terça-feira, 16 de setembro de 2025

O TEMPLO DA MEMÓRIA - PROSA POÉTICA DE ALBERTO ARAÚJO

"Há templos que não se erguem em pedras, mas em lembranças.

E permanecem intactos, mesmo quando o tempo passa."

Ergo dentro de mim um templo invisível. Sua cúpula é a Igreja de Santa Luzia, onde minha infância aprendeu a rezar com olhos de esperança. Ali, o sino tocava não apenas o ar - tocava minha alma. 

O altar desse templo se alonga até o Velho Monge, o rio Parnaíba. Suas águas pregam em silêncio sobre o tempo, sobre a travessia, sobre a coragem de seguir mesmo quando a correnteza arrasta. Ainda hoje, nos instantes de saudade, escuto seus sermões líquidos e serenos.

As colunas que sustentam esse templo não são de mármore. São as mangueiras da meninice. Gigantes gentis, ofereciam sombra generosa, raízes firmes e frutos doces que eram, ao mesmo tempo, alimento e milagre. De suas copas, pendiam tardes inteiras de brincadeiras e risos que nunca se apagaram. 

Esse templo não se encontra em mapas. Não ruirá em ruínas. Não precisa de turistas nem de câmeras. Ele se ergue inteiro no coração. 

Porque quem carrega dentro de si a fé em Santa Luzia, a voz do rio Parnaíba e a sombra das mangueiras da infância, traz no peito uma eternidade.

E a eternidade não se mede em séculos. Mede-se em memórias que permanecem de pé, como um templo que jamais se desfaz. 

© Alberto Araújo









 

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