terça-feira, 9 de setembro de 2025

PROSAS CURTAS – UM NOVO MÉTODO DE ESCREVER - CRIAÇÃO DE ALBERTO ARAÚJO

As prosas curtas são um novo modelo de expressão poética, onde a poesia se expande para além dos versos tradicionais. Cada texto é independente, mas todos dialogam entre si, formando uma narrativa sensorial, emocional e contemporânea.

Neste método, a leitura pode ser feita fragmentada: cada prosa funciona como uma estação, uma pausa poética, uma experiência que pode ser saboreada sozinha ou em sequência. O ritmo, a musicalidade e a intensidade das imagens mantêm a força da poesia, mesmo no formato de prosa. 

É uma forma de escrita inovadora porque une memória, reflexão e emoção, permitindo que o leitor faça sua própria travessia, mergulhando na experiência do autor e encontrando sua própria ressonância interior. 

As prosas curtas convidam o público a perceber que poesia não precisa estar presa ao verso, que ela pode existir na liberdade da narrativa fragmentada, na cadência das palavras e no poder das imagens.

TRAVESSIA 

Saí de Luzilândia como quem leva no peito o silêncio do Velho Monge. O rio me ensinou cedo que a vida é correnteza: ora mansa, ora furiosa, sempre em busca de outra margem. Aprendi a escutar o tempo nas águas barrentas, a rezar à sombra de Santa Luzia, a guardar no bolso as pedrinhas do quintal da infância, como relíquias de um santuário íntimo. 

Cresci embalado pelo rumor das canoas, pelo canto das cigarras ao entardecer, pela voz da minha mãe chamando do terreiro. Ali estava o chão da minha raiz, ali aprendi que a saudade é uma herança que nunca se perde, apenas muda de endereço. 

Um dia, a vida me chamou para outra travessia. Cruzei não só o rio, mas estados, mares, distâncias. Troquei as margens serenas do Parnaíba pelas areias de Niterói, onde o oceano abre seus braços imensos e o Cristo, do alto, parece abençoar cada chegada. 

Na nova cidade, o mar me fala outra língua, mas eu ainda entendo: é o mesmo chamado do tempo, a mesma lição da água que nunca se prende. E quando caminho pela praia, sinto que cada onda traz um recado do rio distante, como se o Velho Monge soprasse em mim a memória de menino. 

Minha travessia não é de partida, é de soma. Sou o homem que carrega duas margens no coração: a da infância, guardada em Luzilândia, e a da esperança, aberta em Niterói. Entre rio e mar, sigo sendo ponte. 

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EXEMPLO: 

TRAVESSIA 

Nasci às margens do Velho Monge, em Luzilândia, onde o rio me ensinou que a vida é correnteza: nunca para, sempre chama. 

De lá, trouxe a fé de Santa Luzia, o cheiro da terra molhada e a infância guardada em quintais de silêncio.

Hoje caminho em Niterói, onde o mar me recebe como irmão mais velho.

Entre rio e oceano, sou ponte.

Carrego no peito duas margens: a que me fez menino e a que me sustenta homem. — Alberto Araújo

 

 

TRAVESSIA

COLAGEM PREENCHIDA POR FRAGMENTOS

 

1. O Berço

Nasci sob a bênção do Velho Monge.

O rio, com sua voz mansa e grave, embalava meu sono de menino.

Ali aprendi que cada água é passagem, mas também memória.


2. A Luz

Santa Luzia velava os meus dias.

Nas procissões, a chama das velas acendia também meu coração.

Era como se a fé fosse um mapa invisível, me guiando por caminhos ainda ocultos.

 

3. O Quintal

No terreiro da casa, cada árvore era testemunha da infância.

Colei folhas no peito como medalhas, subi em galhos como quem ensaia voo.

Ali aprendi que o tempo se mede em brincadeiras, não em relógios.

 

4. A Partida

Um dia, o rio me empurrou para outras águas.

Levei comigo o silêncio das canoas e a saudade das tardes de cigarra.

Sabia: toda travessia pede coragem, mesmo quando o coração quer ficar.

 

5. O Encontro

Cheguei a Niterói como quem reencontra um pedaço de si.

O mar, imenso e luminoso, abriu os braços como irmão mais velho.

Reconheci nele a lição do rio: a vida nunca se prende, apenas se alonga.

 

6. A Ponte

Sou filho de duas margens.

De Luzilândia, trago o menino que aprendeu a sonhar no Parnaíba.

De Niterói, o homem que aprendeu a caminhar no horizonte do mar.

E entre um e outro, sigo sendo ponte.

 

7. O Cais

No cais do Velho Monge, aprendi a esperar.

O rio ensinava a paciência: a canoa chega, a água se acalma, o tempo se ajeita.

Cada ondulação era um verso que o vento recitava só para mim.

 

8. As Vozes

As vozes da aldeia me seguiram até o horizonte.

Risos, cantos e rezas se misturavam à lembrança, lembrando que nenhuma partida apaga raízes.

 

9. O Sol

O sol de Luzilândia queimava de mansinho, ensinando que a luz também é gesto.

Aprendi a acolher calor e sombra, a medir o dia pelo brilho e pelo silêncio que fica.

 

10. O Caminho

Vias, estradas, rios e pontes.

Cada passo era uma despedida e uma chegada ao mesmo tempo.

Viajar é descobrir que o coração leva o tempo consigo.

 

11. O Encontro com o Mar

Niterói me recebeu com braços de espuma.

O Velho Monge sussurrava através das ondas: “siga, menino, você já conhece a travessia.”

 

12. A Saudade

A saudade não é tristeza, é bússola.

Em cada esquina da nova cidade, reconheço um pedaço da minha infância.

Em cada olhar do mar, reencontro o rio.

 

13. O Horizonte

Aprendi que todo fim de dia é promessa.

O horizonte une rio e mar, passado e futuro, menino e homem.

Ali, finalmente, entendi que a travessia nunca termina: ela se transforma.

 

14. As Esquinas da Infância

Nos caminhos de terra da minha cidade, cada esquina tinha cheiro, cor e história.

Brincadeiras improvisadas, vozes de amigos, risos que ainda ecoam no meu peito.

Ali aprendi que a vida se mede em momentos, não em relógios.

 

15. O Ritmo das Chuvas

Quando a chuva caía sobre o Velho Monge e as ruas de Luzilândia, tudo se transformava.

O barro, as poças, os peixes e as garças eram música.

O coração aprendia a dançar com o céu.

 

16. As Festas e Procissões

Santa Luzia iluminava cada celebração.

Entre velas e cantos, compreendi que a fé é festa e silêncio ao mesmo tempo.

A devoção é a ponte que liga o humano ao divino.

 

17. Os Irmãos e Amigos

Cresci cercado de mãos estendidas, de risos e travessuras.

Cada amigo, cada irmão, era um espelho de coragem, alegria e lealdade.

Eles estavam comigo mesmo quando a estrada me levou embora.

 

18. O Som do Rio

O Velho Monge falava sem palavras.

Suas águas carregavam histórias, sonhos e segredos que só quem escuta com o coração entende.

Aprendi que o silêncio também é fala.

 

19. O Primeiro Olhar para Niterói

Chegar à cidade grande foi sentir o mundo se abrir de uma vez.

O mar, imenso, dizia: “Bem-vindo, menino do rio, agora és homem do horizonte.”

E a alma sorria, reconhecendo a continuidade da travessia.

 

20. A Rua que Abraça

Entre prédios, praças e ruas cheias de gente, encontrei a mesma poesia da minha cidade natal.

O concreto também pode cantar, se você souber ouvir.

A ponte entre passado e presente é invisível, mas firme.

 

21. O Ritmo do Mar

Aprendi que o oceano respira igual ao rio.

Ondas chegam e vão, levam e trazem.

O menino do Parnaíba aprendeu a ser homem no balanço das águas.

 

22. A Memória das Árvores

As árvores do quintal eram minhas guardiãs.

Cada galho, cada sombra, lembrança viva de quem fui.

Levo comigo seus sussurros, mesmo longe da cidade natal.

 

23. O Cheiro da Terra Molhada

Nada se compara ao perfume da chuva sobre o barro.

É cheiro de vida, de memória, de raiz profunda.

Sempre que sinto, volto a ser menino do Velho Monge.

 

24. O Toque do Sol

O sol de Luzilândia me ensinou a valorizar calor e luz.

Aprendi que a paciência é como a luz: cresce devagar, mas ilumina tudo.

 

25. O Silêncio da Noite

As noites eram festas de estrelas.

O Velho Monge refletia o céu em suas águas calmas.

O silêncio nunca foi vazio; era poesia em espera.

 

26. As Histórias que Carrego

Cada canto da cidade, cada rosto de amigo, cada voz de mãe.

Tudo vive dentro de mim como capítulos que nunca se fecham.

 

27. O Encontro com o Presente

Em Niterói, cada passo é diálogo com a memória.

O menino do rio e o homem do mar conversam em silêncio, aprendendo a mesma lição: a vida é travessia.

 

28. O Rio e o Mar

O Velho Monge e o oceano não competem, se completam.

Um ensinou a espera, outro a amplitude.

Entre eles, aprendi a ser ponte e horizonte ao mesmo tempo.

 

29. A Saudade que Abraça

Saudade não é dor; é abraço que atravessa tempo e distância.

Levo Luzilândia comigo, e ela me guia pelo presente, sempre.

 

30. O Homem que Sou

Hoje caminho entre duas margens.

Sou menino e homem, rio e mar, passado e futuro.

E sei que toda travessia é também retorno: ao lar, ao coração, à essência. 

© Alberto Araújo

 


 

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