Desde que aprendeu a sonhar, o homem tenta encostar o dedo nas estrelas. Uns fecham os olhos e rezam, outros escrevem versos, alguns erguem colossos. No coração de Dubai, uma agulha de aço e vidro fura o azul: o Burj Khalifa. Não é apenas um prédio, é um grito vertical contra a gravidade, um manifesto de que o chão já não basta.
Lá do topo, o deserto se dissolve em ouro líquido, e a cidade, outrora poeira e silêncio, cintila como miragem permanente. É impossível não se lembrar de Babel: homens que, embriagados pelo próprio engenho, quiseram alcançar o divino. Hoje, porém, a torre não se ergue para falar com Deus, mas para que o mundo inteiro fale dela.
O nascimento do Burj Khalifa também é história de fragilidade. Dubai, sufocada por dívidas, estendeu a mão ao vizinho Abu Dhabi. Da ajuda veio o novo nome, homenagem ao xeque Khalifa, que evitou o colapso. Assim, até a mais alta das construções repousa sobre alicerces de dependência e memória.
E, no entanto, há beleza no exagero. Porque contemplar o Burj Khalifa é ver o homem em sua contradição mais pura: minúsculo diante do infinito, mas ousado o bastante para redesenhar o horizonte. Não é só concreto, aço e vidro, é sede que não se apaga: de poder, de beleza, de eternidade.
Talvez, um dia, alguém olhe para suas ruínas e diga: “Aqui viveu uma civilização que transformou areia em céu.” E talvez sorria, não pelo tamanho da torre, mas pela coragem, ou pela loucura de quem ousou costurar o horizonte com as próprias mãos.
© Alberto Araújo
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