Focus Portal Cultural celebra o escritor moçambicano com palavras que atravessam continentes
Neste dia 05 de julho de 2025, o mundo literário celebra os 70 anos de Mia Couto, o escritor moçambicano que transformou a língua portuguesa num território fértil de encantamento e reinvenção. Nascido em 1955, na cidade da Beira, em Moçambique, António Emílio Leite Couto, nome de batismo, tornou-se um dos autores mais lidos, traduzidos e respeitados do universo lusófono.
Com uma escrita que une poesia, oralidade, filosofia africana e imaginação mítica, Mia Couto não apenas escreveu livros: fundou uma maneira de dizer o mundo. Sua literatura descoloniza a linguagem, rompe com lógicas ocidentais e nos convida a ver com os olhos da alma, escutar com o corpo inteiro e pensar com o coração.
Autor de romances, contos, crônicas e ensaios, Mia Couto é mais do que um escritor: é um reinventor da linguagem, um cartógrafo do afeto e da memória coletiva, um semeador de metáforas que brotam da terra vermelha de África e ecoam em leitores dos cinco continentes. Sua obra transcende fronteiras e transforma o silêncio em fala, o sofrimento em beleza, a dor em sabedoria.
O Focus Portal Cultural rende homenagem a este mestre da palavra que, ao longo de décadas, tem nos ensinado que “as palavras são como búzios, guardam dentro delas o som do mar”. Aos 70 anos, Mia continua a caminhar com a serenidade dos que sabem ouvir o mundo, com os pés descalços no chão da história e os olhos voltados para o infinito.
Que venham
muitos outros anos de escrita, de encantamento e de resistência poética.
Hoje, o tempo faz aniversário com ele.
© Alberto
Araújo
BIOGRAFIA DE MIA COUTO
António Emílio Leite Couto, conhecido mundialmente como Mia Couto, nasceu em 5 de julho de 1955, na cidade da Beira, em Moçambique, então colônia portuguesa. Filho do jornalista e poeta Fernando Couto, cresceu em um ambiente profundamente ligado à literatura e à liberdade de pensamento — dois pilares que marcariam toda a sua trajetória.
Ainda jovem, Mia envolveu-se com o jornalismo e a luta pela independência de Moçambique, atuando no movimento de libertação FRELIMO. Após a independência, em 1975, abandonou o curso de medicina para dedicar-se à comunicação e à reconstrução cultural do país, tornando-se diretor da Agência de Informação de Moçambique (AIM) e, posteriormente, editor do jornal Tempo.
Na década de 1980, retomou os estudos, formou-se em Biologia e passou a atuar como biólogo, profissão que exerce paralelamente à carreira literária. Seu olhar científico e sua sensibilidade poética se entrelaçam de forma única em sua obra, que une os mistérios da natureza às dores e esperanças humanas.
Estreou na literatura com o livro de poesia Raiz de Orvalho (1983), mas foi com os contos de Vozes Anoitecidas (1987) e, sobretudo, com o romance Terra Sonâmbula (1992) que Mia Couto conquistou reconhecimento internacional. Desde então, publicou dezenas de obras traduzidas em mais de 30 idiomas, consolidando-se como um dos maiores nomes da literatura contemporânea em língua portuguesa.
Entre seus livros mais aclamados estão O Último Voo do Flamingo, Um Rio Chamado Tempo, uma Casa Chamada Terra, Jerusalém, A Confissão da Leoa e a trilogia As Areias do Imperador. Sua escrita é marcada por neologismos poéticos, oralidade africana, reinvenção da língua e uma profunda escuta do mundo invisível.
Mia Couto recebeu inúmeros prêmios, entre eles o Prêmio Camões (2013) — o mais importante da literatura lusófona —, o Prêmio União Latina de Literaturas Românicas, o Prêmio Eduardo Lourenço, além de integrar a Academia Brasileira de Letras como membro correspondente.
Mais do que um autor, Mia é um guardião de memórias e mitos, um contador de histórias que transforma dor em beleza e reconcilia a África profunda com o universal humano. Aos 70 anos, sua palavra continua viva, germinando esperança em tempos de silêncio.
© Alberto
Araújo
05 de julho de 2025
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