domingo, 21 de setembro de 2025

ORAÇÃO AO TEMPLO DA MEMÓRIA - © ALBERTO ARAÚJO

Ergo dentro de mim um templo invisível.

Sua cúpula é a Igreja de Santa Luzia,

onde minha infância aprendeu a rezar com olhos de esperança.

Ali, o sino tocava não apenas o ar,

tocava minha alma.

 

O altar se alonga até o Velho Monge,

rio que prega em silêncio sobre o tempo,

sobre a travessia,

sobre a coragem de seguir mesmo quando a correnteza arrasta.

Suas águas são sermões que ainda hoje escuto

no silêncio da saudade.

 

E as colunas desse templo?

São as mangueiras da minha meninice.

Gigantes gentis que sustentavam a sombra dos dias felizes,

raízes profundas que guardavam a leveza do brincar,

doces frutos que eram, ao mesmo tempo, alimento e milagre.

 

Esse templo não se encontra em mapas.

Não ruirá em ruínas.

Não precisa de turistas nem de câmeras —

ele se ergue inteiro no coração.

 

Porque quem carrega dentro de si

a fé em Santa Luzia,

a voz do rio Parnaíba

e a sombra das mangueiras da infância,

traz no peito uma eternidade.

 

E a eternidade não se mede em séculos,

mas em memórias que permanecem de pé

como um templo que jamais se desfaz.

 

© Alberto Araújo

 

 



 

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