POEMA DE ALBERTO ARAÚJO
Vou-me embora pra Luzilândia
Lá eu reencontro a paz
Lá tem cheiro de infância
E o tempo corre devagar.
Vou-me embora pra Luzilândia
Aqui, tudo pesa demais
Lá tem rede na varanda
E sorriso em cada cais.
Lá sou filho das lembranças
Do rio, da rua, do chão
Lá a vida anda descalça
Com ternura e pé no chão.
Tomo banho de riacho
Vejo o céu se avermelhar
Como antigamente, eu me deito
Pra ver as estrelas brilhar.
Vou na feira bem cedinho
Converso com Dona Zefa
E no banco da pracinha
Bato papo até dar hora certa.
Em Luzilândia tem de tudo:
Tem cuscuz, tem violão
Tem saudade que consola
E calor no coração.
E se um dia a tristeza
Quiser-me acompanhar
Chamo o vento do Parnaíba
Pra vir me embalar.
Vou-me embora pra Luzilândia
Onde a alma se refaz
Lá eu sou quem sempre fui
E ninguém me toma a paz.
© Alberto Araújo
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VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA -
MANUEL BANDEIRA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
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