segunda-feira, 26 de maio de 2025

VOU-ME EMBORA PRA LUZILÂNDIA - POEMA DE ALBERTO ARAÚJO - PARÁFRASE DE VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA DE MANUEL BANDEIRA




 VOU-ME EMBORA PRA LUZILÂNDIA - 

POEMA DE ALBERTO ARAÚJO

 

Vou-me embora pra Luzilândia

Lá eu reencontro a paz

Lá tem cheiro de infância

E o tempo corre devagar.

 

Vou-me embora pra Luzilândia

Aqui, tudo pesa demais

Lá tem rede na varanda

E sorriso em cada cais.

 

Lá sou filho das lembranças

Do rio, da rua, do chão

Lá a vida anda descalça

Com ternura e pé no chão.

Tomo banho de riacho

Vejo o céu se avermelhar

Como antigamente, eu me deito

Pra ver as estrelas brilhar.

 

Vou na feira bem cedinho

Converso com Dona Zefa

E no banco da pracinha

Bato papo até dar hora certa.

Em Luzilândia tem de tudo:

Tem cuscuz, tem violão

Tem saudade que consola

E calor no coração.

 

E se um dia a tristeza

Quiser-me acompanhar

Chamo o vento do Parnaíba

Pra vir me embalar.

Vou-me embora pra Luzilândia

Onde a alma se refaz

Lá eu sou quem sempre fui

E ninguém me toma a paz.

 

© Alberto Araújo

 

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VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA - 

MANUEL BANDEIRA

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconsequente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d’água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcaloide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.

 

 Libertinagem (1930)


(Manuel Bandeira fala o seu poema
Vou-me embora para Pasárgada.
(Clicar na imagem)



 

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