2025: O Grito Centenário de Pau-Brasil
Em 1925, sob o céu ainda ecoante da Semana de Arte Moderna, um livro irrompeu no cenário literário brasileiro como um raio em dia de sol: Pau-Brasil, de Oswald de Andrade. Mais que uma simples reunião de versos, era a própria alma do Brasil pulsando em ritmo novo, libertando-se das amarras de um passado literário empoeirado.
Imagine a ousadia: um poeta capturando a essência bruta da terra, a fala cotidiana, os fragmentos da história como pedras preciosas encontradas ao acaso. Oswald não cantava melodias suaves; ele gritava a brasilidade em acordes dissonantes, em pinceladas rápidas e vibrantes, tal qual a arte de Tarsila do Amaral que vestiu o livro com sua visão revolucionária.
Pau-Brasil não era um livro para ser lido, era para ser sentido. Era o cheiro da mata, o sabor da fruta nativa, o ritmo sincopado do samba nascendo nas ruas. Era a carta de Caminha revisitada com um olhar debochado e inteligente, desmistificando o passado com a irreverência do presente.
Em 2025, um século depois desse manifesto poético em forma de livro, a voz de Pau-Brasil ressoa ainda mais forte. Sua influência permeia a poesia que se fez depois, plantando as sementes para a concisão drummondiana, a objetividade cabralina e a ruptura da poesia concreta.
Celebrar os 100 anos de Pau-Brasil não é apenas revisitar um clássico. É reconectar-se com a audácia de um movimento que ousou reinventar o Brasil através da arte. É ouvir o grito original de uma identidade em construção, um grito que ainda ecoa, desafiador e vibrante, nos corações e nas palavras dos artistas brasileiros de hoje. Pau-Brasil: um século de pura, indomável brasilidade.
Pau-Brasil, de Oswald de Andrade foi publicado em 1925, este livro de poemas é um marco da primeira fase do modernismo no Brasil. Ele propõe uma poesia de exportação, com uma linguagem concisa e temas da cultura brasileira, buscando uma identidade nacional na literatura.
Um poema que se destacou do livro Pau-Brasil de Oswald de Andrade é "A Querência e a Exportação". Ele se caracteriza pela linguagem direta, pela crítica às elites e pela valorização da cultura brasileira.
Fragmento de "A Querência e a Exportação":
"A
floresta e a escola. A cozinha, o minério e a dança.
Os homens que sabiam tudo se deformaram como babéis de borracha."
Este fragmento exemplifica a visão do movimento Pau-Brasil, que buscava uma arte mais próxima do cotidiano brasileiro, rompendo com as influências europeias e valorizando a pluralidade da cultura local. Outros poemas do livro Pau-Brasil, como "Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais", também refletem essa postura, destacando a identidade brasileira e a crítica aos modelos importados.
©
Alberto Araújo
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