A
edição de hoje do Focus Portal Cultural dedica-se a celebrar a memória de Maria
Jacintha Lopes Trovão da Costa Campos nasceu em Cantagalo no Rio de Janeiro, 27
de setembro de 1906 e faleceu aos 88 anos em Niterói no Rio de Janeiro, no dia
20 de dezembro de 1994, figura ímpar da dramaturgia e da crítica teatral
brasileira.
O
motivo imediato é a belíssima homenagem prestada pela escritora e acadêmica
Liane Arêas na coletânea Mulheres Extraordinárias – O resgate histórico do
legado, pela palavra escrita, volume 4, organizada pela presidente da Rede Sem
Fronteiras, Dyandreia Portugal, e coordenada pela vice-presidente, Ana Maria
Tourinho.
As
páginas de Liane Arêas, numeradas de 348 a 452, trazem o registro vivo dessa
trajetória. A nós, do Focus, cabe expressar gratidão pela deferência de ver
nosso nome citado nas referências bibliográficas, em reconhecimento a uma de
nossas publicações dedicadas à teatróloga.
Maria
Jacintha foi ensaísta, tradutora, crítica, diretora teatral e autora de obras
que marcaram a cena cultural brasileira. Sua primeira peça, O Gosto da Vida,
estreou em 1938, montada pela Companhia Jaime Costa, rendendo-lhe em 1939 o
Prêmio de Teatro da Academia Brasileira de Letras. Entre suas criações
destacam-se Conflito, Já é Manhã no Mar e Convite à Vida, encenadas por nomes
como Dulcina de Moraes, Ribeiro Fortes e Jardel Filho.
De
espírito pacifista e olhar atento às questões sociais, Jacintha fez de sua
dramaturgia um espaço de reflexão sobre a mulher, a guerra e a modernidade. Sua
obra transita entre dois momentos: o primeiro, entre 1937 e 1947, marcado por
peças de estreia e consolidação; e o segundo, a partir de 1968, com textos como
Um Não Sei Quê Que Nasce Não Sei Onde e Intermezzo da Imortal Esperança, de
forte crítica social.
Além
de escrever, traduziu grandes autores, entre eles Sartre, Simone de Beauvoir,
Tchekhov, Jean Anouilh, Paul Claudel e Albert Camus — e foi uma das
responsáveis por atualizar o repertório do Teatro do Estudante do Brasil (TEB).
Como educadora, lecionou no Conservatório Brasileiro de Teatro, incentivando
gerações de artistas e sendo reconhecida como mentora de talentos como Nicette
Bruno e Fernanda Montenegro.
Sua
trajetória foi permeada por coragem, reconhecida em vida, foi homenageada no
Teatro Municipal de Niterói, onde recebeu tributos de artistas e estudiosos.
Sobre
sua escrita, Mário de Andrade destacou a imparcialidade rigorosa com que
permitia às personagens exporem seus pontos de vista. Seu legado foi estudado
academicamente e, em 2008, a Prefeitura de Niterói lançou o livro Teatro de
Maria Jacintha, organizado por Marise Rodrigues, reafirmando a importância de
sua obra.
Com
sensibilidade e rigor histórico, Liane Arêas resgata em Uma Intelectual em Cena
a atuação múltipla de Maria Jacintha: suas colaborações em periódicos como
Flama, Revista Francesa do Brasil, O Jornal, A Pátria, O Globo e O Fluminense;
a criação, em parceria com Sylvia de Leon Chalreo, da Revista Esfera de Letras,
Artes e Ciências (1938-1950); e sua permanente dedicação ao magistério e ao jornalismo
cultural, sempre em diálogo com o teatro e as letras.
Mais
tarde, sua obra Um Não Sei Quê Que Nasce Não Sei Onde trouxe um olhar crítico e
mordaz sobre a “burrice universal”, rendendo-lhe reconhecimento por sua ousadia
e originalidade, além de prestar homenagem a Camões. Críticos como Genolino
Amado destacaram em sua produção “a qualidade literária e a alerteza diante das
questões políticas do momento”.
No
campo pessoal e institucional, Maria Jacintha deixou sementes fecundas:
incentivou artistas, formou plateias e teve sua memória perpetuada no Espaço
Cultural Maria Jacintha (1996), dirigido por sua afilhada.
O
texto Uma Intelectual em Cena reafirma a dimensão de Maria Jacintha como muito
mais que dramaturga: uma mulher de ideias firmes, voz crítica e sensibilidade
social, que transformou o teatro em trincheira cultural. Sua trajetória, hoje
resgatada nas páginas de Mulheres Extraordinárias, é exemplo vivo de
resistência, arte e inteligência feminina que segue iluminando a história.
Para
o Focus Portal Cultural, é motivo de honra constar nas referências
bibliográficas do ensaio de Liane Arêas, que reconhece nossa dedicação em
preservar e divulgar o legado — a chama de uma mulher verdadeiramente
extraordinária.
© Alberto Araújo
Focus Portal Cultural
Gilda Uzeda disse: Parabéns à querida amiga Liane
Arêas, de que, com seu texto sobre Maria Jacintha, nos traz valiosa
contribuição na área cultural. E a você, Alberto, por seus escritos que dão a
oportunidade de termos acesso a tão significativas e valiosas informações
culturais. Abraço, Gilda
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