sexta-feira, 30 de maio de 2025

A REDESCOBERTA MILIONÁRIA DE UM BRASIL ESQUECIDO


Imagine um painel de madeira, escuro e quase ilegível, jogado por um século no sótão empoeirado de um celeiro em Connecticut, nos Estados Unidos. Ninguém poderia prever que, por trás da sujeira e do esquecimento, se escondia uma janela para o Brasil do século XVII — uma obra de arte que, ao ser redescoberta, valeria milhões. 

Esta pintura, intitulada "Vista de Olinda, Brasil, com Ruínas da Igreja Jesuíta", é um trabalho do renomado artista holandês Frans Post. Ele foi um dos primeiros europeus a documentar as paisagens das Américas. Na última quarta-feira (20), a peça foi arrematada em leilão pela Sotheby’s por US$ 7,37 milhões (equivalente a R$ 41,6 milhões) em apenas dois minutos! A obra, pintada há mais de 300 anos, retrata a cidade de Olinda após sua destruição pelos holandeses em 1631, com as ruínas da igreja jesuíta dominadas pela vegetação.

Frans Post chegou ao Brasil por volta de 1636, integrando a expedição liderada pelo governador da colônia holandesa, João Maurício de Nassau. Além da missão de expansão colonial, Post tinha um objetivo científico: catalogar a geografia, fauna e flora locais. Durante sua estadia, que se estendeu até 1644, ele produziu diversos esboços e pinturas de paisagens. Curiosamente, a obra-prima recém-descoberta foi pintada em 1666, já na Holanda, a partir de suas memórias e estudos feitos no Brasil. 

Após sua criação, a trajetória da pintura permaneceu um mistério por séculos. Sabe-se que foi adquirida no século XVIII pelo negociante Charles Simon, provavelmente para o cardeal Joseph Fesch, tio de Napoleão Bonaparte e um ávido colecionador, que a comprou por 160 francos. 

Como a obra acabou no celeiro de Connecticut é incerto, mas lá permaneceu esquecida por cerca de 100 anos. George Wachter, presidente e codiretor mundial do departamento de pinturas de mestres antigos da Sotheby’s, descreve o estado em que a pintura foi encontrada: "Estava imunda, escura, suja. Você mal conseguia enxergar o que havia ali". A redescoberta e o leilão dessa obra não apenas revelam a beleza da arte de Frans Post, mas também nos lembram como a história pode se esconder à vista de todos, esperando para ser redescoberta. 

© Alberto Araújo 

 

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