O agora, um sopro na vidraça da memória,
já se esvai, poeira em vento inclemente.
Ontem, um vulto na névoa da história,
hoje, lembrança vaga, quase ausente.
O tempo, esse rio que não cessa a fuga,
carrega em suas águas o que foi.
A cada tic-tac, a existência se esmaga,
em fragmentos de um instante que se dói.
As horas, ladrões de silenciosa arte,
roubam a cor do dia, a força da paixão.
Deixam no espelho a máscara da parte,
o rastro de uma efêmera canção.
Não há represa que detenha a corrente,
nem muro que impeça o seu avançar.
Somos grãos de areia, em fluxo permanente,
dançando na voragem do lugar.
E nesse bailado breve e dolorido,
onde o ser se desfaz em não mais ser,
resta a vertigem do vivido,
e a sombra do que nunca irá volver.
Assim caminha o tempo, impiedoso e leve,
deixando em nós a marca do fugaz.
Um eco de passado que não se move,
e a certeza de um futuro que jamais será capaz
de reter o instante que nos faz.
© Alberto Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário