quinta-feira, 22 de maio de 2025

SENTINELAS DA ORLA - AS AMENDOEIRAS DE ICARAÍ - POESIA DE ALBERTO ARAÚJO


SENTINELAS DA ORLA

POESIA DE ALBERTO ARAÚJO


Amendoeiras de Icaraí,

verdes sempre.

Raízes agarradas na areia,

testemunhas do tempo.


Cada folha um sussurro antigo,

cada tronco, a memória das ondas.

Sentinelas imóveis,

olhando o mar que vai e volta.

 

Suas copas vastas,

abrigo de histórias.

Ventos que sopraram forte,

marés que beijaram a praia.

 

A sombra amiga,

o descanso breve.

A presença constante,

na paisagem que muda.

 

Amendoeiras de Icaraí,

perenes.

Um livro aberto

ao sol de cada dia.

 

© Alberto Araújo 


O LIVRO VERDE DA ORLA

PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

As amendoeiras da Praia de Icaraí não são meras árvores. São anciãs verdes, cada uma portando em sua arquitetura retorcida e forte um volume de histórias sussurradas pelo vento e salpicadas pela maresia. Seus troncos ásperos guardam as digitais do tempo, as cicatrizes de invernos ruidosos e o polimento suave de incontáveis verões. 

Cada folha, vibrante esmeralda ou ocre nostálgico, pulsa com uma vida miúda, testemunha silenciosa do ir e vir incessante da existência humana. Elas viram os passos apressados dos que correm contra o sol, os namoros tímidos sob sua sombra acolhedora, os castelos de areia desmoronando sob a risada infantil. Sentiram a melancolia dos olhares perdidos no horizonte e a alegria contagiante dos mergulhos nas águas da Guanabara. 

Essas sentinelas verdes assistem, dia após dia, ao ritual da vida que se desenrola à sua volta. Sentem o beijo úmido das ondas que lambem a areia, o calor do sol que acaricia suas copas, a dança incessante das gaivotas em seu céu particular. Elas absorvem a energia da praia, a melancolia das partidas e a esperança dos reencontros. 

Cada amendoeira é um livro aberto, suas páginas folheando-se ao sabor da brisa. Em cada galho, uma narrativa; em cada raiz fincada na terra, a firmeza da memória. Elas são mais que árvores; são a alma verde da Praia de Icaraí, pulsando em uníssono com o coração da cidade, guardando em sua perene verdura os segredos e as canções da beira-mar.


O BREVE INCÊNDIO DA ESPERANÇA

PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO


"As folhas caem, mas a raiz permanece, 

forte, para saudar a primavera que virá."


As amendoeiras da Praia de Icaraí, vestidas em tons efêmeros de um vermelho incandescente e um marrom terroso, acendem a orla em um espetáculo fugaz. É o suspiro final do inverno, uma explosão de cores antes da promessa verdejante da primavera. Por um único dia, talvez dois, elas se transformam em tochas vivas, flamejando contra o azul ainda frio do céu, um prenúncio vibrante do renascimento. 

Cada folha avermelhada é uma chama que arde com as memórias dos ventos gelados que se foram, das noites longas e silenciosas à beira-mar. Elas carregam consigo os ecos das conversas abafadas sob seus galhos despidos, os passos apressados buscando o calor fugaz do sol de inverno. As folhas marrons, ainda agarradas aos ramos, são testemunhas silenciosas da resiliência, da espera paciente pela renovação.

Nesse breve incêndio de cores, cada árvore pulsa com uma história única. Elas viram os últimos casacos pesados serem guardados, os primeiros sorrisos mais amplos sob o sol que ganha força. Sentiram o ar mudar, carregado de uma nova leveza, e ouviram o som das ondas da Guanabara com uma melodia diferente, anunciando a vida que retorna. 

Por um instante mágico, essas sentinelas da praia revelam a beleza da transição, a força da natureza em se despojar para renascer. Suas folhas avermelhadas e marrons, como pinceladas de um artista efêmero, capturam o olhar dos passantes, despertando a mesma esperança que brota em seus galhos. Elas lembram que mesmo o mais intenso dos tons outonais precede a promessa vibrante do verde, que a vida, à beira-mar, é um ciclo eterno de despedidas e renascimentos, sentido na pele de cada folha, na solidez de cada tronco. E amanhã, quando o verde intenso dominar, a memória desse breve incêndio de esperança permanecerá, silenciosa, na essência perene das amendoeiras de Icaraí.

© Alberto Araújo

 











(CLICAR NA IMAGEM PARA VER O FILME
DAS AMENDOEIRAS DE ICARAÍ POR ALBERTO ARAÚJO)


 

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