segunda-feira, 26 de maio de 2025

A ETERNA GLÓRIA DA IMACULADA CONCEIÇÃO: UMA VISÃO DIVINA DE MURILLO



Contemplar "A Imaculada Conceição dos Veneráveis" é ser transportado para um reino de pureza celestial e devoção inigualável. Nesta obra-prima, o gênio sevilhano Bartolomé Esteban Murillo (1617–1682) nos presenteia com uma representação sublime da Virgem Maria, capturando o exato instante de sua concepção imaculada, livre de qualquer mancha de pecado original.

Com uma maestria incomparável, Murillo emprega a técnica do óleo sobre tela para dar vida a essa visão etérea. A luz emanando da figura central de Maria ilumina o cenário, destacando a suavidade de suas vestes e a serenidade de seu semblante, que irradia uma profunda paz e uma beleza divina. Rodeada por uma miríade de anjos e querubins, que flutuam em nuvens douradas, a Virgem é elevada aos céus, simbolizando sua pureza e sua ascensão gloriosa. 

Pintada entre os anos de 1678 e 1682, esta é uma das últimas e mais celebradas versões da Imaculada Conceição produzidas por Murillo. A delicadeza das pinceladas, a riqueza dos detalhes e a profundidade emocional da composição refletem a plena maturidade artística do pintor, consolidando seu legado como um dos maiores expoentes do Barroco espanhol. "A Imaculada Conceição dos Veneráveis" não é apenas uma obra de arte; é um hino visual à fé e à esperança, que continua a tocar os corações e a inspirar a contemplação séculos após sua criação. 

UM POUCO SOBRE BARTOLOMÉ ESTEBAN MURILLO

Bartolomé Esteban Murillo é, sem dúvida, um dos nomes mais proeminentes do Barroco espanhol, especialmente ligado à escola sevilhana. Sua obra se caracteriza por uma expressividade suave, cores vibrantes e uma profunda sensibilidade religiosa, que o tornaram extremamente popular tanto em sua época quanto posteriormente. 

Murillo nasceu em Sevilha, Espanha. Embora a data exata de seu nascimento seja incerta, sabe-se que foi batizado em 1º de janeiro de 1618. Era o caçula de 14 filhos de Gaspar Esteban, que era cirurgião-barbeiro, e María Pérez Murillo. Ele adotou o sobrenome de sua mãe, pelo qual se tornaria conhecido.

Órfão de pai e mãe ainda na infância (aos nove anos), Murillo foi criado por uma de suas irmãs mais velhas, Ana, casada com um barbeiro-cirurgião. Sua formação artística inicial se deu no ateliê de seu tio e padrinho, Juan del Castillo, um pintor local. Embora del Castillo não fosse um artista de primeira linha, ele introduziu Murillo aos fundamentos da pintura e ao ambiente artístico sevilhano. 

Em 1645, Murillo recebeu sua primeira grande encomenda: uma série de 13 pinturas para o claustro do Convento de San Francisco em Sevilha. Essas obras revelam a influência de mestres como Van Dyck, Ticiano e Rubens, sugerindo um possível contato com a pintura flamenga e veneziana, talvez por meio de uma viagem a Madri (embora não haja documentos que confirmem essa viagem). No mesmo ano, casou-se com Beatriz Cabrera y Villalobos, com quem teria nove filhos.

O estilo de Murillo evoluiu ao longo de sua carreira. Inicialmente, suas obras apresentavam um certo naturalismo, com características do tenebrismo (uso de fortes contrastes entre luz e sombra). No entanto, ele logo desenvolveu um estilo mais suave e luminoso, com pinceladas soltas e um uso magistral da cor e da luz. Ele era particularmente hábil em capturar a ternura e a doçura, o que o tornou um mestre na representação de temas religiosos, especialmente as Virgens e o Menino Jesus, e também de cenas de gênero com crianças e mendigos.

A década de 1660 foi um período de grande produtividade para Murillo. Em 1660, ele foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia de Belas Artes de Sevilha, demonstrando seu prestígio e influência na cidade.

Murillo desfrutou de grande sucesso e reconhecimento em vida. Suas obras eram muito procuradas, e ele teve numerosos seguidores e imitadores, os chamados "murillistas". Suas pinturas, frequentemente de cunho religioso, eram acessíveis e serviam para manter viva a devoção popular, funcionando como substitutos visuais das Escrituras Sagradas. 

Nos últimos anos de sua vida, Murillo continuou a trabalhar em importantes encomendas. Em 1680, enquanto trabalhava em um retábulo para a igreja dos Capuchinhos em Cádiz, ele sofreu uma queda de um andaime. As consequências desse acidente o levaram à morte poucos meses depois, em 3 de abril de 1682, em Sevilha.

A obra de Bartolomé Esteban Murillo deixou um legado duradouro na história da arte, sendo celebrado por sua capacidade de transmitir emoção, beleza e espiritualidade através de suas pinceladas e de seu inconfundível estilo barroco.

 

© Alberto Araújo 

 

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