Minha terra, meu berço, meu altar, abençoada pela luz de Santa Luzia, que em tempos remotos emprestou sua luminosidade para batizar esta gleba, tornando-se a semente do que hoje conhecemos como Luzilândia. A ti volto o olhar, atento e faminto, como o lince na espreita da beleza. Teu encanto reside na melodia do vento que dança entre as folhas, no sussurro das águas que embalam a memória. És a musa que acende em mim a chama da poesia, tal qual a delicadeza etérea de um beija-flor que beija o néctar da vida.
Em tuas paisagens, vislumbro a sabedoria silenciosa do Velho Monge, a contemplação que transcende o tempo e ecoa nos vales. Acredito no princípio divino que nos moldou, na proteção materna que emana do terço de Maria, no enigma da inteligência que veste as asas das borboletas, seres que parecem decifrar os códigos secretos da natureza.
Sinto o pulsar ancestral da arqueologia em teu solo, a história gravada em cada fragmento de cerâmica, em cada vestígio de um passado que clama para ser ouvido. Pois a história, ah, minha terra, é a biografia definitiva dos poetas, o testemunho eterno da alma humana que em ti floresce, narrando as lutas, os sonhos e as canções de cada geração.
Meus olhos, fixos em ti como os de um lince observador, absorvem cada cor do teu céu, cada textura da tua terra, cada aroma que emana das tuas entranhas. Sinto-me parte indissolúvel da tua essência, um elo na corrente da tua existência, um filho que reconhece a beleza e a força que emanam de cada recanto. E nesse olhar profundo, que desvenda teus segredos e celebra tua história, reside a certeza de um amor enraizado, um canto perene que se eleva a cada amanhecer, ecoando entre a luz de Santa Luzia e a sabedoria do Velho Monge. Minha Luzilândia, minha terra amada, onde reside a meu cerne, o meu povo. A teu imo com a essência crepuscular está eternizado em meu coração.
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Alberto Araújo
LUZILÂNDIA
ÀS MARGENS DO PARNAÍBA
TEXTO
DE ALBERTO ARAÚJO
Às margens serenas do caudaloso Rio Parnaíba, no coração do Piauí, pulsa a história viva de Luzilândia. Nascida da pioneira Fazenda Estreito, fundada em 1890 pelo visionário português João Bernardino Souto Vasconcelos, esta terra trilhou um caminho sinuoso até firmar sua identidade.
Impulsionada pelo progresso e pela influência de figuras como o Coronel José Francisco de Carvalho e Augusto Gonçalves do Vale, a fazenda ascendeu à categoria de Vila e Sede Municipal em 1890, adotando o nome de Porto Alegre. No epicentro da comunidade, onde hoje se ergue a imponente Igreja Matriz, um singelo templo sem torre, adornado por um sino lateral, marcava a fé dos primeiros habitantes.
O tempo, contudo, teceu uma trama de mudanças nominais. Em 1931, Porto Alegre brevemente se vestiu de Joaquim Távora, para em 1935 reaver sua denominação original. Três anos depois, em 1938, a vila alçou voo para se tornar cidade, instalando-se no ano seguinte.
Entretanto, o mapa do Brasil impunha suas regras. A proibição de topônimos duplicados exigiu um novo batismo. Foi então, em 1943, que a cidade encontrou sua identidade definitiva: Luzilândia, uma reverente homenagem à sua santa padroeira, Santa Luzia, cujo templo, erguido no crepúsculo do século XIX, testemunhava a profunda devoção local.
Desde sua elevação à categoria de município e distrito em 1890, sob o nome de Porto Alegre, Luzilândia traçou sua jornada administrativa, ora sob uma nomenclatura, ora sob outra, até finalmente ancorar em seu nome atual. Cada mudança, registrada em decretos estaduais e divisões territoriais ao longo das décadas, ecoa a busca por uma identidade única e perene.
Assim, Luzilândia se apresenta não apenas como um ponto no mapa do Piauí, mas como um testemunho da resiliência e da fé de seu povo, uma terra onde a história flui tão vigorosamente quanto as águas do Parnaíba que a abraçam.
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SANTA LUZIA - A LUZ QUE GUIA E UNE
No coração do Piauí, a cidade de Luzilândia pulsa em um ritmo especial a cada 13 de dezembro. É o dia dedicado à Santa Luzia, a padroeira que empresta seu nome e ilumina a fé da comunidade. A celebração transcende o calendário, enraizando-se profundamente na alma luzilandense como uma tradição viva e vibrante.
A devoção a Santa Luzia se manifesta em cada canto da cidade. A igreja matriz, guardiã de seu nome, ergue-se como um símbolo de fé e esperança. Na praça central, uma estátua monumental reverencia a santa, lembrando a todos da sua constante proteção.
O dia 13 de dezembro é mais que uma data; é um elo que une gerações em oração e júbilo. As palavras ecoam pelos corações: "Santa Luzia, rogai por nós, neste dia e sempre... Amém!". É um clamor por sua intercessão, um pedido para que continue a iluminar os caminhos, proteger os olhos e fortalecer a crença que reside em cada habitante.
A festa de Santa Luzia é, portanto, uma celebração da identidade de Luzilândia, um momento de reafirmação da fé e de exaltação da padroeira que vela por sua gente. É um "viva" entoado em uníssono, ecoando a devoção, a tradição e o amor por esta terra abençoada.
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O VELHO MONGE - SINFONIA DE ÁGUAS QUE MOLDAM O NORDESTE
Não é apenas um curso d'água que serpeia entre o Maranhão e o Piauí. É o "Velho Monge", um apelido tecido em poesia pela alma sensível de Antônio Francisco da Costa e Silva, que personifica a majestade do Rio Parnaíba. Com seus aproximadamente 1.400 quilômetros, ele não é meramente um rio; é a espinha dorsal hídrica, o maior rio genuinamente nordestino, um corredor líquido que desafia a secura e pulsa com vida em cada metro navegável de sua extensão.
Nascido nas entranhas da Serra da Tabatinga, onde Piauí, Bahia, Maranhão e Tocantins se encontram, o Parnaíba inicia sua jornada como um fio d'água que se fortalece, tal qual um monge ancestral ganhando sabedoria com o fluir do tempo. Seu destino final é um espetáculo da natureza: um delta multifacetado, uma tapeçaria de canais que se entregam ao oceano, marcando a força de sua jornada.
Este "Velho Monge" é muito mais que um elemento geográfico. É a veia pulsante da economia e da sociedade das regiões que acaricia. De suas águas generosas emanam sustento para a pesca artesanal, fertilidade para a agricultura que alimenta famílias, e a promessa de caminhos abertos pela navegação. Suas correntezas também ecoam o potencial energético, impulsionando o desenvolvimento.
Acima de tudo, o Parnaíba é fonte de vida. É o elixir que sacia a sede da população ribeirinha, o habitat essencial para uma sinfonia de espécies animais e vegetais que dependem de seu leito e de suas margens. Sua presença garante a biodiversidade, tecendo uma rica tapeçaria ecológica ao longo de seu percurso.
Curiosamente,
o nome que o precede, Parnaíba, carrega a força de um paradoxo: em tupi,
significa "mar padecido". Contudo, a alcunha poética de "Velho
Monge" transcende essa origem, elevando o rio a um símbolo de sabedoria,
constância e a silenciosa, porém poderosa, influência que exerce sobre a vida e
a paisagem do Nordeste brasileiro. O "Velho Monge" não apenas flui;
ele abençoa, nutre e conecta, gravando sua marca indelével na história e no
futuro dessas terras.
©
Alberto Araújo
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