Foi num grupo de WhatsApp, entre mensagens corriqueiras e figurinhas repetidas, que surgiu a imagem. Wanderlino Arruda, com seu olhar sempre atento ao belo, compartilhou uma fotografia que parecia mais pintura do que registro. Era Sintra, Portugal. Mas não qualquer pedaço de Sintra — era o coração pulsante da cidade, coroado pelo Palácio da Pena, que se ergue como um delírio arquitetônico sobre a vegetação exuberante da serra.
A primeira reação é de espanto. Como pode existir um lugar assim? O palácio, com suas torres amarelas e vermelhas, parece saído de um conto de fadas que misturou mouros, manuelinos e rococós num só sopro de imaginação. E lá está ele, no alto, como se vigiasse o tempo, os ventos e os turistas que sobem a colina com olhos arregalados e celulares em punho.
Mas Sintra não se resume ao palácio. A cidade se espalha abaixo, com suas casas de telhados em terracota, fachadas em tons pastel e ruas que serpenteiam como se tivessem sido desenhadas por um poeta distraído. Há árvores floridas, postes antigos e muros de pedra que parecem guardar segredos de séculos. Tudo ali tem cheiro de história e gosto de eternidade.
A crônica, então, se impõe: Sintra não é apenas um lugar — é um estado de espírito. É onde o tempo desacelera, onde o olhar se demora e onde o silêncio tem textura. Caminhar por suas ruas é como folhear um livro antigo, daqueles que têm páginas amareladas e dedicatórias escritas à mão. Cada esquina guarda uma surpresa, cada janela parece esconder um romance.
E há algo de profundamente brasileiro nesse encantamento. Talvez porque o Brasil, com sua alma mestiça e sua sede de beleza, reconheça em Sintra uma espécie de espelho ancestral. Talvez porque, ao ver aquela imagem, o coração de quem vive em Niterói, em Salvador ou em Belo Horizonte sinta uma pontada de saudade de algo que nunca viveu, mas que parece familiar. Como se Sintra fosse uma lembrança inventada, mas ainda assim verdadeira.
Wanderlino, ao compartilhar a foto, não sabia que estava oferecendo mais do que pixels e paisagem. Estava oferecendo um convite à contemplação, à pausa, ao devaneio. E isso, num mundo apressado e ruidoso, é quase um ato de resistência.
Sintra nos ensina que há beleza na mistura, poesia na pedra e magia na memória. Que o passado pode ser colorido e que o presente pode ser contemplativo. E que, às vezes, tudo o que precisamos é de uma imagem no WhatsApp para lembrar que o mundo ainda guarda lugares onde a alma pode descansar.
© Alberto Araújo
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