15 de maio de 2025. A notícia, por intermédio da renomada cantora lírica Magda Belloti uma fã incondicional da grande mestra, nos alcançou com um impacto profundo: Maria Lúcia Godoy, a incomparável intérprete de Heitor Villa-Lobos e um dos maiores nomes da história da música lírica brasileira, a artista faleceu aos 100 anos e nos deixa em estado de perplexidade e profunda tristeza.
O mundo lírico veste o luto pela perda desta voz singular, que ecoou pelos palcos do Brasil e do mundo, encantando gerações com sua técnica impecável e interpretação emocionante.
A soprano mineira, que transitou com mestria do repertório erudito às serestas, conquistou a admiração de gigantes como Bidu Sayão, que a considerava sua única sucessora, e do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Sua voz foi poeticamente descrita como um "pássaro voando" por Ferreira Gullar e como "ouro que não se destrói" por Carlos Drummond de Andrade, testemunhos da beleza e da perenidade de seu talento.
Neste momento de dor, sabemos que a pianista Talitha Perez, amiga de longa data de Maria Lúcia, viajou até Minas Gerais para prestar suas últimas homenagens. Sua presença demonstra o profundo laço pessoal e artístico que unia a pianista à grande cantora.
Nascida em Mesquita, no Rio de Janeiro e radicada em Belo Horizonte, Maria Lúcia Godoy deixou uma marca indelével na cultura brasileira, estando intrinsecamente ligada a momentos cruciais da nossa história. Sua voz ecoou em homenagem ao translado dos restos mortais de Dom Pedro I ao Brasil, no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa. A convite do Presidente Juscelino Kubitschek, abrilhantou a cerimônia de inauguração de Brasília com sua arte. Em um momento de luto para o cinema nacional, sua interpretação das Bachianas Brasileiras nº 5 de Villa-Lobos emocionou a todos no enterro do diretor Glauber Rocha.
Seu reconhecimento transcendeu os palcos, sendo condecorada com a Grã-Cruz da Inconfidência pelo governo de Minas Gerais. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também a homenageou, concedendo-lhe a Medalha de Honra em 19 de dezembro de 2002, em cerimônia presidida pela reitora Ana Lúcia Almeida Gazzola, e o título de Doutor Honoris Causa em 15 de setembro de 2016, sob a presidência do Magnífico Reitor Jaime Arturo Ramírez.
O velório, em reconhecimento à sua
importância para a cultura, será realizado com merecidas honrarias no foyer do
Palácio das Artes, um dos principais templos culturais de Minas Gerais, a
partir das 10h. O sepultamento está marcado para as 17h, no Cemitério do
Bonfim. Em uma entrevista concedida ao jornal O Tempo em 2024, seu sobrinho e
guardião do acervo, Daniel Godoy, expressou o desejo de disponibilizar a vasta
obra de Maria Lúcia para apreciação pública em uma exposição na UFMG e através
de plataformas digitais, garantindo que seu legado continue a inspirar.
O legado de Maria Lúcia Godoy é vasto
e inspirador. Sua dedicação à música brasileira, sua técnica vocal primorosa e
sua sensibilidade artística a consagraram como um ícone cultural. O Brasil se
despede de uma voz inesquecível, mas sua arte permanecerá viva em suas
gravações e na memória daqueles que tiveram o privilégio de ouvi-la. Que seu
canto eterno continue a inspirar futuras gerações de músicos e amantes da
beleza sonora.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
O ECO DE CRISTAL: UM LEGADO EM MELODIA
PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO –
HOMENAGEM A MARIA LUCIA GODOY
Epígrafe: "A voz de veludo que
acaricia a alma." _ Alberto Araújo
O silêncio preenche o teatro agora vazio, onde há pouco vibraram as ondas sonoras de Maria Lucia Godoy. As cortinas, como pálpebras cansadas, deslizam em seu encontro, selando por ora o palco que testemunhou a magia. Mas que engano pensar que o som se esvai por completo! Ele reverbera nas paredes da memória, nos corações tocados, um eco de cristal que o tempo jamais silenciará.
"O cantar da riqueza lírica, um tesouro para os ouvidos." _ Alberto Araújo
Sua voz, um instrumento divino afinado
pela disciplina e adornado pelo talento inato, flutuava no ar como um espírito
etéreo. Cada nota, um diamante lapidado, refletia a luz das emoções mais puras:
a alegria vibrante, a melancolia pungente, a paixão incandescente. Em suas
interpretações, as personagens ganhavam alma, vestiam-se de carne e osso
através daquele dom único de dar vida à partitura.
"A maestria que transcende a técnica, alcançando a pura emoção." _ Alberto Araújo
Os agudos alcançavam as alturas como pássaros em voo, límpidos e poderosos, enquanto os graves aveludados acariciavam a alma com uma ternura profunda. Sua técnica impecável era a serva humilde da expressividade, permitindo que cada inflexão, cada nuance, carregasse a força de um sentimento genuíno.
"Uma artista que pintava a música
com a paleta da sua voz." _ Alberto Araújo
Maria Lucia Godoy não era apenas uma cantora; era uma contadora de histórias através do canto, uma alquimista que transformava palavras e melodias em pura emoção. Sua presença no palco era magnética, a postura elegante, o olhar intenso, tudo convergindo para a entrega total à arte.
"O legado eterno de uma voz que ecoará através dos tempos." _ Alberto Araújo
Agora, as luzes se apagam sobre a sua
performance derradeira, mas a chama que ela acendeu em tantos corações continua
a brilhar. O legado de sua voz, a marca indelével de seu talento, transcende o
instante fugaz do espetáculo. Ele reside nos registros sonoros que perpetuam
sua maestria, nas lembranças vívidas de quem a ouviu, na inspiração que semeou
em futuras gerações de artistas.
As cortinas podem ter se fechado para
a apresentação, mas o palco da história da música lírica brasileira para sempre
guardará um lugar de honra para Maria Lucia Godoy. Seu eco de cristal
continuará a ressoar, eterno, na sinfonia da nossa cultura.
© Alberto Araújo
15 de maio de 2025, ocasião do falecimento da Diva Maria Lúcia Godoy.
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