terça-feira, 30 de setembro de 2025

A LUA VISTA DA MINHA VARANDA - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

 

 


A noite começou com um silêncio diferente. Não era apenas ausência de som, mas uma espécie de pausa no tempo, como se o mundo estivesse esperando por algo. Eu e minha esposa, cúmplices de tantas jornadas e silêncios compartilhados, nos sentamos na varanda do nosso apartamento, em Niterói, com os olhos voltados para o céu. Havia uma expectativa quase infantil pairando no ar: a chegada da Lua.

 

Não era uma noite qualquer. A cidade, embora viva e pulsante, parecia ter desacelerado. As luzes dos prédios ao longe tremeluziam como se piscassem em compasso com nossos corações. O mar, sempre presente, refletia uma calma que contrastava com a ansiedade silenciosa que nos tomava. Esperávamos a Lua como quem espera uma revelação, uma resposta, um sinal.

 

Às 24h30min, ela surgiu.

 

Não fez alarde. Não precisou. A Lua apareceu como quem sabe que sua presença basta. Brilhante, bela, imponente. Um disco de luz que atravessava o céu e tocava a alma. Ficamos em silêncio, como se qualquer palavra fosse um ruído desnecessário diante daquela aparição. Era como se o universo tivesse nos presenteado com um momento só nosso, íntimo, eterno.

A Lua vista da minha varanda não era apenas um fenômeno astronômico. Era uma lembrança de tudo o que é imenso e, ao mesmo tempo, acessível. Era o reflexo de todas as noites em que olhamos para cima em busca de consolo, de inspiração, de sentido. Era o espelho das nossas emoções, dos nossos medos, dos nossos sonhos. 

Enquanto a Lua subia no céu, eu pensava nas informações que nos cercam diariamente. Notícias, dados, estatísticas, alertas. Vivemos imersos em uma avalanche de conteúdos que nos dizem como sentir, como pensar, como agir. Mas ali, naquela varanda, diante da Lua, tudo isso parecia pequeno. A única informação que importava era aquela luz silenciosa que atravessava o céu e nos tocava o coração. 

A Lua não precisa de legenda. Não precisa de breaking news. Ela é a própria notícia, a própria poesia, o próprio milagre. E, no entanto, quantas vezes deixamos de olhar para ela? Quantas vezes trocamos o céu por uma tela, a contemplação por uma rolagem infinita?

Naquela noite, eu e minha esposa redescobrimos o valor do olhar. Do tempo desacelerado. Da presença. A Lua nos lembrou de que há beleza no simples, no natural, no eterno. Que há informações que não vêm em bytes, mas em brilhos. Que há verdades que não se explicam, apenas se sentem.

 

A madrugada avançou, e a Lua seguiu seu caminho. Mas algo ficou. Uma espécie de paz, de reconexão, de certeza. A certeza de que, por mais que o mundo mude, por mais que as informações nos inundem, há coisas que permanecem. E a Lua, vista da minha janela, é uma delas.

 

© Alberto Araújo

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