sexta-feira, 19 de setembro de 2025

DIANTE DO PALÁCIO DE BUCKINGHAM - CRÔNICA DE ALBERTO ARAÚJO

 

Há lugares no mundo que não são apenas edifícios de pedra e memória. Eles se erguem como símbolos, como espelhos de uma civilização que sonhou, construiu e permaneceu. Assim é o Palácio de Buckingham, em Londres. Ao contemplar esta imagem que encontrei numa página qualquer da imensidão digital, senti como se estivesse diante de uma janela aberta para o coração da monarquia britânica, mas também para a própria história da humanidade.

Ali está o palácio, imóvel, austero, como se o tempo o tivesse esculpido para atravessar séculos. Suas paredes claras guardam segredos de coroações, funerais, revoluções silenciosas e gestos cerimoniais que marcaram gerações. Diante dele, o jardim explode em cores. Vermelhos vivos, verdes intensos, violetas tímidos, como se a terra compensasse a rigidez da arquitetura com a festa da natureza. É um contraste poético: a solidez do poder e a fragilidade efêmera das flores. 

Acima, o céu pesado, cinzento, carregado de nuvens, parece querer tombar sobre Londres. Mas há, no alto do monumento à Rainha Vitória, uma figura dourada, que brilha como resistência ao tempo. Um anjo de luz em meio às trevas do clima londrino. Ele ergue as asas e, de repente, a fotografia não é apenas registro, mas metáfora: mesmo sob tempestades, sempre haverá um fulgor dourado a lembrar que a vida não se curva totalmente à sombra. 

O Palácio de Buckingham não é só residência oficial de reis e rainhas. Ele é uma tela viva de rituais que o mundo aprendeu a admirar, aplaudir ou até questionar. Quantos olhares já se detiveram na troca da guarda, naquele desfile milimetricamente calculado, onde o silêncio e o compasso militar dizem mais que discursos? Quantos turistas, vindos dos quatro cantos do planeta, pararam nesse mesmo ponto para fotografar, sorrir, suspirar diante de algo que, mesmo distante, já fazia parte de sua imaginação? 

Mas esta foto, com seus jardins e nuvens, me faz pensar em algo além da pompa. Ela fala sobre permanência. Enquanto tantas coisas desmoronam em nosso cotidiano, certezas, casas, amores, ali está o palácio, guardião de uma tradição que sobrevive ao tempo. É como se dissesse: “o mundo pode mudar, mas aqui a pedra se mantém, o ouro brilha, as flores renascem a cada primavera”. 

Contemplar Buckingham é também refletir sobre a dualidade humana. De um lado, o esplendor, a riqueza, o poder. Do outro, a simplicidade do gesto de quem caminha pelo gramado, o casal de turistas que se fotografa, a criança que corre atrás de pombos na praça. O palácio observa tudo, silencioso. Não julga, não comenta. Apenas testemunha. 

E nessa mistura de realeza e cotidiano, de eternidade e instante, de mármore e pétala, Londres se revela. É uma cidade que respira história, mas que se deixa atravessar pelo vento do presente. Uma cidade onde o peso da tradição convive com a liberdade das ruas, onde o cinza do céu nunca apaga a esperança das cores. 

Ao fechar os olhos depois de contemplar essa imagem, quase posso ouvir os passos ecoando nas largas avenidas que conduzem ao palácio. O murmúrio das multidões, o som das carruagens que um dia ali circularam, o canto distante do Big Ben marcando as horas. Londres pulsa em cada detalhe, e Buckingham, como um coração imóvel, distribui esse sangue simbólico para os quatro cantos do mundo. 

Esta fotografia não é apenas um registro de viagem. É um convite à reflexão. Diante do Palácio de Buckingham, compreendemos que a grandeza não se mede apenas em metros de pedra ou em coroas reluzentes. Ela também está na capacidade de resistir, de florescer em meio à tempestade, de lembrar que até mesmo os palácios, tão sólidos, precisam da leveza das flores para não se tornarem apenas ruínas do tempo. 

O impacto desta imagem está justamente nisso: em nos fazer perceber que cada construção humana, por mais grandiosa que seja, só alcança sentido quando dialoga com a beleza natural e com a simplicidade da vida que passa diante dela.

Buckingham não é apenas o palácio de uma família real. Ele é um palco silencioso onde a história, a natureza e o povo se encontram para continuar escrevendo juntos a eterna crônica da humanidade.

© Alberto Araújo 



Nenhum comentário:

Postar um comentário