A literatura é um território onde as vozes femininas, tantas vezes silenciadas pela história, encontram espaço para ecoar com força e permanência. No monumental projeto Mulheres Extraordinárias – Volume 4, organizado pela Presidente da Rede Sem Fronteiras, Dyandreia Valverde Portugal e coordenado pela Ana Maria Tourinho vice-presidente mundial cultural da Rede Sem Fronteiras, uma constelação de autoras se une para resgatar e celebrar mulheres que transformaram o mundo com sua coragem, talento e visão. Entre essas homenagens, destaca-se a contribuição da escritora mineira Cecy Barbosa Campos, que dedica suas páginas à notável Kate Chopin (1850–1904), uma das precursoras da literatura feminista nos Estados Unidos.
A escolha de Cecy não é casual: trata-se de um encontro de sensibilidades. De um lado, uma autora brasileira com mais de quarenta livros publicados, reconhecida por sua atuação em instituições culturais e literárias, que tem se dedicado a difundir a literatura nacional e internacional. De outro, uma escritora norte-americana que ousou desafiar os padrões de sua época, escrevendo sobre a independência feminina, a sexualidade e a busca por identidade em um século marcado por rígidas convenções sociais.
KATE CHOPIN
Nascida em St. Louis, Missouri, em 1850, Kate O’Flaherty Chopin cresceu em um ambiente de contrastes: filha de um bem-sucedido homem de negócios e de uma mãe de origem francesa, recebeu uma educação refinada em um convento, mas logo se viu diante das responsabilidades da vida adulta. Casou-se com Oscar Chopin, com quem teve seis filhos, e viveu por anos na Louisiana, imersa em uma cultura marcada pela tradição católica e pelo patriarcado.
A morte precoce do marido a obrigou a retornar a St. Louis e a buscar meios de sustentar a família. Foi nesse contexto que Kate encontrou na escrita não apenas uma forma de sobrevivência, mas também um espaço de libertação. Seus contos e romances, publicados em jornais e revistas, revelavam influências da literatura francesa, especialmente de Maupassant, e traziam à tona temas considerados ousados: o desejo feminino, a autonomia da mulher e a crítica às estruturas sociais que aprisionavam as mulheres em papéis restritos.
Em 1899, publicou “The Awakening” (O Despertar)**, obra que se tornaria um marco da literatura americana. A protagonista, Edna Pontellier, rompe com as expectativas de esposa e mãe devotada, buscando sua própria identidade e liberdade. O romance, à época, foi recebido com escândalo e críticas severas, acusado de imoralidade. Contudo, o tempo fez justiça: hoje, O Despertar é reconhecido como um dos primeiros romances feministas da literatura ocidental, estudado em universidades e celebrado como precursor das discussões que ganhariam força no século XX.
CECY BARBOSA CAMPOS
Ao escolher Kate Chopin como sua homenageada, Cecy Barbosa Campos reafirma sua vocação de escritora e educadora comprometida com a valorização da mulher na literatura. Natural de Juiz de Fora, bacharel em Direito, licenciada em Letras e Pedagogia, pós-graduada em Literatura Brasileira, Cecy construiu uma trajetória sólida, marcada por mais de quatro décadas de dedicação à escrita, à pesquisa e à difusão cultural.
Membro de academias literárias, conselheira de museus e participante ativa de projetos inclusivos, Cecy é também uma das idealizadoras da Rede Sem Fronteiras, que promove a literatura brasileira no exterior. Sua homenagem a Kate Chopin, portanto, não é apenas um gesto de admiração, mas também um ato de reconhecimento da universalidade da luta feminina. Ao escrever sobre Kate Chopin, Cecy estabelece um diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos, entre o século XIX e o XXI, entre a ousadia de uma mulher que desafiou convenções e a persistência de outra que, no presente, continua a abrir caminhos para a literatura e para a memória cultural.
As páginas 151 a 154 de Mulheres Extraordinárias – Volume 4 não são apenas um registro biográfico. São um tributo que transcende o tempo e o espaço, reafirmando a importância de se revisitar histórias de mulheres que ousaram ser diferentes. Cecy Barbosa Campos, ao narrar a vida e a obra de Kate Chopin, oferece ao leitor não apenas informações, mas inspiração.
O gesto de Cecy, registrado com orgulho em sua foto compartilhada no grupo oficial da Rede Sem Fronteiras, segurando o livro recém-publicado, simboliza a continuidade de uma tradição literária que não se cala. Assim como Chopin, que encontrou na escrita uma forma de resistir e afirmar sua identidade, Cecy reafirma, com sua homenagem, que a literatura é um espaço de liberdade e de transformação.
Kate Chopin morreu em 1904, sem imaginar que sua obra seria redescoberta décadas depois como um marco da emancipação feminina. Cecy Barbosa Campos, ao trazê-la para o projeto Mulheres Extraordinárias, devolve-lhe o lugar de honra que a história lhe devia. Essa ponte entre passado e presente, entre culturas e gerações, é o que torna a literatura um patrimônio universal.
O encontro entre Cecy e Kate, mediado pelas páginas da obra organizada por Dyandreia Portugal da Rede Sem Fronteiras, é mais do que uma homenagem: é um testemunho da força das palavras e da coragem das mulheres que ousaram escrever contra o silêncio. Em cada linha, ressoa a certeza de que a literatura é, e sempre será, um despertar.
© Alberto Araújo
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