Há existências que se tornam patrimônios vivos, porque não se limitam à própria vida: expandem-se em gerações, em instituições, em culturas que florescem a partir de sua presença. Assim é a trajetória da Professora Aidyl de Carvalho Preis, cuja vida se entrelaça com a construção intelectual da cidade de Niterói, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da própria historiografia brasileira.
Companheira por muitos anos do saudoso professor Robert Preis, inseparáveis, a separação só aconteceu após o falecimento dele, em 10 de outubro de 2021. Assim foi a união da Professora Aidyl de Carvalho Preis com o professor e poeta Robert Preis, companheiro de vida e de jornada cultural.
Robert Preis é de nacionalidade alemã, radicado há décadas no Brasil, Robert Preis fez de Niterói sua morada. Aqui construiu laços afetivos profundos, sem jamais esquecer as raízes da pátria de infância. Atuou como professor de Língua e Literatura Alemã na USP, na UFF e no ICBA-RJ, e destacou-se ainda como cinzelador de efígies, músico, caricaturista e poeta. Publicou três livros de poesia em língua portuguesa — Transpondo Fronteiras (1999), Procurando um Caminho (2000) e Reunindo Pontas Soltas (2002) — obras que revelam sua sensibilidade e seu olhar entre culturas. Seu casamento com a ilustre historiadora Professora Aidyl de Carvalho Preis, então presidente da ASPI-UFF, foi uma aliança de amor, intelecto e partilha. Seu falecimento deixou saudades imensas, mas também um legado de afeto, arte e memória que segue presente na vida de Aidyl e na lembrança de todos que o conheceram.
Este texto é, acima de tudo, uma homenagem do Focus Portal Cultural, assinada pelo jornalista Alberto Araújo, à trajetória da Professora Aidyl de Carvalho Preis, mestra e guardiã da cultura fluminense e brasileira.
Aidyl de Carvalho Preis. Filha do tempo e da dedicação, Aidyl trilhou sua formação na antiga Faculdade Fluminense de Filosofia, instituição que mais tarde se tornaria a Universidade Federal Fluminense (UFF). Ali obteve os títulos de Bacharel e Licenciada em Geografia e História, dando início a um percurso acadêmico marcado pela firmeza do método e pela sensibilidade do olhar.
A inquietação própria dos grandes espíritos levou-a à Universidade de São Paulo, onde concluiu o doutorado em História Antiga e Medieval, revelando-se não apenas como pesquisadora, mas como guardiã da memória universal que atravessa séculos e civilizações.
Sua vida profissional começou nos quadros do Departamento de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro e, depois, no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários. Essa experiência administrativa se tornaria fundamental quando, já inserida na vida universitária, Aidyl assumiu responsabilidades que pediam firmeza e sensibilidade.
Na UFF, galgou posições que a transformaram em referência: foi Chefe do Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Pró-Reitora de Extensão e, sobretudo, Vice-Reitora, entre os anos de 1983 e 1987. Nesse período, tornou-se exemplo de liderança que une rigor acadêmico, espírito democrático e compromisso humano.
Acima de tudo, foi Professora Emérita do Departamento de História da UFF, título que simboliza o reconhecimento de seus pares e de seus alunos.
Aidyl de Carvalho Preis não se restringiu ao espaço da sala de aula. Sua visão era ampla: compreendia que o fortalecimento da docência dependia da união da categoria. Por isso, participou ativamente da fundação da Associação Nacional dos Professores de História (ANPUH), exercendo a presidência em 1978. Esse gesto de engajamento foi fundamental para consolidar uma rede nacional de docentes e pesquisadores que até hoje é protagonista no cenário acadêmico.
Niterói,
sua cidade do coração, reconheceu seu valor. Aidyl tornou-se membro do
Instituto Histórico e Geográfico de Niterói e da Academia Fluminense de Letras,
espaços de memória e cultura onde sua voz foi sempre respeitada.
Suas contribuições foram celebradas por inúmeras distinções: Ordem do Mérito Araribóia (no Grau de Comendadora), Medalha Cultural José Geraldo Bezerra de Menezes da Prefeitura Municipal de Niterói (1986), Medalha Tiradentes da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, entre outras. Títulos que não apenas honram sua carreira, mas simbolizam o reconhecimento da sociedade ao seu compromisso com a cultura, a educação e a cidadania.
Nem mesmo a aposentadoria significou afastamento. Aidyl manteve-se ativa na vida acadêmica e associativa, tendo sido Presidente da Associação dos Professores Inativos da UFF (ASPI/UFF). Sua dedicação foi coroada em 8 de dezembro de 2017, quando recebeu o título de Membro Benemérito, prova da perenidade de seu vínculo com a universidade.
A biografia da Professora Aidyl de Carvalho Preis é uma página viva da história fluminense e brasileira. Não é apenas uma sucessão de cargos e títulos embora sejam muitos e significativos, mas uma narrativa de amor à educação, de coragem intelectual e de compromisso com a memória coletiva. Seus alunos, colegas e admiradores sabem que o maior título que ela carrega não é aquele impresso em diplomas, mas o de mestra: a que abre horizontes, inspira, forma consciências e humaniza a ciência.
Hoje, ao celebrar sua vida, celebramos também a força da cultura, a importância da universidade pública, a resistência da memória.
Aidyl de Carvalho Preis é exemplo de que a História não é apenas um estudo do passado, mas também a construção luminosa do presente. Ela não apenas escreveu sobre tempos antigos e medievais, escreveu, sobretudo, a história de uma cidade, de uma universidade e de uma geração de estudantes que nela encontraram inspiração.
O Focus Portal Cultural, pela pena do jornalista Alberto Araújo, registra esta homenagem à Professora Aidyl de Carvalho Preis, reafirmando que nomes como o dela não pertencem apenas aos arquivos: pertencem ao coração cultural de Niterói e ao espírito da cultura brasileira.
©
Alberto Araújo
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