Setembro chega a Niterói como quem desliza pela Baía de Guanabara num fim de tarde: suave, dourado, quase melancólico. O mês tem cheiro de brisa salgada e som de violão vindo de alguma varanda em Icaraí. É quando o calor ainda não se impôs por completo, mas o inverno já se despede com um aceno tímido. Setembro é transição, é promessa. E em Niterói, tudo parece conspirar para que essa promessa seja poética.
As amendoeiras da Rua Presidente Backer começam a tingir o chão com folhas cor de cobre, como se o asfalto precisasse de um toque de aquarela. Os cafés se enchem de conversas lentas, e os artistas de rua voltam a ocupar seus cantos na Praça Getúlio Vargas, como se o mês fosse um convite à contemplação. Setembro é quando o cotidiano se permite ser cenário.
Na Cantareira, os bares ganham um brilho diferente. O pôr do sol visto dali parece uma pintura impressionista, com pinceladas de laranja e violeta que se dissolvem nas águas. Os estudantes da UFF, entre uma cerveja e outra, discutem cinema, shows. Há algo de efervescente na juventude niteroiense, como se a cidade fosse uma incubadora de ideias e afetos.
Setembro também é tempo de revoada. Os pássaros cortam o céu da cidade em coreografias silenciosas, e os moradores do Ingá olham para cima com a mesma curiosidade com que observam as exposições do Museu de Arte Contemporânea. O MAC, aliás, parece mais bonito em setembro. Talvez seja a luz, talvez seja o contraste entre sua arquitetura futurista e a suavidade do mês. Niemeyer sabia o que fazia: desenhou um disco voador que pousa todos os dias sobre o mar.
No Campo de São Bento, as crianças correm entre os ipês floridos, e os velhos jogam dominó como se o tempo fosse um aliado. Os vendedores de pipoca, os músicos de flauta, os casais de mãos dadas, todos parecem personagens de um romance urbano que se escreve em silêncio. Setembro é quando Niterói se transforma em literatura.
E há também o mar. Ah, o mar de Niterói em setembro! Ele não é apenas paisagem, é personagem. Fala com quem sabe ouvir. Na Praia das Flechas, os pescadores puxam suas redes com a paciência dos que conhecem os ritmos da natureza. Na Boa Viagem, os mergulhadores exploram os mistérios submersos como poetas em busca de metáforas. E na Praia de Itacoatiara, os surfistas desafiam as ondas como quem desafia o destino.
Setembro é quando os festivais começam a pipocar. Tem mostra de teatro no Solar do Jambeiro, tem sarau no Jardim São João, tem roda de samba no Barreto. A cidade pulsa cultura como quem respira. E os niteroienses, com sua alma inquieta e criativa, se entregam ao espetáculo da vida com entusiasmo quase lírico.
Mas setembro também tem seus silêncios. Tem manhãs de neblina que cobrem o Pão de Açúcar como véu de noiva. Tem tardes em que o vento sopra lembranças pelas ruas do Gragoatá. Tem noites em que a lua se espelha no mar e parece sussurrar segredos antigos. É nesses momentos que Niterói revela sua face mais íntima, mais poética, mais verdadeira.
Setembro em Niterói não é apenas um mês. É um estado de espírito. É quando a cidade se veste de poesia e convida seus habitantes a dançarem com ela, mesmo que em passos tímidos. É quando o tempo desacelera e permite que se veja o mundo com olhos de artista.
E assim, entre o lirismo das paisagens e a vibração cultural de seus cantos, Niterói segue setembro adentro como quem sabe que a beleza está nas pequenas coisas e que viver é, acima de tudo, saber contemplá-las.
© Alberto
Araújo
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