Há janelas que apenas se abrem. E há
janelas que acolhem. A de Icaraí, emoldurada por samambaias suspensas e
orquídeas em flor, não é apenas uma abertura para o exterior, é um convite à
contemplação. Ela não mostra o mundo: ela o revela. Como um quadro vivo, pulsa
com a luz do dia, com o sopro do mar, com a respiração da cidade. É por ela que
o tempo desacelera, que o silêncio se torna eloquente, que o olhar encontra
repouso. Ali, entre o verde que cresce e o azul que se estende, a vida se
apresenta em sua forma mais serena.
Do lado de dentro, as plantas pendem
como versos verdes. As samambaias, com suas folhas rendadas, balançam
suavemente, como se dançassem ao ritmo de uma música que só elas ouvem. As
orquídeas, delicadas e altivas, florescem com a elegância de quem sabe que a
beleza não precisa de alarde. O ambiente é íntimo, quase sagrado, um templo
silencioso onde a natureza se manifesta com discrição e graça.
Do lado de fora, o mundo se estende em
camadas de azul e areia. A praia de Icaraí se desenha com suavidade, como se
tivesse sido pintada por mãos pacientes. O mar, em seu vai e vem constante,
murmura histórias antigas que se dissolvem na espuma. Pessoas caminham pela
orla, algumas em silêncio, outras em conversa baixa, todas envoltas por uma
atmosfera de paz. Cada passo na areia parece uma oração, cada olhar para o
horizonte, uma busca.
A estrada que acompanha a praia é
discreta, mas presente. Por ela passam vidas em movimento, gestos cotidianos
que se entrelaçam com o cenário. Há quem corra, quem caminhe, quem apenas
observe. E todos, mesmo sem saber, fazem parte da coreografia do dia. O sol,
alto no céu, derrama sua luz como bênção. Ele toca a pele, aquece o chão,
colore o mar com reflexos dourados. É uma luz que não cega, mas revela.
Ao fundo, a montanha ergue-se como
guardiã. Seu pico, firme e silencioso, observa tudo com a sabedoria de quem já
viu muitos dias nascerem e se despedirem. Ela não fala, mas sua presença é
eloquente. É ela que dá profundidade à paisagem, que lembra que há permanência
mesmo na fluidez. Entre o mar e o céu, entre o verde e o azul, ela é o ponto de
equilíbrio.
E a janela, essa moldura viva, une os
dois mundos. O interior, com suas plantas que respiram, e o exterior, com sua
vastidão que inspira. Tudo conversa. O verde das folhas reflete o verde das
montanhas. O silêncio da casa ecoa o silêncio do mar. Há uma harmonia que não
se explica, apenas se sente.
A janela de Icaraí não é apenas um
ponto de vista. É um lugar de permanência. É onde o tempo se aquieta, onde o
olhar se expande, onde a alma encontra abrigo. Ela não mostra o mundo, ela o
traduz. E nessa tradução, há poesia.
Quem se senta diante dela não apenas
observa. Participa. É parte da cena, mesmo em silêncio. É tocado pela luz, pelo
vento, pelo movimento sutil das folhas. E ao ser tocado, transforma-se. Porque
há paisagens que não apenas encantam, elas revelam quem somos.
E assim, dia após dia, a janela
permanece. Como testemunha do tempo, como guardiã da beleza, como espaço de
encontro entre o íntimo e o infinito. E quem a contempla, mesmo sem palavras,
compreende: há lugares que são mais do que espaço. São estado de espírito.
© Alberto Araújo
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