sábado, 13 de fevereiro de 2021

FOCUS PORTAL CULTURAL RECOMENDA: LEIA A ENTREVISTA DA DRA. NISE DA SILVEIRA CONCEDIDA À JORNALISTA, ESCRITORA DALMA NASCIMENTO, EM 1995. TAMBÉM PUBLICADA NO LIVRO: ANTÍGONAS DA MODERNIDADE - PERFORMANCES FEMININAS NA VIDA REAL OU NA FICÇÃO LITERÁRIA

 

FOCUS PORTAL CULTURAL RECOMENDA: LEIA A ENTREVISTA DA DRA. NISE DA SILVEIRA CONCEDIDA À JORNALISTA, ESCRITORA DALMA NASCIMENTO, EM 1995. TAMBÉM PUBLICADA NO LIVRO: ANTÍGONAS DA MODERNIDADE - PERFORMANCES FEMININAS NA VIDA REAL OU NA FICÇÃO LITERÁRIA. EDITORA TEMPO BRASILEIRO, 2013, PÁGINAS: 131, 132, 133, 134.







ENTREVISTA COM  A PRINCESA CARALÂMPIA

Dalma Nascimento. Por que optou por medicina/

Nise da Silveira –  A medicina me pareceu mais adaptável à minha personalidade: ajudar os outros.

D.N. – Era bem vista pelos colegas num tempo de tantas restrições à mulher?

N.S. – Não fui a única mulher da turma. Havia outra, mas não continuou. Meus colegas me aceitavam cordialmente, porque eu não permitia a distinção entre homem e mulher. Hostilidade, sim, de alguns professores.

D.N – Ao concluir medicina, aos 21 anos, fez um trabalho sobre a criminalidade das mulheres baianas (ladras, assassinas, prostitutas). Por que o interesse por seres marginais?

N.S. Foi minha tese de doutoramento.  Interessei-me pelo tema por serem estas mulheres mais infelizes e rejeitadas pelos arrogantes indivíduos que se julgam normais.

D.N. – E o conhecimento de Jung? Frequentou algum seminário dele?

N.S. – Não, ele não dava mais seminários, mas frequentei o Instituto Jung (Zurique, Suíça),. Fiz análise individual com Marie Louise von Franz e segui seus cursos.

D.N. – Como iniciou sua luta contra os tratamentos e  iniquidades?

N.S. – Fiz concurso para médico no Rio (Centro Psiquiátrico Pedro II). Por vocação, continuei ligando-me aos oprimidos. Aí, fui para a cadeia, passei um ano e quatro meses presa, sem processo, sem qualquer acusação e defesa. Isso apenas por ter livros e ligações com pessoas da esquerda. Minha reação é de total revolta contra as ditaduras.

D.N.. – E suas companheiras de cela? Relate esta dolorosa experiência.

N.S. – Algumas eu já conhecia. De outras, me tornei amiga na prisão. Maria Werneck faleceu há pouco tempo. Eneida Valentina Barbosa Bastos, uma pessoa de alta inteligência! Elisa Berger, grande mulher, corajosa, culta, tinha o leito junto ao meu. Olga Prestes foi para a Alemanha, grávida  entregue aos criminosos nazistas. Por ser judia, terminou no forno de gás. Elisa, por ser alemã, foi decapitada.

D.N.– E sua amizade com Graciliano Ramos? Várias vezes, com admiração e estima, ele a cita em "Memórias do Cárcere". Houve um maior envolvimento entre ambos?

N.S. – Não, apenas uma grande amizade. Nós nos entendíamos muito bem, éramos afins de temperamento. Depois da prisão, sempre nos visitávamos. Amizades feitas em cadeia permanecem.

D.N. – Por que ele a chamou de “Princesa Caralâmpia”?

N.S. – Caralâmpia é um termo lúdico. Eu o uso, há anos, em vários sentidos. Por exemplo, eu olho para você e digo: hoje está com uma cara caralâmpica. Na prisão, o nome cresceu. Ao sair de lá, Graça escreveu o livro infantil "O mundo dos meninos pelados, governado pela Princesa Caralâmpia.

D.N.  – E os gatos? Por que usa a terapia dos animais nos acompanhamentos clínicos?

N.S.–Os internos precisam desse elo com o  mundo. Os gatos são afetuosos, leais e altivos. Se bem tratados, correspondem; se não, tem-se que reconquistá-los.

D. N. – Spinoza, uma de suas paixões, teria a ver com os “inumeráveis e perigosos estágios do ser”? Ou esta ideia é de Artaud, sobre quem também  escreveu um livro?

N. S. – Não creio que Spinoza tenha falado sobre isso. O tema liga-se, de fato, a Artaud.

D. N. – Qual o momento mais decisivo de sua vida?

N. S. – É difícil dizer. Talvez o da saída da cadeia.

D. N. – A mulher intelectual, benemérita da humanidade, conciliou este aspecto com o casamento?

N. S. –  Quanto à vida doméstica e a meu marido, não houve problemas. Ele era também médico, de especialidade diferente, mas tínhamos pontos de contacto. Era socialista, o que nos ligou muito. Aplicava interpretações marxistas à saúde pública, embora fosse mais prático do que eu, bem mais sonhadora.

P.S-Publicado hoje, no Facebook, com cortes.  Primeira publicação na Tribuna da Imprensa, em 23/03/1995, com o título “A princesa Caralâmpia de um reino sem grades”, quando ela fez 90 anos. Republicado em 15/03/1997, em O Correio, título: “Nise da Silveira, o farol dos alienados e as imagens do inconsciente”. Artigo e entrevista completos no livro ''Antígonas da Modernidade- Performances femininas na vida real ou na ficção literária.



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COMENTÁRIO DE ALBERTO ARAÚJO


Nota 1.000!!! Para essa entrevista com a Dra. Nise da Silveira, inclusive, para todos nós da literatura/cultura será sempre uma preciosidade. Uma mina rara de sabedoria no coração da cultura brasileira. Muito obrigado professora Dalma Nascimento por "republicar" no Facebook a magnífica entrevista que Dra. Nise da Silveira concedeu a senhora, em março de 1995, quando completara 90 anos. Entrevista essa que foi publicada em sua importante obra "ANTÍGONAS DA MODERNIDADE - Performances femininas na vida real ou na ficção literária, a qual tem o selo da Editora Tempo Brasileiro, 2013, páginas 131, 132, 133, 134. Tenho essa espetacular obra, e estou com o livro nas mãos, mas é sempre bom "reler" algo altamente, informativo e fascinante. Imprimi e reli há pouco, dediquei a entrevista de Dra. Nise da Silveira à minha esposa Shirley. Como a senhora sabe, ambas têm tudo a ver com a fecundante força expressiva da psiquiatria. OBRIGADO, mil vezes OBRIGADO. Abraços do ALBERTO ARAÚJO. 12-02-21.


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Alberto Araújo, nem sei o que responder diante dessa manifestação sua tão amiga, carinhosa, sensível e tão bem escrita. Fiquei muitíssimo feliz em ter relido o texto, mencioná-lo, inserindo todos os informes. Infelizmente, só disponho de dois exemplares da obra Antígonas da Modernidade e a Editora acabou. Apreciei muitíssimo o seu gesto, ao dedicar meu texto à sua EXTRAORDINÁRIA SHIERLEY, MULHER DOS MAIORES MÉRITOS EM TODOS OS SENTIDOS. Além de haver identidade profissional entre as duas. AMBAS DEDICARAM-SE À ANÁLISE DA ALMA HUMANA. PARABÉNS, VOCÊ, QUERIDA SHIRLEY VOCÊ MERECE, MERECE, MERECE!


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Amigos,  também assistam, no Canal YOUTUBE ao filme "NISE - O  CORAÇÃO DA  LOUCURA", a  vida  da Dra  Nise da Silveira, representada por Glória Pires. CLICAR NO LINK: https://youtu.be/bOrymJuwVvI 

Sinopse do filme: Nos anos 1950, uma psiquiatra contrária aos tratamentos convencionais de esquizofrenia da época é isolada pelos outros médicos. Ela então assume o setor de terapia ocupacional, onde inicia uma nova forma de lidar com os pacientes, pelo amor e a arte.


OUTROS COMENTÁRIOS


Cybele Pimentel de Sá

Alberto Araújo amei conhecer a doutora Nise.

Que mulher extraordinária! Grata, querida Dalma, pela oportunidade .

Dalma Nascimento

Cybele Pimentel de Sá ,ELA ERA MUITO ALÉM DO TERMO EXTRAORDINÁRIA cYBELE. Não lhe mandei meu livro Antígona da Modernidade? Lá aludo a ela e a várias. MAS CERTAMENTE DRA NISE DA SILVEIRA ULTRAPASSA TODAS MAIS.

Sandra Maria Taves

Uma grande mulher que muito trabalhou pelos seres fragilizados!

 ·

Dalma Nascimento

Sandra Maria Taves ,querida colega dos tempos da nossa graduação na UFF. Obrigada por coparticipar de meu entusiasmo pela doutora Nise.

Matilde Carone Slaibi Conti

Parabéns pela entrevista.

Sensacional.

Rosangela Claussen Rodrigues

Entrevista maravilhosa! 👏👏👏 Parabéns Dalma Nascimento e Nise da Silveira.

Luanda de Oliveira

Parabéns pela entrevista.

Gratidão.

Eliana Bueno Ribeiro Vianna Santos

Bela entrevista!

Angela Gemesio

Dalma, professora, publiquei o quadro que me pediu no zap seu, creio ser ele, caso queira observar é só abrir o zap, e nada mais, coloquei dessa forma pois pediu, e não tenho como te encontrar para dizer!!! Abraços!!

Luzia Porto

Que beleza, Dalma Nascimento . Tive o prazer de visitar a Dra Nise. De tomar chá com ela. De conhecer seus gatos, dos quais mantinha a prudente distância. Eles vinham até mim. Conheci os dois apartamentos. Acho que eram em andares diferentes. Tive a chance de lhe dar um K7 do filme O Piano. Ela me perguntou o porquê de eu ter levado esse presente, ao que respondi: "Porque achei que combinava com a senhora e que fosse gostar". Ela se calou. Ouviu a música e perguntou a mim e ao amigo que me levara até lá: "Vocês sabem que eu tocava piano em Alagoas? Estudei lá o instrumento". Ela apreciou o meu agrado, eu fiquei feliz e lhe contei do filme homônimo, com a Holly Hunter, o Harvey Keitel e o Sam Neil. Meu amigo ficou de alugar uma cópia para que víssemos juntos. Não aconteceu. Se ela estivesse viva, comemoraria muuuuitos anos agora, dia 15 de fevereiro.

Ma Raquel Ruiz

Maravillosa mujet ! Que coraje y talento en su vida Felicidades por la entrevista

Lucia Bettencourt

Parabéns.

Eunice Gutman

Bravo!




 

Eu tenho a magnífica obra ANTÍGONAS DA MODERNIDADE - Performances femininas na vida real ou na ficção literária da escritora, doutora Dalma Nascimento. Acabei de reler a Entrevista da Dra. Nise da Silveira, para mim é uma relíquia!!! Abraços do ALBERTO ARAÚJO.









Alberto Araújo disse: Na oportunidade assistam ao trecho de fala de Dra. Nise da Silveira no Canal You Tube do Focus. Uma relíquia.

Clicar no link: https://youtu.be/4fNMi08M4zY

TRECHOS DA FALA DE NISE DA SILVEIRA YOUTUBE.COM



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