quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

JOHN KEATS POETA BRITÂNICO 200 ANOS DE SAUDADES. A POESIA DE KEATS É CARACTERIZADA POR UM IMAGINÁRIO SENSUAL, MAIS VISÍVEL NA SUA SÉRIE DE ODES. ATUALMENTE, SEUS POEMAS E CARTAS SÃO CONSIDERADAS ENTRE AS OBRAS MAIS POPULARES E ANALISADAS NA LITERATURA INGLESA.

 


ODE SOBRE UMA URNA GREGA

 

I

 

Inviolada noiva de quietude e paz,

         Filha do tempo lento e da muda harmonia,

Silvestre historiadora que em silêncio dás

         Uma lição floral mais doce que a poesia:

Que lenda flor-franjada envolve tua imagem

         De homens ou divindades, para sempre errantes.

                Na Arcádia a percorrer o vale extenso e ermo?

Que deuses ou mortais? Que virgens vacilantes?

         Que louca fuga? Que perseguição sem termo?

                Que flautas ou tambores? Que êxtase selvagem?

 

II

 

A música seduz. Mas ainda é mais cara

         Se não se ouve. Dai-nos, flautas, vosso tom;

Não para o ouvido. Dai-nos a canção mais rara,

         O supremo saber da música sem som:

Jovem cantor, não há como parar a dança,

         A flor não murcha, a árvore não se desnuda;

                Amante afoito, se o teu beijo não alcança

A amada meta, não sou eu quem te lamente:

         Se não chegas ao fim, ela também não muda,

                É sempre jovem e a amarás eternamente.

 

III

 

Ah! folhagem feliz que nunca perde a cor

         Das folhas e não teme a fuga da estação;

Ah! feliz melodista, pródigo cantor

          Capaz de renovar para sempre a canção;

Ah! amor feliz! Mais que feliz! Feliz amante!

          Para sempre a querer fruir, em pleno hausto,

                Para sempre a estuar de vida palpitante,

Acima da paixão humana e sua lida

          Que deixa o coração desconsolado e exausto,

                A fronte incendiada e língua ressequida.

 

IV

 

Quem são esses chegando para o sacrifício?

           Para que verde altar o sacerdote impele

A rês a caminhar para o solene ofício,

           De grinalda vestida a cetinosa pele?

Que aldeia à beira-mar ou junto da nascente

           Ou no alto da colina foi despovoar

                 Nesta manhã de sol a piedosa gente?

Ah, pobre aldeia, só silêncio agora existe

           Em tuas ruas, e ninguém virá contar

                  Por que razão estás abandonada e triste.

 

V

 

Ática forma! Altivo porte! em tua trama

           Homens de mármore e mulheres emolduras

Como galhos de floresta e palmilhada grama:

           Tu, forma silenciosa, a mente nos torturas

Tal como a eternidade: Fria Pastoral!

           Quando a idade apagar toda a atual grandeza,

                 Tu ficarás, em meio às dores dos demais,

Amiga, a redizer o dístico imortal:

           "A beleza é a verdade, a verdade a beleza"

                 — É tudo o que há para saber, e nada mais.

 

 

 

 

John Keats nasceu em Londres, 31 de outubro de 1795  e faleceu em Roma, 23 de fevereiro de 1821, foi um poeta inglês. Foi o último dos poetas românticos do país, e, aos 25, o mais jovem a morrer. Juntamente com Lord Byron e Percy Bysshe Shelley, foi uma das principais figuras da segunda geração do movimento romântico, apesar de sua obra ter começado a ser publicada apenas quatro anos antes de sua morte. Durante sua vida seus poemas não foram geralmente bem recebidos pelos críticos; sua reputação, no entanto, cresceu à medida que ele exerceu uma influência póstuma significativa em diversos poetas posteriores, como Alfred Tennyson e Wilfred Owen.

 

Poeta romântico britânico nascido em Londres, que apesar de sua curta existência tornou-se um dos mais importantes nomes do romantismo da literatura inglesa, considerado o último e maior dos poetas românticos ingleses. Filho de um cavalariço enriquecido, mas órfão dos pais ainda criança (1904), teve educação irregular e foi levado pelo seu tutor Edmonton, onde foi incentivado a aprender o ofício de cirurgião.  Depois de cinco anos de estudos e práticas, foi nomeado externo do Guy's Hospital de Londres e começou a trabalhar como assistente de cirurgia (1814), mas abandonou a medicina para se dedicar à literatura e começou publicando Poemas (1817), com composições de concepção romântica, mas não obteve sucesso. Seu estilo foi influenciado pelos poetas gregos do período helênico, como Homero, bem como pelos poetas elizabetanos e ingleses do século XVI. Com base em leituras de clássicos traduzidos e textos mitológicas, concebeu seu Endymion (1818), em que inverte o mito da paixão de Diana pelo pastor. Rejeitado pela crítica, concebeu um projeto ainda mais ambicioso, o Hyperion (1818-1819), sobre o tema da a expulsão dos titãs do Olimpo pelos novos deuses, porém não chegou a concluir devido aos primeiros sinais da tuberculose. Sua saúde declinou rapidamente e os últimos meses do poeta foram vividos em Roma e, desiludido como literato e sem reconhecimento em vida, morreu com pouco mais de 25 anos de idade. Ao contrário do que ele mesmo esperava, com uma obra essencialmente lírica, marcada pelo sentimentalismo romântico, por imagens vibrantes, de grande apelo sensual, e pela expressão de aspectos da filosofia clássica, compôs alguns dos poemas mais perfeitos do gênero em língua inglesa, sua influência estendeu-se a simbolistas, pré-rafaelitas e outros poetas modernos do início do século XX, como os poetas ingleses Alfred Tennyson (1809-1892), primeiro barão de Tenysson,e o também dramaturgo Robert Browning (1812-1889).

 

OBRA JOHN KEATS  PUBLICADA NO BRASIL

 

John Keats, by J. Severn

:: Ode a um rouxinol e Ode sobre uma urna. John Keats [tradução introdução Augusto de Campos]. Florianópolis: NoaNoa, 1984.

:: Poemas de John Keats. [tradução, introdução e notas Péricles Eugênio da Silva Ramos]. São Paulo: Editora Art, 1985.

:: John Keats – nas invisíveis asas da poesia. [tradução Alberto Marsicano e John Milton]. São Paulo: Iluminuras, 2002.

:: Byron e Keats - entreversos. [tradução Augusto de Campos]. Campinas SP: Editora UNICAMP, 2009, 189p.

:: Ode sobre a melancolia e outros poemas. John Keats. [organização e tradução Pericles Eugênio da Silva Ramos]. São Paulo: Editora Hedra, 2010, 154p.

 







 

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