sábado, 27 de setembro de 2025

A JANELA QUE ABRAÇA O MUNDO - PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

Há janelas que apenas se abrem. E há janelas que acolhem. A de Icaraí, emoldurada por samambaias suspensas e orquídeas em flor, não é apenas uma abertura para o exterior, é um convite à contemplação. Ela não mostra o mundo: ela o revela. Como um quadro vivo, pulsa com a luz do dia, com o sopro do mar, com a respiração da cidade. É por ela que o tempo desacelera, que o silêncio se torna eloquente, que o olhar encontra repouso. Ali, entre o verde que cresce e o azul que se estende, a vida se apresenta em sua forma mais serena.

 

Do lado de dentro, as plantas pendem como versos verdes. As samambaias, com suas folhas rendadas, balançam suavemente, como se dançassem ao ritmo de uma música que só elas ouvem. As orquídeas, delicadas e altivas, florescem com a elegância de quem sabe que a beleza não precisa de alarde. O ambiente é íntimo, quase sagrado, um templo silencioso onde a natureza se manifesta com discrição e graça.

 

Do lado de fora, o mundo se estende em camadas de azul e areia. A praia de Icaraí se desenha com suavidade, como se tivesse sido pintada por mãos pacientes. O mar, em seu vai e vem constante, murmura histórias antigas que se dissolvem na espuma. Pessoas caminham pela orla, algumas em silêncio, outras em conversa baixa, todas envoltas por uma atmosfera de paz. Cada passo na areia parece uma oração, cada olhar para o horizonte, uma busca.


A estrada que acompanha a praia é discreta, mas presente. Por ela passam vidas em movimento, gestos cotidianos que se entrelaçam com o cenário. Há quem corra, quem caminhe, quem apenas observe. E todos, mesmo sem saber, fazem parte da coreografia do dia. O sol, alto no céu, derrama sua luz como bênção. Ele toca a pele, aquece o chão, colore o mar com reflexos dourados. É uma luz que não cega, mas revela.

 

Ao fundo, a montanha ergue-se como guardiã. Seu pico, firme e silencioso, observa tudo com a sabedoria de quem já viu muitos dias nascerem e se despedirem. Ela não fala, mas sua presença é eloquente. É ela que dá profundidade à paisagem, que lembra que há permanência mesmo na fluidez. Entre o mar e o céu, entre o verde e o azul, ela é o ponto de equilíbrio.

 

E a janela, essa moldura viva, une os dois mundos. O interior, com suas plantas que respiram, e o exterior, com sua vastidão que inspira. Tudo conversa. O verde das folhas reflete o verde das montanhas. O silêncio da casa ecoa o silêncio do mar. Há uma harmonia que não se explica, apenas se sente.

 

A janela de Icaraí não é apenas um ponto de vista. É um lugar de permanência. É onde o tempo se aquieta, onde o olhar se expande, onde a alma encontra abrigo. Ela não mostra o mundo, ela o traduz. E nessa tradução, há poesia.

Quem se senta diante dela não apenas observa. Participa. É parte da cena, mesmo em silêncio. É tocado pela luz, pelo vento, pelo movimento sutil das folhas. E ao ser tocado, transforma-se. Porque há paisagens que não apenas encantam, elas revelam quem somos.

 

E assim, dia após dia, a janela permanece. Como testemunha do tempo, como guardiã da beleza, como espaço de encontro entre o íntimo e o infinito. E quem a contempla, mesmo sem palavras, compreende: há lugares que são mais do que espaço. São estado de espírito.

 

© Alberto Araújo 





 

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