Foi num desses passeios distraídos pelo Instagram, quando a mente vaga e o dedo desliza sem destino, que algo inesperado aconteceu. Não foi apenas uma aparição na tela, foi um pouso. Uma chegada suave, mas definitiva, como quem encontra um porto seguro. Gabriella Busich, atriz carioca de alma intensa e olhar que parece guardar oceanos inteiros, surgiu declamando poesia.
Não era qualquer poesia. Eram versos escolhidos com a precisão de quem sabe que as palavras têm peso e temperatura. Trechos retirados de livros e filmes que falam de amor, não o amor de vitrine, mas o que se esconde nas frestas, o que se revela em silêncios, o que arde e acalma ao mesmo tempo.
Gabi não lê: ela habita o texto. Cada palavra que pronuncia parece atravessar o tempo e chegar ao ouvinte como se tivesse sido escrita para aquele instante único. Sua voz não é apenas som — é matéria viva. Há nela uma vibração que não se aprende em cursos, um timbre que carrega entrega, verdade e uma arte que pulsa como sangue. É como se cada sílaba fosse moldada com as mãos, antes de ser lançada ao ar.
Formada pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e pós-graduada em Cinema e Linguagem Audiovisual, Gabi construiu uma trajetória que une técnica refinada e sensibilidade rara. O rigor do Método de Lee Strasberg lhe deu ferramentas para mergulhar fundo nas emoções, mas é sua alma que dá cor e textura ao que faz. Técnica e instinto se encontram nela como luz e sombra numa fotografia bem composta.
Nos palcos, vestiu a pele de personagens densos em peças como Troianos, O Capote, Soroco, Sua Mãe Sua Filha e Terror e Miséria no Terceiro Reich. Na televisão, emprestou corpo e voz a figuras marcantes em Êta Mundo Bom, Deus Salve o Rei, Éramos Seis, Cara e Coragem, Amor Sem Igual e na Série Reis. No cinema, brilhou em Nosso Lar 2: Os Mensageiros e segue expandindo sua arte em produções como Mania de Você e Paulo, o Apóstolo.
Mas foi naquele vídeo simples, sem cenário elaborado, que percebi o alcance de sua presença. Apenas ela, a câmera e um texto. E, no entanto, havia ali um mundo inteiro. Gabi escolhe falar de um amor que não se exibe, mas se insinua. O amor que cabe num toque breve, num olhar que demora um segundo a mais, num gesto que parece banal, mas carrega o peso de um universo.
Quando declama, não interpreta: sente. E quem assiste, sente junto. É como se, por alguns minutos, o tempo se curvasse para caber dentro da sua voz. Há um magnetismo silencioso no modo como ela respira entre as frases, como se cada pausa fosse também parte do texto.
Gabriella
Busich, aos 30 anos, mora no Rio de Janeiro e carrega um currículo vasto e
respeitável. Mas o que mais impressiona não são os títulos ou as produções — é
a capacidade de transformar palavras em afeto. De fazer da arte um gesto de
aproximação, um convite para que o outro se reconheça.
Em tempos de pressa e distração, sua voz é um lembrete de que ainda há espaço para o encantamento. Que ainda é possível parar, ouvir e se deixar tocar. Porque há vozes que não se apagam quando o vídeo termina — elas permanecem. Permanecem como um perfume que insiste em ficar na pele, como uma melodia que se repete na memória, como uma lembrança que se recusa a ser esquecida.
Gabi é uma dessas vozes. Uma voz que declama o amor como quem o vive em cada respiração. Uma voz que não apenas diz — mas entrega. E, ao entregar, nos devolve algo que andava perdido: a certeza de que sentir ainda vale a pena.
© Alberto
Araújo
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