sexta-feira, 4 de julho de 2025

O PIANO QUE FALA COM AS ESTRELAS CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO - UMA HOMENAGEM DO FOCUS PORTAL CULTURAL AO MAESTRO MARCELO MORAES CAETANO.

Hoje, 04 de julho ao abrir o Facebook, entre a pressa habitual do dia e o desfile infindável de rostos, frases e manchetes, fui surpreendido por uma pausa. Uma dessas pausas que não se explicam, apenas se escutam. Era ele, Marcelo Moraes Caetano, sentado ao piano como se estivesse em diálogo direto com a alma do mundo. Os dedos tocavam “Étude Liszt–Paganini n. 1”, de Franz Liszt, gravado com duas câmeras que, sabiamente, captavam não apenas o movimento das mãos, mas a pulsação da música em estado de milagre. 

A composição, exigente e vertiginosa, soava com uma beleza tão absurda que desarmava qualquer inquietação. O cenário, elegante e acolhedor, parecia cúmplice daquela transcendência sonora. O som, profundo, nítido, dramático e delicado, não era apenas música. Era linguagem ancestral. Era oração. Era tempo que parava para escutar o dom de um homem que não apenas estuda, ensina ou interpreta: ele sente. E quando sente, o mundo se comove. 

Marcelo não é só um pianista. É uma constelação de saberes. Psicanalista, professor adjunto da UERJ, membro de instituições culturais espalhadas entre o Rio e Paris, Santiago e Londres. Tradutor de sete idiomas, estudioso de tantos outros, autor de mais de 50 livros e reconhecido por organismos como a ONU, a UNESCO, a Academia Brasileira de Letras e universidades do mundo inteiro. Sua trajetória é uma travessia entre a ciência da palavra e o mistério da música. Um homem plural que caminha com um só nome: excelência. 

Desde os 14 anos, Marcelo já vencia concursos de piano e encantava plateias nas Américas e na Europa. E hoje, como um presente imprevisto, fui agraciado com esse instante: vê-lo ao piano, tocando Liszt como se invocasse os deuses da harmonia.

O Focus Portal Cultural, com imenso apreço e admiração, presta aqui esta homenagem ao maestro das linguagens, ao homem que traduz partituras e silêncios, ao artista que honra com brilho a cultura brasileira — Marcelo Moraes Caetano. 

E que venham mais manhãs com música, mais tardes com poesia e mais noites em que a arte se sente, mais do que se vê. 

"ÉTUDE LISZT-PAGANINI N. 1": QUANDO O PIANO DESAFIA O IMPOSSÍVEL 

Há obras que não apenas soam, elas relampejam. A Étude Liszt-Paganini n. 1, composta por Franz Liszt em 1851, é uma dessas faíscas musicais que cortam o ar como um raio. Baseada nos caprichos vertiginosos de Niccolò Paganini para violino, essa peça traduz para o piano uma energia quase sobre-humana. Liszt, encantado com a genialidade do violinista italiano, não quis apenas homenageá-lo, quis ultrapassá-lo no teclado. 

Conhecida também como “Tremolo”, a peça alterna um prelúdio atmosférico e sombrio (Andante) com uma seção principal intensa e carregada de tensão (Non troppo lento), em que os dedos do pianista parecem acender labaredas sobre as teclas. Os arpejos, os saltos amplos, o domínio técnico exigido — tudo nela é vertigem, desafio e espetáculo.

Não é uma composição feita apenas para ser ouvida. Ela deve ser vista, sentida, quase temida. É como se Liszt, por meio de seu piano, tivesse decidido convocar os espíritos do virtuosismo para dançarem à beira do abismo. 

Executar essa obra não é apenas tocar uma partitura: é atravessar um território em que o músico se torna também acrobata, alquimista, e, por instantes, centelha de gênio.


FRANZ LISZT (1811–1886) - O MAGO DO PIANO E O POETA DO SOM

Franz Liszt nasceu em 22 de outubro de 1811, em Raiding, na então parte do Império Austríaco (hoje Hungria). Desde cedo revelou um talento incomum: aos sete anos já tocava piano com fluência, e aos nove fazia sua primeira apresentação pública. Seu pai, Adam Liszt, reconheceu o prodígio e o levou a Viena, onde estudou com mestres como Carl Czerny (aluno de Beethoven) e Antonio Salieri. 

Na juventude, Liszt foi um fenômeno das salas de concerto da Europa. Tornou-se o primeiro “superastro” do piano, arrastando multidões, arrancando suspiros e aplausos fervorosos. Seu virtuosismo era tão extremo que muitos duvidavam que fosse possível realizar certas passagens apenas com as mãos humanas. Diz-se que alguns pianos simplesmente não resistiam à intensidade de sua execução. 

Mas Liszt era muito mais do que um intérprete genial. Foi também compositor inovador, criador do poema sinfônico (um gênero que mistura música e narrativa literária), e um profundo pensador musical. Suas composições vão de peças tecnicamente arrebatadoras — como os "Estudos de Execução Transcendental" ou os “Grandes Estudos de Paganini” — a obras de profundidade mística, como suas composições tardias influenciadas pela fé e pela meditação.

Ao longo da vida, Liszt se reinventou: de jovem deslumbrante dos salões a monge secular, vivendo com austeridade e dedicando-se à música sacra. Recebeu as ordens menores da Igreja Católica e passou a ser chamado de Abade Liszt. 

Como professor, influenciou gerações de pianistas. Como artista, construiu pontes entre a música do passado e a modernidade nascente. Sua obra inspirou Wagner, Debussy, Bartók e tantos outros.

 

Liszt faleceu em 31 de julho de 1886, em Bayreuth, Alemanha, durante o festival dedicado às obras de seu genro, Richard Wagner. Morreu como viveu: cercado de música, deixando atrás de si uma lenda que o eternizou como um dos maiores nomes da história da música ocidental.

@ Alberto Araújo

Focus Portal Cultural

 
(CLICAR NA IMAGEM PARA ASSISTIR AO VÍDEO)


MENSAGENS

MARCELO MORAES CAETANO DISSE: Querido Alberto Araújo, que emoção imensa você me proporciona com essa homenagem tão cheia de afeto e generosidade, com uma tessitura cheia de sutileza, poesia e horizontes, muitos horizontes. Não tenho como retribuir tamanha gentileza, exceto oferecendo-lhe minha vasta gratidão por seu olhar poético e elevado sobre a minha trajetória. Permita-me relatar-lhe que, em 2011, quando toquei na Europa toda para comemorar o bicentenário de Franz Liszt (algo muito especial para mim, pois Liszt é um dos meus Compositores favoritos), entre muitas críticas profusamente consentâneas e favoráveis, uma em especial, a do o Le Figaro, registrou uma crítica em que, entre outras muitas considerações positivas, dizia-se: "Marcelo não apenas toca Liszt. Ele entende Liszt, e ambos dialogam como dois amigos numa conversa séria e cúmplice". Digo isso porque a mesma emoção que me causaram as críticas naquela minha turnê especial (afinal, eram os duzentos anos de um dos maiores Titãs da música) proporcionaram-me também, igualmente, a sua liberalidade neste texto em relação a mim. Receba, portanto, o meu mais autêntico agradecimento por sua preclara homenagem. Marcelo Moraes Caetano.


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Prezado Maestro Marcelo Moraes Caetano, suas palavras tocaram-me profundamente, como acordes que ressoam na alma. Fico comovido ao saber que minha homenagem encontrou eco em seu coração, essa troca é o que enobrece a cultura e nos irmana no território da arte. Há muito admiro sua trajetória, acompanho seus vídeos com fascínio e encantamento. Cada interpretação sua carrega não apenas técnica impecável, mas uma verdade emocional que transborda.

Recentemente, me emocionei com sua belíssima execução de Villa-Lobos, mas confesso: foi ao ouvir Liszt por suas mãos que a emoção se fez ainda mais intensa, como se eu próprio estivesse naquela plateia europeia em 2011, sentindo cada nota dialogar com o silêncio do mundo. A crítica do Le Figaro não poderia ser mais justa: sim, você dialoga com Liszt, com cumplicidade e reverência. E quem o ouve, tem a rara sensação de também participar desse diálogo sublime. Receba, querido Marcelo, meu afeto sincero, minha admiração incondicional e minha alegria por podermos compartilhar o mesmo palco simbólico da cultura. Sua arte é um presente para todos nós. Abraços do Alberto Araújo - Focus Portal Cultural


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MÁRCIA PESSANHA disse: Marcelo Caetano é  merecedor de muitos aplausos.  Ele é um ilustre acadêmico da Academia Fluminense de Letras. Enriquece nosso quadro cultural. Grata, Alberto Araújo, diretor do Focus Portal Cultural por tão justa homenagem. Márcia.

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Boa tarde, Presidente Márcia Pessanha, recebo com carinho suas palavras e retribuo com gratidão e admiração. Sempre nutri profundo respeito pelo maestro e pianista Marcelo Caetano, artista de alma refinada e de uma gentileza rara. Sua presença constante, atenta e generosa em nossas publicações só reforça sua nobreza de espírito. Comecei a conhecer melhor sua arte justamente por esses gestos delicados que tanto o caracterizam. E hoje, posso dizer sem hesitar: Marcelo Caetano é um “gentleman” das artes e da vida, merecedor dos mais calorosos aplausos. Sua atuação como ilustre acadêmico da Academia Fluminense de Letras engrandece ainda mais nosso patrimônio cultural. Grato por suas palavras e pela partilha desse sentimento de reconhecimento. Abraços do Alberto Araújo


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MARIA OTILIA MARQUES CAMILLO DISSE:  Espetáculo! Amei! Quão prazeroso é viajar, musicalmente, ao som, Alegre, de uma canção, pelo espaço afora… além da nossa imaginação! Parabéns, por este vídeo, encantador! Iluminado carinhoso abraço! Maria Otilia.

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Amiga Maria Otília, Que alegria receber suas palavras tão luminosas e cheias de sensibilidade! Sua escuta atenta e sua alma poética tornam essa travessia musical ainda mais especial. Fico imensamente feliz por saber que o vídeo lhe tocou e a fez viajar além dos contornos da realidade, no território mágico da imaginação. É para isso que a arte pulsa: para nos levar onde os pés não alcançam, mas o coração reconhece. Receba meu abraço igualmente carinhoso e grato, abraços do Alberto Araújo

 

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Crítico literário Francisco DaCunha disse: MARAVILHA!


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MAURÍCIO RODRIGUES-CAMPOS II disse:  Parabéns muito Carinhosos, Alberto e Marcelo Caetano!

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EURÍDICE HESPANHOL disse: Maravilhoso! Parabéns!

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MATILDE CARONE SLAIBI CONTI disse: Beleza pura sua interpretação.

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Mensagem Gilda Uzeda na postagem. Belo texto, Alberto. A música é a Arte cuja linguagem é acessível ao Universo inteiro... E o Universo habita corações. Apreciei tudo e escolhi palavras:

 __ "pulsação da música em estado de milagre"

__ "O som profundo, nítido, dramático e delicado, não era apenas música. Era linguagem ancestral.

Era oração."__ Parabéns ao grande pianista e professor, e, ao escritor que tão bem o descreveu. Abraço, Gilda

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Amiga Gilda, sua sensibilidade é como a própria música: toca, eleva e permanece. Que alegria receber suas palavras, escolhidas com tanto cuidado, como quem recolhe estrelas numa partitura do silêncio. Sim… o universo habita corações, e é nesse templo que a música e a poesia se reconhecem irmãs. Fico densamente maravilhado por sua leitura atenta e por destacar esses trechos como se fossem notas que ecoam além do texto. O pianista Marcelo e eu agradecemos, ele, com suas teclas; eu, com minhas letras. Receba meu abraço repleto de gratidão e harmonia, Alberto Araújo. 





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