sábado, 20 de setembro de 2025

ENCONTRO COM A PALAVRA - UMA TARDE NA IGREJA SÃO JUDAS TADEU E O JORNAL UNIDADE

Hoje, ao chegar à Igreja São Judas Tadeu, recebi mais uma vez, como acontece há mais de dez anos, a publicação religiosa Jornal Unidade, desta vez em sua edição de setembro de 2025. Ao longo de todos esses anos, cada edição me trouxe algo novo e reflexivo, sempre renovando o diálogo entre fé, cultura e pensamento acadêmico. 

A capa, em tons de cinza, trazia uma imagem expressiva de Jesus Cristo olhando para o alto, envolto por raios de luz e nuvens serenas, um convite silencioso à contemplação. A frase de São Boaventura, “Toda criatura é uma palavra divina, porque proclama Deus”, ressoava como um chamado à escuta profunda do mundo e de seus sinais. 

Ao folhear a edição, reencontrei nomes conhecidos e queridos no meio acadêmico e literário, companheiros de jornada intelectual e afetiva. Ali estavam textos de pessoas com quem compartilho afinidades: o professor Dr. Raymundo Stelling, com sua coluna Educação em Foco, abordando com lucidez e urgência a crise climática e o papel da educação na formação de consciências sustentáveis; Dionilce Faria, cuja escrita sempre carrega uma delicadeza firme, capaz de tocar temas densos com leveza; Uyara Schiefer, que transita com elegância entre o poético e o filosófico; e Alba Helena Corrêa, cuja sensibilidade literária transforma o cotidiano em matéria de reflexão.

O jornal, sob a editoria e coordenação de Paulo Alexandre L. de E. Fagundes, reafirma-se como um espaço de convergência entre espiritualidade e pensamento crítico. Não é apenas uma publicação devocional, mas um veículo que acolhe múltiplas vozes, acadêmicas, poéticas, pastorais e as entrelaça em torno de um eixo comum: a busca por sentido, por unidade, por transcendência. 

Nas páginas internas, encontrei poemas que falam da passagem do tempo, da aceitação das perdas, da espera pela primavera, metáforas que dialogam com a experiência humana em sua plenitude. “Os dias de nossa vida”, de Alba Helena Corrêa, é um convite à contemplação do efêmero com olhos de eternidade. Já “Aceitação”, do saudoso Alberto Valle, toca fundo ao abordar a entrega diante do que não se pode mudar. Dionilce, com “Esperando a primavera”, evoca a esperança como força vital, enquanto Grinauria Daher de Santa Rosa, em “Perdas e danos” e Uyara Schiefer com 4 haicais sobre a Primavera nos lembra de que até o que se perde pode ensinar. 

Ao final da leitura, senti mais uma vez que o Jornal Unidade não é apenas um informativo, é um testemunho. Testemunho de que a fé pode dialogar com a ciência, com a arte, com a educação. Que a Igreja, longe de ser um espaço de silêncio dogmático, pode ser também um lugar de escuta, de produção de conhecimento, de acolhimento da diversidade de pensamentos. Que os amigos das letras encontram ali um terreno fértil para semear ideias e colher frutos que alimentam a alma. 

A presença da Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento da Freguesia de São João Batista de Niterói também reforça esse elo entre tradição e atualidade. Ao divulgar seus horários e contatos, a Irmandade se mostra aberta ao diálogo com a comunidade, reafirmando seu papel histórico e espiritual na vida da cidade. 

Em tempos de polarizações e ruídos, encontrar um jornal como esse é como descobrir uma fonte de água limpa no meio do deserto. Uma fonte que não apenas sacia, mas inspira. Que não apenas informa, mas transforma. 

Saí da Igreja São Judas Tadeu com o jornal nas mãos e o coração cheio. E com a certeza de que, quando a palavra se une à fé e ao pensamento, ela se torna verdadeiramente divina, como nos lembra, São Boaventura. 

© Alberto Araújo 








 

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