sábado, 5 de abril de 2025

É SOBRE A EFEMERIDADE DA VIDA... O PÓ E O INSTANTE – POESIA DE ALBERTO ARAÚJO



O agora, um sopro na vidraça da memória,

já se esvai, poeira em vento inclemente.

Ontem, um vulto na névoa da história,

hoje, lembrança vaga, quase ausente.

 

O tempo, esse rio que não cessa a fuga,

carrega em suas águas o que foi.

A cada tic-tac, a existência se esmaga,

em fragmentos de um instante que se dói.

 

As horas, ladrões de silenciosa arte,

roubam a cor do dia, a força da paixão.

Deixam no espelho a máscara da parte,

o rastro de uma efêmera canção.

 

Não há represa que detenha a corrente,

nem muro que impeça o seu avançar.

Somos grãos de areia, em fluxo permanente,

dançando na voragem do lugar.

 

E nesse bailado breve e dolorido,

onde o ser se desfaz em não mais ser,

resta a vertigem do vivido,

e a sombra do que nunca irá volver.

 

Assim caminha o tempo, impiedoso e leve,

deixando em nós a marca do fugaz.

Um eco de passado que não se move,

e a certeza de um futuro que jamais será capaz

de reter o instante que nos faz.

 

© Alberto Araújo

 


 

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