Hoje, 04 de julho ao abrir o Facebook, entre a pressa habitual do dia e o desfile infindável de rostos, frases e manchetes, fui surpreendido por uma pausa. Uma dessas pausas que não se explicam, apenas se escutam. Era ele, Marcelo Moraes Caetano, sentado ao piano como se estivesse em diálogo direto com a alma do mundo. Os dedos tocavam “Étude Liszt–Paganini n. 1”, de Franz Liszt, gravado com duas câmeras que, sabiamente, captavam não apenas o movimento das mãos, mas a pulsação da música em estado de milagre.
A composição, exigente e vertiginosa, soava com uma beleza tão absurda que desarmava qualquer inquietação. O cenário, elegante e acolhedor, parecia cúmplice daquela transcendência sonora. O som, profundo, nítido, dramático e delicado, não era apenas música. Era linguagem ancestral. Era oração. Era tempo que parava para escutar o dom de um homem que não apenas estuda, ensina ou interpreta: ele sente. E quando sente, o mundo se comove.
Marcelo não é só um pianista. É uma constelação de saberes. Psicanalista, professor adjunto da UERJ, membro de instituições culturais espalhadas entre o Rio e Paris, Santiago e Londres. Tradutor de sete idiomas, estudioso de tantos outros, autor de mais de 50 livros e reconhecido por organismos como a ONU, a UNESCO, a Academia Brasileira de Letras e universidades do mundo inteiro. Sua trajetória é uma travessia entre a ciência da palavra e o mistério da música. Um homem plural que caminha com um só nome: excelência.
Desde os 14 anos, Marcelo já vencia concursos de piano e encantava plateias nas Américas e na Europa. E hoje, como um presente imprevisto, fui agraciado com esse instante: vê-lo ao piano, tocando Liszt como se invocasse os deuses da harmonia.
O Focus Portal Cultural, com imenso apreço e admiração, presta aqui esta homenagem ao maestro das linguagens, ao homem que traduz partituras e silêncios, ao artista que honra com brilho a cultura brasileira — Marcelo Moraes Caetano.
E que venham mais manhãs com música, mais tardes com poesia e mais noites em que a arte se sente, mais do que se vê.
"ÉTUDE LISZT-PAGANINI N. 1": QUANDO O PIANO DESAFIA O IMPOSSÍVEL
Há obras que não apenas soam, elas relampejam. A Étude Liszt-Paganini n. 1, composta por Franz Liszt em 1851, é uma dessas faíscas musicais que cortam o ar como um raio. Baseada nos caprichos vertiginosos de Niccolò Paganini para violino, essa peça traduz para o piano uma energia quase sobre-humana. Liszt, encantado com a genialidade do violinista italiano, não quis apenas homenageá-lo, quis ultrapassá-lo no teclado.
Conhecida também como “Tremolo”, a peça alterna um prelúdio atmosférico e sombrio (Andante) com uma seção principal intensa e carregada de tensão (Non troppo lento), em que os dedos do pianista parecem acender labaredas sobre as teclas. Os arpejos, os saltos amplos, o domínio técnico exigido — tudo nela é vertigem, desafio e espetáculo.
Não é uma composição feita apenas para ser ouvida. Ela deve ser vista, sentida, quase temida. É como se Liszt, por meio de seu piano, tivesse decidido convocar os espíritos do virtuosismo para dançarem à beira do abismo.
Executar essa obra não é apenas tocar
uma partitura: é atravessar um território em que o músico se torna também
acrobata, alquimista, e, por instantes, centelha de gênio.
FRANZ LISZT (1811–1886) - O MAGO DO PIANO E O POETA DO SOM
Franz Liszt nasceu em 22 de outubro de 1811, em Raiding, na então parte do Império Austríaco (hoje Hungria). Desde cedo revelou um talento incomum: aos sete anos já tocava piano com fluência, e aos nove fazia sua primeira apresentação pública. Seu pai, Adam Liszt, reconheceu o prodígio e o levou a Viena, onde estudou com mestres como Carl Czerny (aluno de Beethoven) e Antonio Salieri.
Na juventude, Liszt foi um fenômeno das salas de concerto da Europa. Tornou-se o primeiro “superastro” do piano, arrastando multidões, arrancando suspiros e aplausos fervorosos. Seu virtuosismo era tão extremo que muitos duvidavam que fosse possível realizar certas passagens apenas com as mãos humanas. Diz-se que alguns pianos simplesmente não resistiam à intensidade de sua execução.
Mas Liszt era muito mais do que um intérprete genial. Foi também compositor inovador, criador do poema sinfônico (um gênero que mistura música e narrativa literária), e um profundo pensador musical. Suas composições vão de peças tecnicamente arrebatadoras — como os "Estudos de Execução Transcendental" ou os “Grandes Estudos de Paganini” — a obras de profundidade mística, como suas composições tardias influenciadas pela fé e pela meditação.
Ao longo da vida, Liszt se reinventou: de jovem deslumbrante dos salões a monge secular, vivendo com austeridade e dedicando-se à música sacra. Recebeu as ordens menores da Igreja Católica e passou a ser chamado de Abade Liszt.
Como professor, influenciou gerações
de pianistas. Como artista, construiu pontes entre a música do passado e a
modernidade nascente. Sua obra inspirou Wagner, Debussy, Bartók e tantos
outros.
Liszt faleceu em 31 de julho de 1886, em Bayreuth, Alemanha, durante o festival dedicado às obras de seu genro, Richard Wagner. Morreu como viveu: cercado de música, deixando atrás de si uma lenda que o eternizou como um dos maiores nomes da história da música ocidental.
@ Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
MARCELO MORAES CAETANO DISSE: Querido
Alberto Araújo, que emoção imensa você me proporciona com essa homenagem tão
cheia de afeto e generosidade, com uma tessitura cheia de sutileza, poesia e
horizontes, muitos horizontes. Não tenho como retribuir tamanha gentileza,
exceto oferecendo-lhe minha vasta gratidão por seu olhar poético e elevado
sobre a minha trajetória. Permita-me relatar-lhe que, em 2011, quando toquei na
Europa toda para comemorar o bicentenário de Franz Liszt (algo muito especial
para mim, pois Liszt é um dos meus Compositores favoritos), entre muitas
críticas profusamente consentâneas e favoráveis, uma em especial, a do o Le
Figaro, registrou uma crítica em que, entre outras muitas considerações
positivas, dizia-se: "Marcelo não apenas toca Liszt. Ele entende Liszt, e
ambos dialogam como dois amigos numa conversa séria e cúmplice". Digo isso
porque a mesma emoção que me causaram as críticas naquela minha turnê especial
(afinal, eram os duzentos anos de um dos maiores Titãs da música)
proporcionaram-me também, igualmente, a sua liberalidade neste texto em relação
a mim. Receba, portanto, o meu mais autêntico agradecimento por sua preclara
homenagem. Marcelo Moraes Caetano.
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Prezado Maestro Marcelo Moraes Caetano, suas palavras tocaram-me profundamente, como acordes que ressoam na alma. Fico comovido ao saber que minha homenagem encontrou eco em seu coração, essa troca é o que enobrece a cultura e nos irmana no território da arte. Há muito admiro sua trajetória, acompanho seus vídeos com fascínio e encantamento. Cada interpretação sua carrega não apenas técnica impecável, mas uma verdade emocional que transborda.
Recentemente, me emocionei com sua belíssima execução de Villa-Lobos, mas confesso: foi ao ouvir Liszt por suas mãos que a emoção se fez ainda mais intensa, como se eu próprio estivesse naquela plateia europeia em 2011, sentindo cada nota dialogar com o silêncio do mundo. A crítica do Le Figaro não poderia ser mais justa: sim, você dialoga com Liszt, com cumplicidade e reverência. E quem o ouve, tem a rara sensação de também participar desse diálogo sublime. Receba, querido Marcelo, meu afeto sincero, minha admiração incondicional e minha alegria por podermos compartilhar o mesmo palco simbólico da cultura. Sua arte é um presente para todos nós. Abraços do Alberto Araújo - Focus Portal Cultural
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Boa tarde, Presidente Márcia Pessanha, recebo com carinho suas palavras e retribuo com gratidão e admiração. Sempre nutri profundo respeito pelo maestro e pianista Marcelo Caetano, artista de alma refinada e de uma gentileza rara. Sua presença constante, atenta e generosa em nossas publicações só reforça sua nobreza de espírito. Comecei a conhecer melhor sua arte justamente por esses gestos delicados que tanto o caracterizam. E hoje, posso dizer sem hesitar: Marcelo Caetano é um “gentleman” das artes e da vida, merecedor dos mais calorosos aplausos. Sua atuação como ilustre acadêmico da Academia Fluminense de Letras engrandece ainda mais nosso patrimônio cultural. Grato por suas palavras e pela partilha desse sentimento de reconhecimento. Abraços do Alberto Araújo
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MARIA OTILIA MARQUES CAMILLO
DISSE: Espetáculo! Amei! Quão prazeroso
é viajar, musicalmente, ao som, Alegre, de uma canção, pelo espaço afora… além
da nossa imaginação! Parabéns, por este vídeo, encantador! Iluminado carinhoso
abraço! Maria Otilia.
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Amiga Maria Otília, Que alegria
receber suas palavras tão luminosas e cheias de sensibilidade! Sua escuta
atenta e sua alma poética tornam essa travessia musical ainda mais especial.
Fico imensamente feliz por saber que o vídeo lhe tocou e a fez viajar além dos
contornos da realidade, no território mágico da imaginação. É para isso que a
arte pulsa: para nos levar onde os pés não alcançam, mas o coração reconhece.
Receba meu abraço igualmente carinhoso e grato, abraços do Alberto Araújo
Crítico literário Francisco DaCunha disse: MARAVILHA!
MAURÍCIO RODRIGUES-CAMPOS II disse: Parabéns muito Carinhosos, Alberto e Marcelo Caetano!
EURÍDICE HESPANHOL disse: Maravilhoso!
Parabéns!
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MATILDE CARONE SLAIBI CONTI disse: Beleza pura sua interpretação.
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Mensagem Gilda Uzeda na postagem. Belo texto, Alberto. A música é a Arte cuja linguagem é acessível ao Universo inteiro... E o Universo habita corações. Apreciei tudo e escolhi palavras:
__ "pulsação da música em estado de milagre"
__ "O som profundo, nítido, dramático e delicado, não era apenas música. Era linguagem ancestral.
Era oração."__ Parabéns ao grande pianista e professor, e, ao escritor que tão bem o descreveu. Abraço, Gilda
Amiga Gilda, sua sensibilidade é como a própria música: toca, eleva e permanece. Que alegria receber suas palavras, escolhidas com tanto cuidado, como quem recolhe estrelas numa partitura do silêncio. Sim… o universo habita corações, e é nesse templo que a música e a poesia se reconhecem irmãs. Fico densamente maravilhado por sua leitura atenta e por destacar esses trechos como se fossem notas que ecoam além do texto. O pianista Marcelo e eu agradecemos, ele, com suas teclas; eu, com minhas letras. Receba meu abraço repleto de gratidão e harmonia, Alberto Araújo.
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