sexta-feira, 16 de maio de 2025

SERTÃO EM MIM, CANÇÃO DO AGORA PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO


Aqui estou, neste chão de agora, onde o sol beija diferente e o vento canta outra melodia. Mas em cada palavra que sai da minha boca, carrega o eco do Piauí. Não se esconde, não se disfarça. É um rio que corre por dentro, desaguando em cada "oxente", em cada "arretado". No jeito de olhar, talvez, um tanto arisco e ao mesmo tempo curioso, como quem viu a vastidão da caatinga e se encanta com o verde que brota. 

Minha essência não ficou lá, na poeira vermelha e no céu de brigadeiro. Ela viajou comigo, costurada na alma como um bordado antigo. Sente-se no meu riso solto, que lembra as cantorias de roda e as histórias contadas à luz do lampião. Escorre no meu abraço apertado, que traz a memória dos encontros na praça, da família reunida. E no mais profundo do meu ser, pulsa a lembrança de Luzilândia, a terra da luz, a que os sois nos fascinam, chão airoso... Terra de Santa Luzia, Oásis do nosso amor... como tão belamente a nomeou o poeta Raimundo Vale, a Rainha do Piauí. Essa luz reside em mim, um farol interior que me guia. 

Quando abro a boca, é como se o vento do sertão sussurrasse junto. As vogais se alongam, as consoantes ganham um sabor diferente, um tempero único. É a marca da minha história, o mapa da minha identidade. Não renego, não tento apagar. Pelo contrário, celebro. Porque essa voz, com seu ritmo e sua melodia, é quem eu sou. É a prova viva de que a raiz forte se agarra, mesmo em terra distante. E em minhas veias, sinto a correnteza ancestral, as águas do Rio Parnaíba, o Velho Monge, a nutrir minha história, a embalar minha saudade.

E assim sigo, levando comigo o meu Piauí. Não como uma lembrança emoldurada, mas como uma força pulsante, um compasso interno que me guia. Que me faz sentir em casa, mesmo longe do lar. Porque a essência não se perde. Ela viaja na voz, no olhar, no jeito de ser. E quem me vê, quem me ouve, logo percebe: em mim, o Nordeste canta forte, eternamente, banhado pela luz de Luzilândia e pela força do meu Velho Monge. 

© Alberto Araújo

 


 

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