Entre as muitas palavras que Clarice Lispector escreveu em sua juventude, uma se impõe como uma revelação do abismo humano: “Tenho medo de viver e de morrer. Por isso agarro-me a instantes.” Não é apenas uma confissão íntima, mas uma sentença que atravessa o tempo. Clarice, tão jovem ainda, já sabia que a vida inteira se resume a essa corda bamba entre o sopro e o silêncio.
A frase ecoa como se fosse um espelho: quem não carrega em si esse temor duplo, da vida e da morte? O medo de se lançar na correnteza do mundo e, ao mesmo tempo, o medo de não ter mais correnteza nenhuma. Clarice, porém, não se deixa paralisar. Ela encontra nos instantes a salvação. Agarra-se ao breve, ao mínimo, ao que escapa dos relógios.
Nessa escolha está seu gênio: não esperar pela eternidade, mas extrair do efêmero a centelha que nos mantém vivos. É o olhar para o instante como se fosse um milagre, a consciência de que o agora é tudo o que temos, e talvez tudo o que somos.
Por isso, sua frase não é apenas literatura, mas um ensinamento. Ensina-nos a acolher o instante como abrigo e resposta. Ensina-nos a aceitar o medo, sem deixar que ele nos devore. E ensina, sobretudo, que a vida, em sua maior profundidade, não se mede em anos, mas em instantes que ousamos segurar com as duas mãos.
No fim, Clarice nos lembra de que somos todos passageiros: frágeis, inquietos, mas capazes de transformar cada instante em eternidade.
© Alberto
Araújo
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