01 de setembro. Hoje ao entardecer, em meio ao fluir de postagens no Facebook, deparei-me com uma imagem que não era apenas fotografia, mas memória e poesia. Publicada por Maurício Ferraz, assinada pela lente aérea de Paulo Lima, ela revelava um gigante adormecido: o Casarão da Condessa Marcondes Ferraz, em Niterói, guardado dentro do Estaleiro Mauá.
Ali, entre o verde cerrado da mata e o brilho do mar que já o contemplou em dias de glória, o casarão ergue-se como um guardião cansado, mas altivo. Ao lado, as suas torres góticas, que lembram pequenos castelos, parecem ainda segredar histórias de bailes, visitas ilustres e passos elegantes que ecoaram por suas escadarias. Cada pedra carrega a memória de uma época em que a nobreza e o sonho caminhavam lado a lado.
Hoje, no entanto, é o tempo quem habita o casarão. O tempo, com sua paciência implacável, cobre as paredes de musgo, abre frestas nas janelas e pinta o telhado com marcas de ferrugem e ausência. Mas, paradoxalmente, é esse mesmo tempo que lhe concede beleza. Há algo de poético na ruína, como se ela guardasse em sua fragilidade uma verdade maior que o esplendor de outrora.
A fotografia não apenas registra: ela convoca. Convoca-nos a olhar para o passado e reconhecer que ele ainda pulsa, mesmo que em silêncio. O Casarão da Condessa é mais que pedra e cal, é testemunho. Testemunho de uma cidade que respira história, de famílias que ali deixaram rastros, de trabalhadores que construíram com suor os alicerces de um sonho aristocrático.
Ao contemplar essa imagem, percebo que o Casarão da Condessa não é apenas uma construção esquecida, mas um símbolo vivo da memória de Niterói. Entre musgos e rachaduras, entre silêncio e eternidade, ele nos recorda que as ruínas também falam, também ensinam, também brilham. E que, às vezes, basta um olhar atento, ou o voo de um drone ao entardecer, para que a história volte a nos tocar com sua força inquebrantável.
© Alberto Araújo
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