Para Matilde Carone Slaibi Conti
Fiquei profundamente emocionado ao abrir o grupo dos Foculistas na manhã do dia 06 de julho de luz serena. Entre tantas postagens-mensagens, uma em especial me alcançou com a delicadeza de um rio que toca a margem sem alarde. Era uma mensagem da nossa presidente Matilde Slaibi Conti, deixada à sombra de minha prosa: “DA AURORA EM LUZILÂNDIA AO CREPÚSCULO NITEROIENSE: UM RIO DE AFETOS.” Aquelas palavras me alcançaram como se fossem uma carta engarrafada, navegando de um tempo ancestral e íntimo. Matilde escreveu: "As suas recordações da tão longínqua terra natal, chegam a me envolver e transportar para outro lugar, muito diferente geograficamente falando, porque os seus sertões não são nada parecidos com os meus Sertões do Leste, assim chamado carinhosamente pelo historiador, Paulo Mercadante, Zona da Mata Mineira e que também tem um rio que indolentemente serpenteia pela cidade. Seu nome é Xopotó, referente a uma tribo indígena que ali morava e significa, Cipó amarelo. É um afluente do Rio Doce, desaguando na grande Bacia do Rio Pomba. Muito brinquei e sonhei em suas margens, debaixo de pés de mangueira e amoreira, lá existente."
Na leitura, vi brotar diante de mim um outro sertão, o dela. Um sertão mineiro, envolto em cipós amarelos, guardado por mangueiras e amoreiras que testemunharam a infância de quem hoje preside com ternura nosso convívio literário. “Cuidado com o rio” – dizia a mãe de Matilde – “lá possuía cobras”. E a menina, atenta e sonhadora, fazia do cuidado uma forma de contemplar.
Então, respondi com o coração pulsando lembranças: “Olá, presidente Matilde, que beleza de travessia me ofertou com suas palavras… Senti o cheiro doce das amoreiras e o som morno do Xopotó, esse rio de nome ancestral que também guarda suas memórias e encantos. Que alegria saber que nossos sertões, tão distintos nos mapas, são irmãos na alma, unidos por essa infância que a natureza moldou entre cipós, mangueiras e os sussurros das mães que nos alertavam com amor. O seu Xopotó encontra meu Parnaíba nas curvas do afeto. Ambos nos ensinaram a sonhar com o que corre, com o que fica, com o que nos toca e nunca se vai. E aqui estamos, como disse tão bem, entrelaçando pensamentos, misturando águas de Minas e do Piauí, compondo esse rio imaginário feito de lembranças, saudades e ternuras. Obrigado por sua leitura generosa da minha prosa. Ela agora se alarga com a sua.” Sim, naquele instante, dois rios se encontraram. Um chamava-se Parnaíba, o outro Xopotó. Um fluía entre cajueiros e veredas piauienses. O outro dançava entre as encostas mineiras, reverenciando o nome indígena que ainda ecoa na terra. E juntos, esses dois rios se tornaram linguagem, ponte e poesia.
Porque é isso que somos, nós, elistas,
navegantes das palavras, bordadores do tempo, fiandeiros da memória.
Abraços molhados de saudade,
Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário