernista que parecia tão estranha na época, com seu português “errado” e a figura do sacizinho endiabrado que representava o Brasil em suas contradições.
Dalma compartilhou seu encantamento de menina ao imaginar Macunaíma misturado às aventuras de Monteiro Lobato, no universo do Sítio do Pica-Pau Amarelo, como se o herói sem caráter fosse mais um personagem das histórias que povoavam sua infância sonhadora.
E não parou por aí. Euderson Tourinho relembrou um episódio marcante: leu o texto sobre a peça teatral encenada há muitos anos por alunos da professora Dalma na UFRJ, onde o consagrado diretor teatral e de novelas, o ator Miguel Falabella, então estudante, fez uma montagem de Macunaíma que encantou e provocou debates intensos na sala de aula, mostrando que a força do personagem continua viva e pulsante. O relato dessa cena, com violão ao fundo e o personagem sendo recebido no céu por Mário de Andrade, emocionou a todos e nos fez perceber como o herói continua “circulando no campo vasto do céu daquela sala e da vida da Dalma”.
E assim, entre leituras,
risos e lembranças, compartilhamos um saboroso lanche que também foi uma prévia
da celebração do meu aniversário. Estavam conosco a enfermeira Cristiana, que
cuida com carinho de Dalma — pense numa pessoa paciente, pois sim — e Lawrence,
filha do coração de Dalma, que mora na Bretanha, na França, e participou desse
encontro cheio de ternura.
E o meu coração, já tão grato, se encheu de alegria ao receber presentes especiais: o livro de autoria e autografado pela historiadora Denise G. Porto, Maria Graham – Uma inglesa da Independência do Brasil, que em breve pretendo resenhar; e ainda outros livros de Dalma que faltavam para, enfim, completar a minha coleção da sua obra completa — verdadeira herança cultural que guardarei sempre com carinho e respeito.
A amiga Ana Tourinho presenteou Dalma com uma linda echarpe e vários livros de sua autoria. Também presenteou a Shirley e a Cristiana com lindas echarpes importadas da Europa. Euderson me presenteou com uma gravata importada “azul”, a cor de minha predileção.
Ana Tourinho, como é uma adorável presença em todos os momentos, foi portadora especial: trouxe direto da 95ª Feira do Livro de Lisboa, enviada pela presidente Dyandreia Portugal, a Coletânea Sem Fronteiras Pelo Mundo... Coletânea Literária Internacional Lusófona em Verso e Prosa, volume 8 – Edição Histórica, organizada pela jornalista Dyandreia Portugal, para me presentear; em breve farei a resenha. Também ganhei o Catálogo Internacional Vitrine Literária Lusófona da Rede Sem Fronteiras — igualmente organizado pela presidente Dyandreia Portugal. A professora Dalma Nascimento recebeu o livro: “Laços Portugueses” e o “Cápsula do Tempo”, obras magníficas, produções especiais da Rede Sem Fronteiras.
Naquele entardecer, entre livros, lanches e conversas que pareciam suspender o tempo, meu coração arfava de felicidade, encantado com o carinho dos amigos e com a generosidade da Dalma que, com sua escrita e seu sorriso, constrói pontes que atravessam gerações e corações. Mais do que leitores, somos cúmplices de uma história viva, feita de memórias, palavras e encontros.
E assim, entre um pedaço do saboroso pudim feito pela Cristiana, o suco de maçã provindo da França — uma produção exclusiva de Lawrence —, livros e afetos, celebramos não apenas a chegada de uma nova obra ao mundo, mas a própria magia dos encontros verdadeiros.
Dalma Nascimento, com sua generosidade de alma e seu talento raro, não escreve apenas livros: ela constrói pontes entre o ontem e o agora, entre a lembrança e o sonho, entre quem somos e quem seremos.
Naquela tarde, compreendi, mais uma vez, que são os gestos de ternura, os presentes que nascem do coração e os abraços que não se perdem no tempo que realmente contam a história que vale ser contada. A literatura não vive só de palavras impressas, mas de encontros verdadeiros, de gestos que aquecem, de olhares que abraçam.
Dalma Nascimento, senhora de alma rara, escreve com o coração e presenteia o mundo não apenas com livros, mas com pontes entre passado e presente, fantasia e realidade, lembrança e sonho. É por isso que todos nós, da cultura, aprendemos a amá-la tanto: porque ela mesma é parte viva da história que conta. Saí de lá com o coração arfando de felicidade, com as mãos cheias de livros, mas, sobretudo, com a alma repleta de gratidão.
E percebi que, mais do
que leitores ou amigos, somos cúmplices de uma história que continua a ser
escrita, na cumplicidade, na memória, no apreço.
E que história bonita estamos escrevendo juntos, feita de palavras, de memórias, de gratidão e de um afeto que não conhece fronteiras.
© Alberto Araújo
19 de julho de 2025
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