"Há portas que não se abrem porque não existem,
e ainda assim passamos a vida inteira diante delas." — Franz Kafka
Franz Kafka escrevia como quem sonha acordado dentro de um quarto estreito, mas onde, às vezes, uma janela se abria para o inesperado. Seus personagens tropeçam em corredores sem saída, é verdade, mas cada tropeço também é um convite a olhar para dentro, a descobrir que até no erro há um caminho secreto. A vida, para ele, era um enigma sem chave e a literatura, a lanterna que iluminava, ainda que por instantes, a escuridão.
Kafka não descrevia apenas monstros internos, mas também a coragem silenciosa de enfrentá-los. Sua prosa é como um espelho turvo, onde o leitor se vê deformado, mas percebe, no fundo, que ainda há beleza na própria sombra.
E há, sim, uma estranha alegria nesse desespero. Kafka nos mostra que até no absurdo há poesia, que até na angústia há uma centelha de revelação. Ler Kafka é aceitar que o mundo pode ser um labirinto, mas que, ao percorrê-lo, descobrimos também a inesperada doçura de estar perdido.
No entanto, ao final do corredor, não há saída visível. Mas talvez não importe: porque, enquanto caminhamos, o próprio labirinto floresce em nós, e cada passo se torna uma forma secreta de liberdade. E quem sabe, em algum ponto, não seja a porta que se abre, mas nós que aprendemos a atravessar as paredes.
© Alberto
Araújo
Nenhum comentário:
Postar um comentário