segunda-feira, 8 de setembro de 2025

VELHO MONGE - POEMA LÍRICO DE ALBERTO ARAÚJO



VELHO MONGE 


Eu venho das águas serenas,

Do rio que murmura segredos,

Levando nas veias do tempo

As memórias que o mundo esqueceu.

 

Meu céu é bordado de astros,

Sem fuligem, sem ruído, 

No peito, um jardim de ausências,

E na Terra, o perfume de abril.

 

Trago nas mãos o remo antigo,

Na alma, o canto do terreiro,

Sou filho do sul do continente,

Onde o barro vira oração.

 

Sou eco de passos antigos,

Sou o brilho da aldeia em festa,

Sou de Luzilândia encantada,

Berço de Santa Luzia.

 

Chego à porta com ternura,

Às margens do Parnaíba,

O Velho Monge é vigília,

Com olhos de prata e luar.

 

É o ancião que sussurra caminhos,

É o jovem que acende manhãs,

O vento espalha destinos,

E a noite costura lembranças,

Com fios de infância e riso

Nas calçadas do amor sem fim.

 

Eu venho das águas profundas,

Do rio que repousa em silêncio,

Deitando os sonhos cansados

Na margem do teu olhar.

 

Meu céu é um véu de estrelas,

Sem fumaça, sem prisão,

No peito, um relicário de saudade,

E na Terra, o eterno abril.

 

Sou o artesão da travessia,

Tenho fé que dança no chão,

Sou da América que canta,

Do sul que pulsa coração.

 

Sou voz que embala memórias,

Sou esperança em cada rosto,

Sou de Luzilândia sagrada,

Onde Santa Luzia é flor.

 

Chego com mãos estendidas,

Às margens do Parnaíba,

O Velho Monge é farol,

Com olhos que acalmam o rio.

 

Carrego em todas as luas e sois

A fala que o sertão me deu,

A saudade da rede branca,

Do cachorro que me entendia,

Do terço de minha mãe Maria,

E o punhado de terra sagrada

Da Cidade Luz que me sorriu.

 

© Alberto Araújo 


 

Nenhum comentário:

Postar um comentário