RIO PARNAÍBA (VELHO MONGE) PEDE AJUDA
– POESIA DE ALBERTO ARAÚJO – EXTRAÍDA DO SEU LIVRO: CAMINHOS PERCORRIDOS – EU E A
POESIA PAG. 175.
Nasço distante
entre rochedos e matagais...
Tenho pressa, tenho que correr
preciso dar de comer a quem tem fome,
preciso dar de beber a quem tem sede,
sei a hora de chegar.
Sou um moço bom,
em mim tu podes navegar...
Tenho nome
identidade
tenho até apelido, na intimidade.
Tantas e tantas vezes eu chorei
quando em mim tu te afogaste
pois quisera nesse momento
ter cabelo de Sansão para te segurar
De mim terás comida, água boa
pode até se banhar.
Não podes dormir em meu peito
pois é muito profundo o meu leito
No entanto, sou tão indefeso
os covardes
depositam em mim, imundícies-dejetos.
Todo tipo de lixo
por isso estou eu doente
tenho uma dor no peito
Quero ainda ver o teu filho crescer
o teu neto nascer
e compartilharem comigo um sorriso
um abraço forte e sincero
por favor, me ajudem a viver
EU não quero morrer.
© Alberto Araújo
O DIA DO RIO É COMEMORADO EM 24 DE
NOVEMBRO, assim como o Dia Mundial da Água é comemorado no Dia 22 de março –
estas datas foram instituídas devido a grande preocupação com a escassez da
água, assim como a preservação e proteção dos recursos naturais.
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O Rio Parnaíba, também conhecido como Velho Monge é um curso de água que divide, politicamente, os estados do Maranhão e do Piauí. É o maior rio, genuinamente, nordestino sendo navegável em toda sua extensão. O poeta escreveu essa poesia em homenagem a esse caudaloso rio que tanto nos alimenta.
Poesia e o texto de ©Alberto Araújo
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Análise da Poesia "RIO PARNAÍBA (VELHO MONGE) PEDE AJUDA" de Alberto Araújo pela poetisa e escritora Anna Müller
A
poesia de Alberto Araújo, "RIO PARNAÍBA (VELHO MONGE) PEDE AJUDA",
extraída do livro "Caminhos Percorridos – Eu e a Poesia", personifica
o rio Parnaíba de maneira tocante e urgente. Através de uma linguagem simples,
mas carregada de emoção, o rio se apresenta como um ser vivo, com necessidades,
sentimentos e um apelo desesperado por socorro.
Personificação
e Voz do Rio:
O
recurso central da poesia é a personificação do rio Parnaíba. Ele não é apenas
um corpo d'água, mas ganha voz, sentimentos e características humanas. A
alcunha de "Velho Monge" sugere sabedoria, experiência e talvez até
uma certa resignação diante do sofrimento. Essa personificação permite ao leitor
criar uma conexão empática com o rio, compreendendo sua importância e
fragilidade.
As
Duas Faces do Rio:
A
poesia explora duas faces do rio. Inicialmente, ele se apresenta como um
"moço bom", generoso e essencial para a vida. Ele nasce
"distante", em um ambiente natural e puro, e sua pressa em correr é
justificada pela necessidade de prover sustento ("dar de comer a quem tem
fome / preciso dar de beber a quem tem sede"). Há uma beleza e utilidade
intrínsecas ao rio, que permite a navegação e oferece recursos vitais como
comida e água para banho.
No
entanto, essa imagem positiva é abruptamente contrastada com a realidade da
poluição e do descaso. O rio se revela "indefeso" diante da ação
"covarde" daqueles que depositam nele "imundícies-dejetos"
e "todo tipo de lixo". Essa agressão causa-lhe "dor no
peito", metaforizando o sofrimento e a degradação de seu leito.
Sentimentos
e Vulnerabilidade:
A
poesia carrega uma forte carga emocional. O rio expressa tristeza ("Tantas
e tantas vezes eu chorei / quando em mim tu te afogaste"), demonstrando
uma conexão com a vida humana e um sentimento de impotência diante da tragédia.
O desejo de ter "cabelo de Sansão para te segurar" ilustra seu anseio
de proteger e sua frustração por não poder fazê-lo em certas situações.
A
vulnerabilidade do rio é enfatizada pela impossibilidade de oferecer repouso
seguro em seu "leito muito profundo". Essa característica, que pode
ser vista como natural, torna-se um contraponto à agressão que ele sofre,
mostrando que sua natureza não o protege da maldade humana.
O
Apelo por Ajuda e a Esperança no Futuro:
O
clímax da poesia reside no apelo direto por ajuda: "por favor, me ajudem a
viver / EU não quero morrer". Esse grito desesperado revela a gravidade da
situação e a urgência da intervenção humana. O rio não apenas lamenta sua
condição presente, mas também expressa um desejo de futuro, de presenciar o
ciclo da vida humana ("Quero ainda ver o teu filho crescer / o teu neto
nascer") e de compartilhar momentos de alegria ("um sorriso / um
abraço forte e sincero"). Essa esperança, mesmo em meio ao sofrimento,
torna o apelo ainda mais comovente.
Linguagem
e Tom:
A
linguagem da poesia é simples e direta, o que contribui para a força da
mensagem. A repetição de verbos como "tenho", "preciso",
"sei" na primeira estrofe enfatiza a vitalidade e a urgência do rio.
A escolha de palavras como "covardes" e
"imundícies-dejetos" expressa a indignação diante da poluição. O tom
geral é de súplica, mas também de esperança e de uma profunda conexão com a
vida humana.
Conclusão:
"RIO PARNAÍBA (VELHO MONGE) PEDE AJUDA" é uma poesia poderosa que utiliza a personificação para dar voz a um dos mais importantes rios do Brasil. Através da perspectiva do próprio rio, Alberto Araújo denuncia a poluição e o descaso ambiental, ao mesmo tempo em que evoca a essencialidade da água para a vida e a beleza da natureza. O apelo final por ajuda ressoa como um alerta urgente à sociedade, convidando à reflexão e à ação em defesa dos recursos hídricos e do meio ambiente como um todo. A poesia transcende a descrição para se tornar um clamor pela vida e pela preservação do futuro.
Luzilândia,PI, maio de 2010.
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