domingo, 2 de novembro de 2025

DOMINGO DE ENTREGA

Hoje é domingo, e o dia desperta com uma suavidade que parece pedir entrega. Em Icaraí, o mar está calmo, quase contemplativo, e o céu se estende como uma tela em branco, esperando por traços de silêncio e descoberta. Há uma paz que não se explica, mas se sente, como se o mundo tivesse decidido suspender os ruídos só para que a alma pudesse respirar. 

Clarice Lispector, com sua escrita que é mergulho e espelho, nos convida: “Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.” E talvez seja esse o chamado do domingo: render-se. Não como quem desiste, mas como quem confia. Como quem entende que há beleza no desconhecido, e que o controle é, muitas vezes, uma ilusão que nos impede de viver por inteiro.

Hoje, deixo que o dia me leve. Sem planos rígidos, sem expectativas pesadas. Apenas presença. Apenas escuta. Apenas entrega. Porque há algo de sagrado no domingo,  ele não exige, ele acolhe. Ele não cobra, ele oferece. E nesse espaço de acolhimento, tudo pode acontecer. 

É dia de mergulhar. No livro que espera na estante. Na conversa que ficou para depois. No descanso que o corpo pede. Na arte que insiste em nascer. Na fé que ainda pulsa, mesmo que tímida. Porque viver é também isso: permitir-se não saber, e mesmo assim seguir. 

Que neste domingo você se renda ao instante. Que mergulhe no que ainda não entende. Que encontre paz no não-planejado, e que o dia, mesmo quieto, seja cheio de sentido. 

Obs. Assista ao vídeo com Clarice Lispector 

© Alberto Araújo 

 


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