A manhã de quarta-feira se abre suave sobre Niterói. Da minha janela em Icaraí, eu, um nordestino de coração, mas com a alma já abraçada por essa cidade, há anos, observo o movimento da Praia de Icaraí. O sol começa a beijar a areia, e a imensidão do mar, com a silhueta do Pão de Açúcar lá no fundo, pinta e vigia tudo. O Cristo Redentor, no Corcovado nos abençoando. De repente, uma brisa entra pela janela, e sinto uma presença. Não uma presença física, mas uma vibração ancestral, como se o próprio ar de Icaraí sussurrasse histórias.
Eu: - Arariboia? É você?
A brisa se adensa. Não é uma forma humana, mas a imagem translúcida de um guerreiro com um cocar imponente e um olhar profundo surge à minha frente. Seus olhos não são de estranhamento, mas de reconhecimento.
Arariboia: - Filho do sol, eu vejo que reconhece o espírito que habita esta terra. Sim, sou eu. Arariboia. O que o traz a estas paragens, tão longe do seu nascedouro?
Eu: - É uma honra, Arariboia. Sou nordestino, sim, mas Niterói me acolheu. E agora, daqui da minha janela em Icaraí, posso contemplar a beleza do bairro que o senhor tanto defendeu. Sua história de heroísmo, de bravura em proteger sua gente e sua terra, ecoa até hoje.
Arariboia: (Um sorriso sutil em seu rosto etéreo) - É bom saber que a memória persiste. Lutei para que este pedaço de chão continuasse sendo nosso. Para que o mar que aqui se estende fosse um espelho do céu, e não um caminho para a invasão. Ah! Icaraí... sim, este lugar era sagrado para meu povo. Vejo que o tempo o transformou, mas a essência do vento, do mar, da luz do sol, continua a mesma.
Eu: - Continua, Arariboia. E a força da sua luta também. Cada vez que olho para essa baía, para a imensidão do Pão de Açúcar lá no fundo, sinto a energia de tudo o que o senhor representou. É inspirador viver em um lugar com tanta história, com tanto sangue derramado em defesa. E hoje, é um lugar de paz, de encontros, de beleza.
Arariboia: (Sua imagem parece se intensificar por um instante, um brilho em seu olhar) - A paz é a maior recompensa da luta, meu jovem. Que você e os que aqui vivem saibam honrar a terra e a história que a moldou. A natureza, o mar, os morros... cada pedaço desta terra eles guarda as memórias. Escute-os.
Eu: - Eu sempre escutarei, Arariboia. E levarei sua história comigo, como um lembrete do que é ser forte e defender o que se ama. Obrigado por essa conversa.
A imagem de Arariboia começa a se dissipar, voltando a ser a brisa suave que entra pela janela. Mas a sensação de sua presença, a força de sua história, permanece. Olho novamente para a Praia de Icaraí, agora com um novo olhar, um olhar de gratidão e profundo respeito. A quarta-feira em Niterói, para mim, nunca mais será a mesma.
© Alberto
Araújo
28 de
maio de 2025.
ARARIBOIA: O CACIQUE TEMIMINÓ QUE FUNDOU NITERÓI E MARCOU A HISTÓRIA DO BRASIL
Arariboia, nascido por volta de 1520 na Ilha de Paranapuã e falecido em Niterói em 1589, aos 69 anos, foi um chefe temiminó, povo tupi que habitava o litoral brasileiro no século XVI. Sua história é intrinsecamente ligada à fundação de Niterói e à conquista da Baía de Guanabara pelos portugueses, tornando-o uma figura central nos primórdios da colonização do Rio de Janeiro. Batizado pelos jesuítas, ele recebeu o nome cristão de Martim Afonso de Sousa.
Expulsos do Rio de Janeiro pelos tamoios, seus inimigos tradicionais, os temiminós de Arariboia buscaram refúgio no Espírito Santo. Contudo, o destino os traria de volta à Guanabara, mas dessa vez, ao lado dos portugueses. A Baía de Guanabara era um ponto estratégico vital para Portugal, que buscava controlar a rota para o Oceano Índico e impedir a influência francesa, que havia se estabelecido na região com o Forte Coligny.
A aliança entre Arariboia e os portugueses, liderados por Estácio de Sá, foi decisiva. O cacique temiminó e seus guerreiros, com seu profundo conhecimento do território, foram cruciais na luta contra os franceses e os tamoios. O confronto mais intenso ocorreu em 20 de janeiro de 1567, em Uruçumirim, onde Arariboia se destacou pela bravura, sendo o primeiro a invadir o baluarte inimigo, empunhando uma tocha para explodir o paiol de pólvora. Essa vitória selou o controle português sobre a Baía de Guanabara e assegurou a sobrevivência da recém-fundada cidade do Rio de Janeiro.
Como recompensa por sua lealdade e bravura, Arariboia foi agraciado com terras na margem oposta à cidade do Rio de Janeiro, onde hoje se situa Niterói. Ali foi estabelecida a aldeia de São Lourenço dos Índios, que mais tarde daria origem à cidade da qual é considerado o fundador. Além das terras, recebeu o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o título de Capitão-Mor de sua aldeia.
Apesar de sua importância histórica, a figura de Arariboia gera controvérsias. Por ter se aliado aos portugueses contra outros grupos indígenas, como os tamoios, algumas fontes o apontam como um "traidor". No entanto, é fundamental compreender o contexto da época, onde as alianças eram forjadas por interesses e rivalidades preexistentes entre as etnias indígenas, como a inimizade entre tamoios e temiminós. Para Arariboia, a parceria com os portugueses representava uma vantagem estratégica para o seu povo.
Arariboia viveu até os seus últimos dias em Niterói, dedicando-se à proteção da região. Um episódio marcante de sua vida tardia foi o conflito com o governador-geral Antônio Salema, onde a dignidade do cacique foi ressaltada. A causa de sua morte, em 1589, é incerta, mas pesquisas recentes sugerem que ele pode ter sido vítima de uma epidemia, e não de afogamento, como se acreditou por muito tempo.
Hoje, Arariboia é reconhecido como uma figura histórica fundamental, com estátuas e homenagens em Niterói, perpetuando sua memória e seu papel crucial na formação da cidade e na consolidação do domínio português no sudeste brasileiro. Sua história, complexa e multifacetada, nos lembra de que a colonização foi um período de embates, alianças e transformações, onde o protagonismo indígena, muitas vezes negligenciado, foi essencial.
Pesquisado por © Alberto Araújo
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Arariboia
CURIOSIDADES:
Arariboia, um cacique da tribo Temiminó, é considerado o fundador de Niterói. Ele foi um personagem crucial na história da cidade e também desempenhou um papel importante na defesa do Rio de Janeiro.
Arariboia, cujo nome em tupi-guarani significa "Cobra da Tempestade", é reconhecido como o fundador de Niterói. Ele foi recompensado com terras na entrada da Baía de Guanabara por seu papel na conquista da região, dando origem ao povoado de São Lourenço dos Índios, que mais tarde se tornou a cidade de Niterói.
Além de sua importância em Niterói, Arariboia também foi um personagem importante na história do Rio de Janeiro. Ele auxiliou Estácio de Sá na defesa da cidade contra os franceses e na fundação do Rio de Janeiro, e posteriormente continuou a garantir a segurança na região.
Arariboia é lembrado em Niterói por
sua estátua na Praça Arariboia e por ser o único município brasileiro fundado
por um indígena. Sua história e legado são parte importante da cultura e da
identidade niteroiense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário