CACILDA
BECKER YÁCONIS nasceu em Pirassununga, São Paulo, 1921 e faleceu em São Paulo, São Paulo, 1969,
Atriz. Protagonista de vários espetáculos do Teatro Brasileiro de Comédia,
fundadora da companhia que leva o seu nome, Cacilda Becker interpreta
personagens antagônicos, como o moleque de Pega Fogo, a velha de Jornada de um
Longo Dia para Dentro da Noite, a devassa de Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?,
a rainha de Maria Stuart, o clown de Esperando Godot. Indo da farsa à tragédia,
do clássico ao moderno, é considerada, por alguns teóricos, a maior atriz do
teatro brasileiro.
Ainda
menina, estuda dança e trabalha para manter a casa. Aos 20 anos, atua no Teatro
do Estudante do Brasil - TEB, em 3.200 Metros de Altitude, de Julien Luchaire,
e Dias Felizes, de Claude-Andre Puget, tendo como ensaiadora Esther Leão, em
1941. Ainda nesse ano, une-se à Companhia de Comédias Íntimas, de Raul Roulien,
participando de uma série de espetáculos, entre eles, Trio em Lá Menor, de
Raimundo Magalhães Junior, sob a direção de cena de Sadi Cabral. Faz
rádio-teatro. Em 1943, ingressa no grupo criado por Décio de Almeida Prado,
Grupo Universitário de Teatro - GUT, no qual participa de três espetáculos:
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente; Os Irmãos das Almas, de Martins Pena;
e Pequenos Serviços em Casa de Casal, de Mário Neme. Trabalha, em 1944, na
Companhia de Comédias de Bibi Ferreira. Em 1945, volta ao GUT, atuando em Farsa
de Inês Pereira e do Escudeiro, de Gil Vicente, direção de Décio de Almeida
Prado. Colabora com Os Comediantes na remontagem de Vestido de Noiva, de Nelson
Rodrigues, no papel de Lúcia, a irmã da protagonista, em 1947. Ainda nesse ano,
sob o mesmo conjunto, participa também de Era Uma Vez um Preso, de Jean
Anouilh, com direção de Ziembinski; Terras do Sem Fim, adaptação de Graça Mello
do livro de Jorge Amado, dirigido por Zigmunt Turkov; e Não Sou Eu..., de
Edgard da Rocha Miranda, mais uma encenação de Ziembinski.
Em
1948, protagoniza A Mulher do Próximo, texto e direção de Abílio Pereira de
Almeida, um dos espetáculos inaugurais do Teatro Brasileiro de Comédia - TBC,
em sua fase amadora. É a primeira profissional a ser contratada pela companhia.
Está presente em quase todas as montagens do conjunto entre 1949 e 1955, com
destaque para Nick Bar...Álcool, Brinquedos, Ambições, de William Saroyan e
Arsênico e Alfazema, de Joseph Kesselring, ambos dirigidos por Adolfo Celi em
1949. Em 1950, participa de A Ronda dos Malandros, de John Gay, espetáculo
polêmico de Ruggero Jacobbi.
No
Teatro das Segundas-Feiras, acontece a sua primeira consagração. Pega Fogo, de
Jules Renard, inicialmente formando um programa triplo ao lado de outros dois
textos, torna-se um grande sucesso, entrando em carreira no horário nobre do
teatro e permanecendo em cartaz por muito tempo. Sua interpretação do moleque
Poil de Carotte lhe vale um artigo apaixonado de Michel Simon, quando o
espetáculo se apresenta no Teatro das Nações, em Paris. O crítico compara a
atriz a Charlie Chaplin e Jean Louis Barrault, e, depois de dizer que ela
rompera sua pretensa frieza de especialista fazendo-o chorar, procura a origem
da emoção no "rosto emaciado", no "olhar em vírgula (como nos
desenhos de Poulbot)", nos "gestos pletóricos de garoto infeliz e
arrogante" e afirma: "Poil de Carotte não pode ter mais, para mim e
para muitos outros, de agora em diante, outro rosto senão o seu".
Atua
em Seis Personagens à Procura de Um Autor, de Luigi Pirandello, novamente
dirigida por Celi, e A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, encenação
de Luciano Salce, ambos em 1951. No ano seguinte, está em Antígone, de Sófocles
(1º ato) e de Jean Anouilh (2º ato). Em 1955, é antagonista de sua irmã, Cleyde
Yáconis, em Maria Stuart, de Schiller, novamente com o diretor Ziembinski.
Despede-se
do TBC em 1957 e funda um ano depois, com Walmor Chagas, Ziembinski, Cleyde
Yáconis e Fredi Kleemann, o Teatro Cacilda Becker - TCB, no qual desempenha sua
carreira durante 22 anos. Em 1958, está em Jornada de um Longo Dia para Dentro
da Noite, de Eugene O'Neil, representando Mary Tyrone, personagem vinte anos
mais velha do que ela; protagoniza A Visita da Velha Senhora, de Dürrenmatt,
1962; é premiada com medalha de ouro da Associação Brasileira de Críticos
Teatrais - ABCT, como melhor atriz de 1965, pelas peças A Noite do Iguana, de
Tennessee Williams, e O Preço de um Homem, de Steve Passeur.
Sob
a direção de Maurice Vaneau, interpreta a protagonista de Quem Tem Medo de
Virgínia Woolf?, de Edward Albee, também em 1965. O crítico Décio de Almeida
Prado relembra: "A prolongada sessão de terapia pela bebida, pela
flagelação e autoflagelação que é Quem Tem Medo de Virgínia Woolf? deu-lhe
ensejo para uma de suas maiores criações. À medida que a sua voz e a sua dicção
se tornavam pastosas, que as insinuações sexuais, deliberadamente vulgares, se
explicitavam, aumentava a alucinante fusão estabelecida entre intérprete e personagem.
Uma senhora, dias depois de assistir ao espetáculo, não se conteve quando lhe
falaram em Cacilda Becker, "Bêbada", murmurou indignada. Cacilda se
queixou, aliás, de espectadores que, terminada a peça, na hora dos
agradecimentos, avançavam para o palco e a insultavam baixinho".
Os
efeitos da ditadura militar sobre a atividade teatral fazem surgir uma Cacilda
Becker militante das causas de sua classe. Demitida da TV Bandeirantes, sob a
alegação de que suas interpretações são subversivas. A atriz assume a
presidência da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, lugar que enfrenta a
repressão em defesa dos direitos dos artistas e produtores. Quando, em 1968, o
espetáculo Primeira Feira Paulista de Opinião sofre 71 cortes de censura no dia
do lançamento, a atriz surge no proscênio e se responsabiliza pela apresentação
do texto na íntegra, em um ato de rebeldia e desobediência civil. Sua convicção
faz com que os censores e agentes federais presentes no teatro acatem sua
decisão e assistam ao espetáculo.
Durante
uma sessão de Esperando Godot, de Samuel Beckett, com direção de Flávio Rangel,
1969, a atriz sofre um derrame cerebral e morre 38 dias depois. Ao se completar
10 anos de sua morte, Yan Michalski escreve em artigo para o jornal: "...
não temos até hoje outra atriz-fenômeno como Cacilda, com a mesma generosidade
de entrega, a mesma capacidade de mergulhar até o fundo em cada personagem, a
mesma inquietação, tenacidade, a mesma coragem na composição, pedra por pedra,
de um repertório coerente. [...] Uma pessoa com este carisma, com esta
capacidade de falar legitimamente em nome de todo o teatro brasileiro, e sempre
disposta a fazê-lo com firmeza e serenidade, talvez seja o que mais nos faz
falta desde que Cacilda desapareceu [...]".
FONTE
BIOGRÁFICA
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa349429/cacilda-becker
Falar e rever a vida da rainha do teatro brasileiro é importante para futuras gerações...ótimo para todos este brinde.
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