terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE NA SESSÃO: UMA VOLTA AO PLANETA DO FOCUS PORTAL CULTURAL POESIAS "A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE" E "SE ALGUMA VEZ, NOS SALÕES DE UM PALÁCIO"

 






SESSÃO: UMA VOLTA AO PLANETA DO FOCUS PORTAL CULTURAL. POESIAS "A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE" E "SE ALGUMA VEZ, NOS SALÕES DE UM PALÁCIO" DE  CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE.

 

 

A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE

 

Teu ar, teu gesto, tua fronte

São belos qual bela paisagem;

O riso brinca em tua imagem

Qual vento fresco no horizonte.

 

A mágoa que te roça os passos

Sucumbe à tua mocidade,

À tua flama, à claridade

Dos teus ombros e dos teus braços.

 

As fulgurantes, vivas cores

De tuas vestes indiscretas

Lançam no espírito dos poetas

A imagem de um balé de flores.

 

Tais vestes loucas são o emblema

De teu espírito travesso;

Ó louca por quem enlouqueço,

Te odeio e te amo, eis meu dilema!

 

Certa vez, num belo jardim,

Ao arrastar minha atonia,

Senti, como cruel ironia,

O sol erguer-se contra mim;

 

E humilhado pela beleza

Da primavera ébria de cor,

Ali castiguei numa flor

A insolência da Natureza.

 

Assim eu quisera uma noite,

Quando a hora da volúpia soa,

Às frondes de tua pessoa

Subir, tendo à mão um açoite,

 

Punir-te a carne embevecida,

Magoar o teu peito perdoado

E abrir em teu flanco assustado

Uma larga e funda ferida,

 

E, como êxtase supremo,

Por entre esses lábios frementes,

Mais deslumbrantes, mais ridentes,

Infundir-te, irmã, meu veneno!

 

 

 

SE ALGUMA VEZ, NOS SALÕES DE UM PALÁCIO"

 

 

Se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, a vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos! Deslumbrai-vos!

 

 

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Celebrado como o primeiro poeta moderno e um dos escritores de mais forte influência nas gerações posteriores mundo afora, Baudelaire contrabandeou para a poesia de sua época, marcada pelo idealismo romântico, o mal-estar das cidades e o choque do feio, dos temas sujos e doentios.

 

Ao publicar As Flores do Mal, ele foi condenado por ofensa à moral pública. Além de pagar uma multa em dinheiro, a justiça obrigou-o a retirar seis poemas do volume. Os seis voltaram a integrar a obra onze anos depois, na primeira edição póstuma do livro, em 1868.

 

O primeiro texto ao lado é um desses poemas condenados, "À celle qui est trop gaie" ("A que está sempre alegre"). Ao comentar especificamente a censura a esse poema, Baudelaire diz: "Os juízes julgaram descobrir um sentido a um tempo sanguinário e obsceno nas duas últimas estrofes. A gravidade da coletânea excluía semelhantes gracejos. Mas veneno equivalendo a spleen ou a melancolia era uma idéia muito simples para criminalistas. Que sua interpretação sifilítica lhes fique na consciência!"

 

Segundo nota do editor francês, "a que está sempre alegre" é Apollonia Sabatier, animadora cultural pariense, cuja casa era freqüentada por figuras como Gustave Flaubert, Théophile Gautier e o próprio Baudelaire. A sorridente Madame Sabatier também teve um caso com o poeta.

 

Outra pequena amostra de Baudelaire vem de seu livro "Petites Poèmes en Prose", de 1862. Trata-se do conhecido poema "Enivrez-vous" ("Embriaguem-se"). Uma curiosidade: esse texto é citado no "Poema da Necessidade", de Carlos Drummond de Andrade:

"É preciso estudar volapuque/ é preciso estar sempre bêbedo,/ é preciso ler Baudelaire/ é preciso colher as flores/ de que falam velhos autores." (In Sentimento do Mundo, 1940)

 

Por fim, "O Convite à Viagem", uma simpática florzinha do mal que propõe uma fuga para um lugar onde "tudo é paz e rigor/ luxo, beleza e langor". Enfim, uma proposta de sonho e fuga que hoje não tem nada de maldito. Até lembra o clima da canção de Gilberto Gil: "Vamos fugir/ Pr'outro lugar, baby/ (...) outro lugar ao sol/ Outro lugar ao sul/ Céu azul, céu azul/ Onde haja só meu corpo nu/ Junto ao seu corpo nu".

 

No Brasil, destacam-se dois tradutores d'As Flores do Mal. Um é o paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), que verteu 21 dos poemas, reunidos no livro Flores das "Flores do Mal" de Baudelaire (Edições de Ouro). O outro é o carioca Ivan Junqueira (1934-), que cometeu a monumental proeza de passar ao português todos os 167 poemas do volume. Eles estão em: Charles Baudelaire, As Flores do Mal, edição bilíngue, tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira (Nova Fronteira, 1985). Há ainda a tradução, igualmente completa, de Jamil Almansur Haddad.

 

 

UM POUCO SOBRE CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE

 

 

 

CHARLES-PIERRE BAUDELAIRE  nasceu em Paris, 9 de abril de 1821 e faleceu em Paris, 31 de agosto de 1867) foi um poeta boémio, dandy, flâneur e teórico da arte francesa. É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia, juntamente com Walt Whitman, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.

 

BIOGRAFIA

 

Nasceu em 9 de abril de 1821 em Paris. Estudou no Colégio Real de Lyon e Lycée Louis-le-Grand (de onde foi expulso por não querer mostrar um bilhete que lhe fora passado por um colega).

 

Em 1840, foi enviado pelo padrasto, preocupado com sua vida desregrada, à Índia, mas nunca chegou ao destino. Para na ilha da Reunião e retorna a Paris. Atingindo a maioridade, ganha posse da herança do pai. Por dois anos, vive entre drogas e álcool na companhia de Jeanne Duval. Em 1844, sua mãe entra na justiça, acusando-o de pródigo, e então sua fortuna torna-se controlada por um notário.

 

Em 1857, é lançado As flores do mal, contendo 100 poemas. O autor do livro é acusado, no mesmo ano, pela justiça, de ultrajar a moral pública. Os exemplares são apreendidos, pagando, de multa, o escritor, 300 francos, e a editora, 100 francos.

 

Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro. Baudelaire aceita a sentença e escreve seis novos poemas, "mais belos que os suprimidos", segundo ele.

 

Mesmo depois disso, Baudelaire tenta ingressar na Academia Francesa. Há divergência, entre os estudiosos, sobre a principal razão pela qual Baudelaire tentou isso. Uns dizem que foi para se reabilitar aos olhos da mãe (que, dessa forma, lhe daria mais dinheiro), e outros dizem que ele queria se reabilitar com o público em geral, que via suas obras com maus olhos em função das duras críticas que ele recebia da burguesia.

 

MORTE

 

Foi na Bélgica que Baudelaire encontrou Félicien Rops, que ilustra "As flores do mal". Durante uma visita à Igreja de St. Loup, de Namur, Baudelaire perde a consciência. Este colapso é acompanhado por alterações cerebrais, particularmente afasia. Desde março de 1866, ele sofre de hemiplegia. Ele morreu de sífilis em Paris, em 31 de agosto de 1867, sem a realização do projecto de uma edição final de "As flores do mal", como ele desejava. Ele está enterrado no Cemitério de Montparnasse (sexta divisão), no mesmo túmulo de seu padrasto, o general Jacques Aupick, e sua mãe. Morreu prematuramente sem sequer conhecer a fama.























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