FOCUS PORTAL CULTURAL RECOMENDA: LEIA A ENTREVISTA DA DRA. NISE DA SILVEIRA CONCEDIDA À JORNALISTA, ESCRITORA DALMA NASCIMENTO, EM 1995. TAMBÉM PUBLICADA NO LIVRO: ANTÍGONAS DA MODERNIDADE - PERFORMANCES FEMININAS NA VIDA REAL OU NA FICÇÃO LITERÁRIA. EDITORA TEMPO BRASILEIRO, 2013, PÁGINAS: 131, 132, 133, 134.
ENTREVISTA COM A PRINCESA CARALÂMPIA
Dalma Nascimento. Por que optou por
medicina/
Nise da Silveira – A medicina me pareceu mais adaptável à minha
personalidade: ajudar os outros.
D.N. – Era bem vista pelos colegas
num tempo de tantas restrições à mulher?
N.S. – Não fui a única mulher da
turma. Havia outra, mas não continuou. Meus colegas me aceitavam cordialmente,
porque eu não permitia a distinção entre homem e mulher. Hostilidade, sim, de
alguns professores.
D.N – Ao concluir medicina, aos 21
anos, fez um trabalho sobre a criminalidade das mulheres baianas (ladras,
assassinas, prostitutas). Por que o interesse por seres marginais?
N.S. Foi minha tese de
doutoramento. Interessei-me pelo tema
por serem estas mulheres mais infelizes e rejeitadas pelos arrogantes
indivíduos que se julgam normais.
D.N. – E o conhecimento de Jung?
Frequentou algum seminário dele?
N.S. – Não, ele não dava mais
seminários, mas frequentei o Instituto Jung (Zurique, Suíça),. Fiz análise
individual com Marie Louise von Franz e segui seus cursos.
D.N. – Como iniciou sua luta contra
os tratamentos e iniquidades?
N.S. – Fiz concurso para médico no
Rio (Centro Psiquiátrico Pedro II). Por vocação, continuei ligando-me aos
oprimidos. Aí, fui para a cadeia, passei um ano e quatro meses presa, sem
processo, sem qualquer acusação e defesa. Isso apenas por ter livros e ligações
com pessoas da esquerda. Minha reação é de total revolta contra as ditaduras.
D.N.. – E suas companheiras de
cela? Relate esta dolorosa experiência.
N.S. – Algumas eu já conhecia. De
outras, me tornei amiga na prisão. Maria Werneck faleceu há pouco tempo. Eneida
Valentina Barbosa Bastos, uma pessoa de alta inteligência! Elisa Berger, grande
mulher, corajosa, culta, tinha o leito junto ao meu. Olga Prestes foi para a
Alemanha, grávida entregue aos
criminosos nazistas. Por ser judia, terminou no forno de gás. Elisa, por ser
alemã, foi decapitada.
D.N.– E sua amizade com Graciliano
Ramos? Várias vezes, com admiração e estima, ele a cita em "Memórias do
Cárcere". Houve um maior envolvimento entre ambos?
N.S. – Não, apenas uma grande
amizade. Nós nos entendíamos muito bem, éramos afins de temperamento. Depois da
prisão, sempre nos visitávamos. Amizades feitas em cadeia permanecem.
D.N. – Por que ele a chamou de
“Princesa Caralâmpia”?
N.S. – Caralâmpia é um termo
lúdico. Eu o uso, há anos, em vários sentidos. Por exemplo, eu olho para você e
digo: hoje está com uma cara caralâmpica. Na prisão, o nome cresceu. Ao sair de
lá, Graça escreveu o livro infantil "O mundo dos meninos pelados,
governado pela Princesa Caralâmpia.
D.N. – E os gatos? Por que usa a terapia dos
animais nos acompanhamentos clínicos?
N.S.–Os internos precisam desse elo
com o mundo. Os gatos são afetuosos,
leais e altivos. Se bem tratados, correspondem; se não, tem-se que
reconquistá-los.
D. N. – Spinoza, uma de suas
paixões, teria a ver com os “inumeráveis e perigosos estágios do ser”? Ou esta
ideia é de Artaud, sobre quem também
escreveu um livro?
N. S. – Não creio que Spinoza tenha
falado sobre isso. O tema liga-se, de fato, a Artaud.
D. N. – Qual o momento mais
decisivo de sua vida?
N. S. – É difícil dizer. Talvez o
da saída da cadeia.
D. N. – A mulher intelectual,
benemérita da humanidade, conciliou este aspecto com o casamento?
N. S. – Quanto à vida doméstica e a meu marido, não
houve problemas. Ele era também médico, de especialidade diferente, mas
tínhamos pontos de contacto. Era socialista, o que nos ligou muito. Aplicava
interpretações marxistas à saúde pública, embora fosse mais prático do que eu,
bem mais sonhadora.
P.S-Publicado hoje, no Facebook,
com cortes. Primeira publicação na
Tribuna da Imprensa, em 23/03/1995, com o título “A princesa Caralâmpia de um
reino sem grades”, quando ela fez 90 anos. Republicado em 15/03/1997, em O
Correio, título: “Nise da Silveira, o farol dos alienados e as imagens do
inconsciente”. Artigo e entrevista completos no livro ''Antígonas da
Modernidade- Performances femininas na vida real ou na ficção literária.
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COMENTÁRIO DE ALBERTO ARAÚJO
Nota 1.000!!! Para essa entrevista
com a Dra. Nise da Silveira, inclusive, para todos nós da literatura/cultura
será sempre uma preciosidade. Uma mina rara de sabedoria no coração da cultura
brasileira. Muito obrigado professora Dalma Nascimento por
"republicar" no Facebook a magnífica entrevista que Dra. Nise da
Silveira concedeu a senhora, em março de 1995, quando completara 90 anos.
Entrevista essa que foi publicada em sua importante obra "ANTÍGONAS DA
MODERNIDADE - Performances femininas na vida real ou na ficção literária, a
qual tem o selo da Editora Tempo Brasileiro, 2013, páginas 131, 132, 133, 134.
Tenho essa espetacular obra, e estou com o livro nas mãos, mas é sempre bom
"reler" algo altamente, informativo e fascinante. Imprimi e reli há
pouco, dediquei a entrevista de Dra. Nise da Silveira à minha esposa Shirley.
Como a senhora sabe, ambas têm tudo a ver com a fecundante força expressiva da
psiquiatria. OBRIGADO, mil vezes OBRIGADO. Abraços do ALBERTO ARAÚJO. 12-02-21.
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Alberto Araújo, nem sei o que
responder diante dessa manifestação sua tão amiga, carinhosa, sensível e tão
bem escrita. Fiquei muitíssimo feliz em ter relido o texto, mencioná-lo,
inserindo todos os informes. Infelizmente, só disponho de dois exemplares da
obra Antígonas da Modernidade e a Editora acabou. Apreciei muitíssimo o seu
gesto, ao dedicar meu texto à sua EXTRAORDINÁRIA SHIERLEY, MULHER DOS MAIORES
MÉRITOS EM TODOS OS SENTIDOS. Além de haver identidade profissional entre as
duas. AMBAS DEDICARAM-SE À ANÁLISE DA ALMA HUMANA. PARABÉNS, VOCÊ, QUERIDA
SHIRLEY VOCÊ MERECE, MERECE, MERECE!
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Amigos, também assistam, no Canal YOUTUBE ao filme
"NISE - O CORAÇÃO DA LOUCURA", a vida
da Dra Nise da Silveira,
representada por Glória Pires. CLICAR NO LINK:
https://youtu.be/bOrymJuwVvI
Sinopse do filme: Nos anos 1950,
uma psiquiatra contrária aos tratamentos convencionais de esquizofrenia da
época é isolada pelos outros médicos. Ela então assume o setor de terapia
ocupacional, onde inicia uma nova forma de lidar com os pacientes, pelo amor e
a arte.
OUTROS COMENTÁRIOS
Cybele Pimentel de Sá
Alberto Araújo amei conhecer a
doutora Nise.
Que mulher extraordinária! Grata,
querida Dalma, pela oportunidade .
Dalma Nascimento
Cybele Pimentel de Sá ,ELA ERA MUITO
ALÉM DO TERMO EXTRAORDINÁRIA cYBELE. Não lhe mandei meu livro Antígona da
Modernidade? Lá aludo a ela e a várias. MAS CERTAMENTE DRA NISE DA SILVEIRA
ULTRAPASSA TODAS MAIS.
Sandra Maria Taves
Uma grande mulher que muito
trabalhou pelos seres fragilizados!
·
Dalma Nascimento
Sandra Maria Taves ,querida colega
dos tempos da nossa graduação na UFF. Obrigada por coparticipar de meu
entusiasmo pela doutora Nise.
Matilde Carone Slaibi Conti
Parabéns pela entrevista.
Sensacional.
Rosangela Claussen Rodrigues
Entrevista maravilhosa! 👏👏👏 Parabéns
Dalma Nascimento e Nise da Silveira.
Luanda de Oliveira
Parabéns pela entrevista.
Gratidão.
Eliana Bueno Ribeiro Vianna Santos
Bela entrevista!
Angela Gemesio
Dalma, professora, publiquei o
quadro que me pediu no zap seu, creio ser ele, caso queira observar é só abrir
o zap, e nada mais, coloquei dessa forma pois pediu, e não tenho como te
encontrar para dizer!!! Abraços!!♥️♥️♥️♥️♥️♥️
Luzia Porto
Que beleza, Dalma Nascimento . Tive
o prazer de visitar a Dra Nise. De tomar chá com ela. De conhecer seus gatos,
dos quais mantinha a prudente distância. Eles vinham até mim. Conheci os dois
apartamentos. Acho que eram em andares diferentes. Tive a chance de lhe dar um K7
do filme O Piano. Ela me perguntou o porquê de eu ter levado esse presente, ao
que respondi: "Porque achei que combinava com a senhora e que fosse
gostar". Ela se calou. Ouviu a música e perguntou a mim e ao amigo que me
levara até lá: "Vocês sabem que eu tocava piano em Alagoas? Estudei lá o
instrumento". Ela apreciou o meu agrado, eu fiquei feliz e lhe contei do
filme homônimo, com a Holly Hunter, o Harvey Keitel e o Sam Neil. Meu amigo
ficou de alugar uma cópia para que víssemos juntos. Não aconteceu. Se ela
estivesse viva, comemoraria muuuuitos anos agora, dia 15 de fevereiro.
Ma Raquel Ruiz
Maravillosa mujet ! Que coraje y
talento en su vida Felicidades por la entrevista
Lucia Bettencourt
Parabéns.
Eunice Gutman
Bravo!
Eu tenho a magnífica obra ANTÍGONAS
DA MODERNIDADE - Performances femininas na vida real ou na ficção literária da
escritora, doutora Dalma Nascimento. Acabei de reler a Entrevista da Dra. Nise
da Silveira, para mim é uma relíquia!!! Abraços do ALBERTO ARAÚJO.
Alberto Araújo disse: Na oportunidade assistam ao trecho de fala de Dra. Nise da Silveira no Canal You Tube do Focus. Uma relíquia.
Clicar no link: https://youtu.be/4fNMi08M4zY
TRECHOS DA FALA DE NISE DA SILVEIRA YOUTUBE.COM
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