Cantemos a saga de Emily, alma reclusa
e forte,
Nascida em maio, findando em maio, um
destino, uma sorte.
Em Amherst, Massachussets, mil
oitocentos e trinta, a luz primeira,
Dezembro a viu chegar, na terra
americana, altaneira.
Filha de Edward, advogado de nome e de
saber,
E Emily Norcross, no lar a tecer o
bem-querer.
Na Academia de Amherst, os anos da
juventude,
E em Mount Holyoke, breve jornada, a
buscar virtude.
Mas o mundo lá fora, com seu clamor e
seu afã,
Não prendia a alma de Emily, seu
espírito, seu sã.
Na casa ancestral, "The
Homestead", seu reino escolheu,
E entre paredes, a musa interior
floresceu.
Os anos sessenta, a reclusão
crescente, véu sutil,
Do contato humano, um afastamento, um
novo perfil.
Mas não o isolamento da mente que
busca e que cria,
Pois em cadernos, a tinta vertia,
torrente bravia.
Benjamin Newton, jovem letrado, a
semente plantou,
De Emerson e do saber, seu espírito
despertou.
Samuel Bowles, da folha impressa,
amigo leal, talvez amante,
E Susan, a cunhada dileta, confidente
constante.
Seus laços, mistérios envoltos, em
cartas e em canções,
Incendiando a alma da poetisa, em profundas
emoções.
Amor, morte, imortalidade, a natureza
em flor,
A fé, a dúvida constante, em cada
verso, um tremor.
Sua métrica ousada, rimas quebrando a
tradição,
Versos concisos, sem título, pura
pulsação.
Metáforas vívidas, paradoxos a bailar,
Uma voz singular, no silêncio a ecoar.
Poucos poemas viram a luz, anônimos,
alterados,
Mas mil e oitocentos aguardavam, em
segredos guardados.
"Fascicles", cadernos
tesouro, após sua partida,
Revelaram ao mundo a grandeza, a alma
florida.
José Lira, em São Paulo, a Iluminuras
ousou,
"ALGUNS POEMAS" traduziu, o
véu um pouco afastou.
Trezentas e vinte páginas, o prefácio
a guiar,
Paulo Henrique Britto, a essência a
desvelar.
E a Folha de São Paulo, na coleção
singular,
"Poemas Escolhidos" nos
trouxe, para o espírito alegrar.
Cento e seis páginas apenas, a
introdução a nos guiar,
Ivo Bender, as portas da alma a
escancarar.
Assim, a Musa de Amherst, reclusa e
genial,
Em seus versos eternos, transcende o
temporal.
Sua odisseia terrena, em maio teve seu
fim,
Mas sua poesia ressoa, um legado sem
confim.
A voz que do silêncio emergiu, forte e
vibrante,
Na história da poesia, um diamante
brilhante.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
Nenhum comentário:
Postar um comentário