Em 1º de setembro de 1923, na antiga casa de nº 242 da Rua Visconde de Uruguai, em Niterói, um grupo de visionários ousou plantar uma semente que hoje se ergue como árvore frondosa da cultura fluminense. Nascia, naquela tarde carregada de simbolismo, o Cenáculo Fluminense de História e Letras, reunindo intelectuais que acreditavam na força da palavra, na preservação da memória e na transmissão dos ideais humanistas para as futuras gerações.
Desde então, cento e dois anos se passaram. Mais de um século em que a instituição se manteve firme, como guardiã da tradição literária e historiográfica do Estado do Rio de Janeiro, sem jamais se afastar de sua missão: cultivar e perpetuar a palavra escrita, a pesquisa histórica e a reflexão crítica. Celebrar hoje, em 2025, essa longeva trajetória é também reverenciar cada nome que ajudou a erguer e sustentar este templo de cultura.
Entre os pioneiros imbatíveis, recordemos Alfredo Costa Arantes, Lourenço de Araújo Souto, Amadeu Jacques Frederico de Beaurepaire Rohan, Victorino Honorato Lopes, Gustavo Cruvello D’Ávila, Valério Cruvello D’Ávila, Ney Leôncio Mouzinho, Francisco de Assis Furtado Memória, Hélio Nogueira, Ulisses Tranquilino de Vasconcelos, Leopoldo Raimundo Teodoro Eugênio e Leford Varon. Foram eles que, ao fundar o Cenáculo, deram vida a um sonho acadêmico que não se limita a páginas de livros: é sonho que se transformou em realidade duradoura, símbolo de resistência cultural e de devoção à letra e à memória.
Ao percorrer o caminho centenário, não é possível deixar de destacar as presenças que conduziram o Cenáculo com dedicação e grandeza. Presidentes como Amadeu Jacques Frederico de Beaurepaire Rohan, Maurílio de Gouveia, Aníbal Zumalacaraaguhi de Bularmaqui, Almirante Benjamin Sodré, Nemécio Calazans, Aloysio Picanço, Márcia Maria de Jesus Pessanha, Julio Cezar Vanni, cada qual deixou sua marca de cultura e história. Nomes que, tal qual pedras preciosas incrustadas em um diadema, compõem a joia viva que é o Cenáculo.
Hoje, quem sustenta esse legado é a presidente Dra. Matilde Carone Slaibi Conti, eleita com sua diretoria em abril de 2015, em memorável solenidade no Instituto Italiano di Cultura di Niterói, e reeleita em 2017 por aclamação unânime na Casa da Amizade. Sob sua presidência, o Cenáculo não apenas honra seu passado, como se projeta para o futuro. Dra. Matilde, mulher de visão e de raro senso agregador, tem ampliado o quadro acadêmico com nomes que engrandecem as letras e a historiografia fluminense. Seu trabalho é exemplo de dedicação, elegância e comprometimento, atributos que fazem dela não apenas uma presidente, mas uma verdadeira guardadora de memórias e incentivadora de novos caminhos.
Se os fundadores sonharam, ela concretiza. Se os antecessores edificaram, ela mantém o edifício firme, abrindo portas para novas vozes, sem jamais perder de vista a reverência às tradições. Assim, o Cenáculo vive o presente com olhar voltado à eternidade.
Chegar aos 102 anos de existência é testemunhar uma epopeia cultural. Poucas instituições resistem ao tempo com tanta vitalidade, atravessando mudanças de gerações, ventos políticos, revoluções tecnológicas e novas sensibilidades estéticas. O Cenáculo, porém, não apenas resiste: ele floresce. E floresce porque está alicerçado sobre valores sólidos, cultivados por homens e mulheres que acreditam que a palavra escrita é mais forte que a erosão dos dias.
Hoje, ao celebrarmos essa efeméride, somos chamados a refletir sobre o significado de uma casa de letras e história em plena contemporaneidade. Num mundo veloz, que tantas vezes ameaça sufocar a reflexão e a memória, o Cenáculo surge como porto sereno, onde o pensamento se faz repouso, a lembrança se faz chama, e a palavra, sempre renovada, se transforma em ponte entre o ontem e o amanhã.
O Cenáculo Fluminense de História e Letras é mais que uma instituição: é patrimônio vivo da nossa identidade cultural. Ele carrega consigo a alma de Niterói e de todo o Estado do Rio de Janeiro, mas transcende fronteiras, alcançando o Brasil como exemplo de perseverança e amor à cultura.
Celebrar
os 102 anos do Cenáculo é, portanto, honrar seus fundadores, reverenciar seus
presidentes e reconhecer o trabalho magistral da Dra. Matilde Conti. Mas é,
sobretudo, reafirmar que a cultura é força, é raiz, é horizonte. Que a história
se renova sempre que alguém ousa contá-la. Que a literatura nunca morre enquanto
houver quem a escreva, quem a leia e quem a preserve.
Assim, o
Cenáculo segue, altivo e vibrante, como casa de todos aqueles que acreditam na
grandeza da palavra. E se a memória, como nos ensinou o poeta, é a verdadeira
morada do homem, o Cenáculo Fluminense de História e Letras é a casa em que
todos podemos morar, porque nele repousa o espírito imortal da cultura.
© Alberto
Araújo
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