quinta-feira, 10 de julho de 2025

EFEMÉRIDES | FOCUS PORTAL CULTURAL REVERENCIA CARL ORFF — 130 ANOS DE SEU NASCIMENTO

O Focus Portal Cultural tem a honra de reverenciar, neste dia 10 de julho, um dos maiores compositores da humanidade. 

Há 130 anos, em 10 de julho de 1895, nasceu o compositor alemão Carl Orff  personalidade central na história da música do século XX. Imortalizado pela célebre cantata Carmina Burana, Orff não se destacou apenas como criador de grandes obras, mas principalmente como pedagogo, idealizador do Método Orff: um sistema de educação musical que valoriza a percussão, o canto e a expressão corporal, aproximando crianças e leigos do universo musical de forma lúdica e sensível.

Carl Orff fundou, em 1925, uma escola de educação musical dedicada a esse método, onde trabalhou até o fim de sua vida, deixando um legado transformador para gerações. 

O editor desta revista cultural, jornalista Alberto Araújo, por duas vezes teve a oportunidade de ler, para elaboração de resenha, a importante obra “Carmina Burana: magia e questionamento cultural” de Dalma Nascimento, que aborda de maneira crítica e poética a força cultural da cantata cênica de Orff. Essa obra, com mais de cem cenas coloridas da coreografia de Jean-Pierre Ponnelle, chegou ao conhecimento do maestro e compositor alemão Pierre-Dominique Ponnelle que é filho de Jean-Pierre, por intermédio da grande amiga francesa de Dalma Nascimento, Laurence lBoccou. Alguns exemplares exclusivos da magnífica obra de Dalma Nascimento já foram editados, e outros estarão em breve disponíveis ao grande público. 


Pierre-Dominique Ponnelle - Maestro

A propósito, o Focus Portal Cultural também produziu recentemente uma postagem sobre Pierre-Dominique Ponnelle, que iniciou sua carreira independente como maestro ainda estudante, tendo regido importantes casas de ópera e concertos, como o Staatstheater em Kassel, o Tirol Landestheater em Innsbruck e a Opéra Municipale de Marseille. Nascido em 1957, em Munique, filho da atriz Margit Saad e do renomado diretor e cenógrafo Jean-Pierre Ponnelle, Pierre-Dominique Ponnelle é um nome que mantém viva a chama da tradição artística europeia. 

CARL ORFF - O COMPOSITOR QUE FEZ DO RITMO UMA LINGUAGEM UNIVERSAL 

Carl Orff nasceu em 10 de julho de 1895, na cidade de Munique, vindo ao mundo em uma família da alta burguesia bávara, profundamente ligada à tradição militar alemã. Desde cedo, demonstrou inclinação para a música e, ainda jovem, ingressou na Academia de Música de Munique, onde permaneceu até 1914, ano em que a Primeira Guerra Mundial interrompeu sua formação ao ser convocado para servir nas forças armadas.

Após o conflito, Orff trabalhou em teatros de ópera em Mannheim e Darmstadt e, posteriormente, retornou a Munique para dar continuidade aos seus estudos musicais. Em 1925, foi cofundador da Guenther School, uma escola que integrava música, dança e atividades físicas, e onde Orff dedicou-se ao ensino musical para iniciantes, experiência decisiva para a concepção de seu inovador Método Orff. 

Baseado na combinação de percussão, canto, movimento e improvisação, o método tornou-se referência mundial em educação musical. Orff acreditava que todos podiam vivenciar a música de forma espontânea, e que o ritmo era uma linguagem natural capaz de conectar corpo e espírito. Essa abordagem pedagógica, criada junto à musicista Gunild Keetman, ficou conhecida como Orff-Schulwerk, termo alemão que significa “trabalho escolar”. 

Mesmo que relutasse em falar publicamente sobre seu passado, Carl Orff sempre demonstrou fascínio pela herança cultural germânica e medieval. Essa admiração encontrou sua expressão máxima na obra que o eternizou: Carmina Burana (1937), cantata cênica baseada em poemas medievais latinos e germânicos descobertos em 1803 no mosteiro beneditino de Benediktbeuern, na Baviera. 

O sucesso estrondoso de Carmina Burana foi tanto artístico quanto histórico tornou-se uma das peças mais populares compostas durante o regime nazista, embora não haja comprovação de que Orff tenha apoiado politicamente o regime. Após a guerra, ele afirmou ter sido próximo ao movimento de resistência Die Weiße Rose, fundado pelo amigo Kurt Huber, executado pelos nazistas, mas não existem documentos que comprovem essa ligação. 

Orff seguiu uma trajetória artística marcada por experimentação e reinvenção. Rejeitava a simples classificação de suas obras como óperas: preferia vê-las como peças de teatro musical, impregnadas de espírito atemporal. Exemplo disso são títulos como Der Mond (1939) e Die Kluge (1943), descritas pelo compositor como Märchenoper, ou “óperas de conto de fadas”. 

Seu interesse pelo teatro clássico se traduziu em criações como Antigonae (1949), inspirada na tradução alemã de Friedrich Hölderlin para a tragédia de Sófocles, Oedipus der Tyrann (1959) e Prometheus (1968). Essas obras, marcadas por orquestrações essencialmente percussivas e linhas melódicas minimalistas, buscavam resgatar a força arcaica do drama grego. 

Em 1973, Orff apresentou sua última grande composição: De temporum fine comoedia (“Uma peça para o fim dos tempos”), regida por Herbert von Karajan no Festival de Salzburgo. Nessa obra, novamente ecoa sua visão do teatro musical como experiência espiritual e ritualística. 

Ao longo da carreira, Orff revisitou e reescreveu muitas de suas composições, mas manteve um núcleo criativo coeso, incluindo a trilogia Trionfi: Carmina Burana (1937), Catulli Carmina (1943) e Trionfo di Afrodite (1953). Nessas peças, celebrava o vigor da poesia medieval, com temática de amor, destino e alegria carnal — sempre entrelaçada por uma estética vigorosa e direta. 

Carl Orff faleceu em sua cidade natal, Munique, em 29 de março de 1982, aos 86 anos. Seu corpo foi sepultado no mosteiro barroco de Andechs, ao sul da Baviera,  local que ele mesmo escolhera, por reconhecer ali a espiritualidade e o silêncio necessários para seu repouso eterno. 

Mais do que um compositor célebre, Orff permanece como um educador visionário, cuja contribuição ao ensino musical influenciou milhões de crianças e professores ao redor do mundo. Sua obra, pulsante e percussiva, continua viva, convidando gerações a descobrir na música não apenas arte, mas também uma forma de redescobrir a si mesmas. 

PRINCIPAIS OBRAS DE CARL ORFF

TRIONFI — A TRILOGIA DO TRIUNFO 

Essa trilogia reflete o fascínio de Orff pela poesia medieval e celebra a intensidade dos sentidos humanos:

Carmina Burana (1937): sua obra mais famosa, uma cantata cênica baseada em manuscritos medievais encontrados no mosteiro de Benediktbeuern, combinando coros poderosos, solistas e orquestra percussiva.

Catulli Carmina (1943): inspirada nos poemas de amor e erotismo do poeta romano Catulo, com grande destaque para o ritmo e efeitos cênicos.

Trionfo di Afrodite (1953): encerra a trilogia com um canto ritualístico à deusa Afrodite, explorando temas como o amor e a fertilidade. 

MÄRCHENSTÜCKE — “PEÇAS DE CONTO DE FADAS”

Orff preferia esse termo a “ópera” para suas criações baseadas em contos e lendas:

Der Mond (A Lua, 1939): uma ópera em tom de fábula, com humor e atmosfera medieval.

Die Kluge (A Mulher Sábia, 1943): mistura elementos folclóricos e moralidade popular, com música que evoca antigos modos germânicos.

Ein Sommernachtstraum (Sonho de uma Noite de Verão, versões de 1917, 1939, 1952 e finalizada em 1962): música incidental para a peça de Shakespeare, substituindo a trilha banida de Mendelssohn. 

BAIRISCHES WELTTHEATER — O “TEATRO BÁVARO DO MUNDO”

Peças que unem humor, tradição popular e religiosidade:

Die Bernauerin (1947): tragédia histórica ambientada na Baviera medieval.

Astutuli (1953): sátira popular bávara, repleta de crítica social.

Comoedia de Christi Resurrectione (1956): peça pascal baseada em textos litúrgicos medievais.

Ludus de nato Infante mirificus (1960): peça de Natal centrada no nascimento de Cristo. 

THEATRUM MUNDI — DRAMAS DA ANTIGUIDADE REVISITADOS

Obras que bebem diretamente do teatro clássico grego:

Antigonae (1949): adaptação musical da tragédia de Sófocles, usando a tradução de Friedrich Hölderlin.

Oedipus der Tyrann (1959): outra leitura musical de uma tragédia de Sófocles, explorando o destino e o drama humano.

Prometheus (1968): baseada na peça de Ésquilo, com linguagem percussiva intensa e atmosfera ritualística. 

OUTRAS OBRAS NOTÁVEIS

De temporum fine comoedia (Peça para o fim dos tempos, 1973, revisada em 1977): último grande trabalho de Orff, apresentado no Festival de Salzburgo, com direção de Herbert von Karajan; reflexo de sua visão do fim dos tempos como renovação espiritual.

Gisei – Das Opfer (O Sacrifício, 1913): sua primeira grande tentativa de drama musical, inspirada no teatro japonês.

Assim, celebramos hoje não apenas Carl Orff e sua genialidade, mas também o eco de sua obra que continua a inspirar músicos, estudiosos e amantes da arte em todo o mundo. 

© Alberto Araújo

Focus Portal Cultural


Carl Off - Maestro







Dalma Nascimento e Alberto Araújo
exibe a obra Carmina Burana


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